Sistema financeiro com juro exorbitante trava economia, afirma Dowbor

Não é difícil entender que algo está errado quando se compara os juros praticados no Brasil, em relação a outros países. Ao comprar uma televisão por aqui, no crediário, ao custo de R$ 694, por exemplo, o consumidor pagará o total de R$ 1.4 mil ao final de 12 meses. São mais de 100% de juros ao ano. Na Europa, o televisor vendido por R$ 600 sai por R$ 690 no mesmo período de crediário, com juros de 15% ao ano.

São com exemplos assim, cotidianos, que o professor de economia Ladislau Dowbor, da PUC-SP, falou sobre juros no Brasil, ao participar do Seminário Nacional de Estratégia para o Ramo Financeiro, organizado pela Contraf-CUT, em São Paulo.

“Quando termina o crediário a pessoa está muito endividada, a economia fica travada pelo consumo. A demanda enfraquece, ao mesmo tempo que grandes lojas e financeiras ganham muito, com lucros fenomenais,” explica.

ALTOS LUCROS

Ladislau Dowbor trouxe para o seminário estudos mundiais sobre o comportamento do setor financeiro. Usou como exemplo o Santander, que teve seu lucro mundial puxado pelo Brasil. Do resultado global de 1,72 bilhão de euros (US$ 1,87 bilhão) no primeiro trimestre de 2015, o Brasil foi o país que mais contribuiu, com 21% do montante, deixando para trás o Reino Unido, com 20%, e a Espanha, com 15%.

“Os juros, no rotativo do cartão de crédito do Santander, cobrados aqui, chegam a 633% ao ano. Nos Estados Unidos o banco cobra 16%. A média de empréstimo pessoal está na faixa de 110% aqui. Na Europa, 10% ao ano.” Dados, que, para Dowbor, são importantes instrumentos de luta para categoria bancária.

SISTEMA FINANCEIRO SE ALIMENTA DE RECURSOS SOCIAIS

O professor também ressaltou o aumento da selic nos últimos períodos, hoje em 13,25%. O sistema financeiro brasileiro, conforme Dawbor, se privilegia de juros altos e alimenta-se dos recursos que poderiam ser utilizados em políticas públicas.

O Brasil tem um PIB de R$ 5 trilhões e um superávit primário fixado em 4% do PIB, dos quais, cerca de R$ 200 bilhões dos impostos são transferidos essencialmente para os grupos financeiros a cada ano, lembrou o economista.

“O sistema financeiro chupa este dinheiro e trava a expansão da economia e de políticas públicas. Com isso se esteriliza parte muito significativa da capacidade do governo de financiar mais infraestrutura e políticas sociais. Além disso, a selic elevada desestimula o investimento produtivo nas empresas, é muito mais fácil ganhar com títulos da dívida pública”, avaliou.

JUROS ALTOS NÃO COBATEM INFLAÇÃO

Dowbor fez duras críticas aos economistas que propagam os juros altos como remédio para inflação no Brasil. “Eles têm espaço nos jornais, mas são economistas que trabalham para grandes bancos e grandes empresas. Então, que representatividade é essa?” indagou.

Para o professor, a inflação no Brasil é um problema político. “Na Europa está praticamente zero, com juros baixos, de 0, 5% ao ano. No Brasil, ficam apavorados com uma inflação de 7% ao ano, quando, no passado, já chegamos a 80%. Esse comportamento e essas declarações influenciam os comerciantes. Vendo isso, eles sobem os preços imediatamente e o trabalhador é prejudicado”, disse Dawbor. Ele definiu esse processo como “inflação construída”.

“DINHEIRO GERA DINHEIRO”

O professor da USP lembrou um ditado grego “dinheiro gera dinheiro” para explicar como grandes grupos financeiros dominam a economia global e influenciam na condução econômica de diversos países.

“São 147 grupos que controlam a economia no mundo. Destes, 75% são instituições financeiras. Estão conectados, formam uma rede. Controlam o sangue da economia mundial. Mas, como são muito estressados vão jogar golfe em Genebra”, ironizou Dowbor.

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