Itaú dá pouco valor à vida

Em reunião com os dirigentes sindicais do Itaú no estado do Rio de Janeiro, o novo diretor de Relações Sindicais, José Roberto Gomes revelou pontos preocupantes da política do banco em relação aos seus funcionários. Um dos temas mais espinhosos da reunião, a segurança bancária, é tratado com descaso pela empresa.

Indagado sobre a inexistência de portas de segurança em muitas agências, o executivo informou que há agências onde não há condições técnicas de instalação dos dispositivo. Ele citou um caso de unidade que funcionava num espaço que era, originalmente, uma garagem. Em outras, o problema é econômico. “Em agências pequenas, a porta de segurança não se paga”, afirmou José Roberto. O executivo afirmou, ainda, que não acredita na eficiência das portas giratórias para impedir os assaltos. “O crime mudou, os assaltos a agências não são mais tão comuns”, argumentou.

Os dirigentes sindicais ficaram revoltados com esta declaração. “E o valor da vida dos bancários e dos clientes, como fica?”, indagou Waldemiro Silva, do sindicato de Niterói. “Ora, se o local é inadequado, o banco tem que procurar outro”, defendeu Vitor Renato, presidente do Seeb-Campos. A entidade enfrentou um problema deste tipo há algum tempo num município da base, mas a ação sindical forçou a empresa a tomar uma atitude definitiva: “O banco mantinha um PAB na sede da prefeitura, que ficava num prédio tombado onde não era permitido nem colocar um prego na parede. Nosso sindicato pressionou e o posto foi fechado e reaberto num outro lugar, com melhores condições de segurança”, relatou o dirigente.

A questão da segurança tem preocupado os dirigentes, em função, principalmente, do aumento do número de seqüestros de bancários. “Hoje, discutir segurança bancária é mais importante que discutir aumento salarial”, avalia Jorge Antonio, presidente do Seeb-Niterói, região que tem enfrentado muitos seqüestros, assaltos, saidinhas e roubos de caixas eletrônicos desde o ano passado.

Cresce, mas não contrata

Outra queixa recorrente dos sindicalistas foi em relação à escassez de funcionários. Representantes de todos os sindicatos presentes relataram a ocorrência do problema em suas bases. Mas o executivo de Relações Sindicais afirmou que o banco vem contratando mais do que demitindo. “Ano passado, houve cerca de 150 demissões no estado, mas quase 400 novos bancários foram contratados”, destacou José Roberto. Mesmo assim, a situação nas agências é de sobrecarga de trabalho, extrapolação de jornada e grandes filas.

Quanto à política do banco – e de todo o sistema financeiro – de tirar o cliente da agência, estimulando o uso de caixas eletrônicos e transações por telefone e Internet, o executivo argumentou que optar por estas formas de realizar operações bancárias pode ser mais seguro para o público. “Se um cliente precisa pagar uma fatura de cartão de crédito, por exemplo, de R$ 500, é muito menos arriscado pagar no caixa eletrônico, com o cartão, do que enfrentar a fila com o dinheiro na mão”, entende o executivo.

Enquadramento de financiários

A situação dos funcionários da financeira Taií, que são enquadrados como promotores de vendas, foi outro ponto questionado pelos dirigentes. Embora sejam trabalhadores do sistema financeiro, estes empregados não são bancários nem financiários. Mas o executivo exalta o papel social que o banco exerce dando emprego a rapazes e moças que não têm nenhuma qualificação. “Esses jovens têm poucas condições de entrar no mercado formal de trabalho. As duas únicas exigências que fazemos no momento da contratação são: saber falar e saber sorrir”, relatou José Roberto. O Relações Sindicais também destacou que o grupo Itaú investe muito em pessoas e que o gasto com treinamento dos funcionários da financeira é hoje maior que o que é feito com os empregados do banco.

José Roberto também afirmou que, hoje, o banco costuma contratar prioritariamente ex-funcionários da Taií. “Eles são bons profissionais e é uma política do grupo aproveitá-los no banco, oferecendo uma opção de carreira interessante a estes jovens que não tinham muitas perspectivas”, relata o executivo. Segundo ele, após 18 meses trabalhando na financeira, o promotor de vendas é encaminhado para o banco.

Mas o presidente do Sindicato de Teresópolis, Cláudio Mello, informou que a rotatividade na financeira é muito alta. “Lá, os funcionários da Taií não chegam a completar um ano de empresa. Com 11 meses de carteira assinada, são demitidos”, relata Cláudio. O dirigente lembrou o caso de um ex-funcionário da Taií no Rio de Janeiro que foi admitido pelo banco na cidade serrana, o que obrigava o trabalhador a uma viagem de cerca de três horas para chegar ao trabalho. Assediado pela gerente da agência, mesmo tendo passado no teste da Anbid que lhe foi exigido ainda no período do Contrato de Experiência, o trabalhador acabou demitido (saiba mais sobre o caso na matéria do UNIDADE de 17/12/2007.).

O banco vê na reivindicação de enquadramento dos promotores da Taií um risco de fechar as oportunidades de trabalho para jovens sem qualificação e dá uma justificativa absurda: a financeira não dá lucro. “O ticket médio é baixo e há muita inadimplência, porque a Taií atende principalmente às classes mais baixas”, argumenta José Roberto. Segundo o executivo, não há como pagar salários e direitos de financiários ou de bancários a estes trabalhadores, porque a empresa não teria como arcar com a despesa. “E ainda oferecemos gratuitamente ao funcionário e aos dependentes um plano de saúde muito bom, mais o ticket refeição”, ressaltou o executivo. José Roberto também destaca que alterar o perfil do funcionário da empresa pode desempregar cerca de sete mil pessoas e extinguir a oportunidade de emprego de jovens que têm pouco preparo para o mercado de trabalho.

A culpa não é do banco

Romualdo Garbos, superintendente de RH do Itaú, também veio de São Paulo para participar da reunião. Ele afirmou que o banco não tem como política estimular a prática de assédio moral por parte dos gestores e que o que pode acontecer é um gerente tomar atitudes individuais que sejam classificadas como assédio. “O problema não são as metas, que vocês consideram abusivas, mas a forma de cobrá-las”, declarou o superintendente. Ele afirmou que o banco distribuiu a todos os seus gestores uma cartilha informativa sobre o assédio moral e que a empresa condena esta prática.

“O procedimento do banco quando recebe uma denúncia é apurar, ouvir o acusado e, se for comprovado o assédio, exigir que este gerente se enquadre no padrão de comportamento que o banco determina”, informou Romualdo.

Outro problema que os executivos dizem que são pontuais é o das demissões perversas. “Já ouvimos casos de funcionários que foram demitidos por telegrama, ou no dia 23 de dezembro, ou ao retornarem de férias. O banco não concorda com isso. Os gestores dão a entender que estão cumprindo ordens, mas isso não é verdade”, informou José Roberto. Ele, que foi um dos mentores da Comissão de Conciliação Voluntária no banco, disse que a experiência permitiu ao Itaú ouvir os bancários e, desta forma, tomar conhecimento de procedimentos de gerentes que são contrários à política da empresa.

Pauta extensa e agenda

Além destes assuntos, foram discutidos problemas relativos a saúde, condições de trabalho e ergonomia, bancários pressionados a desistirem de processos contra o banco, funcionários trabalhando em municípios vizinhos quando há agências em suas cidades, entre outros temas. Os problemas que podem ser resolvidos regionalmente ficaram a cargo do executivo de RH do Itaú no estado, Brunno Cavalcante, também presente à reunião.

Ficou acordado que serão retomadas as reuniões mensais com os representantes do banco para tratar dos problemas específicos de cada sindicato. O próximo encontro deverá acontecer entre 26 de junho e 02 de julho, na Federação.

Estiveram presentes ao encontro representantes dos sindicatos de Angra dos Reis, Baixada Fluminense, Campos, Itaperuna, Macaé, Niterói, Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis.

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