Banco Central tenta justificar pol¡tica de juros

(São Paulo) O Banco Central divulgou, nesta sexta-feira, 4, informativo sobre a fórmula de tomada de decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado formado pela diretoria e pelo presidente da instituição. O grupo define as metas para a taxa Selic, taxa básica de juros para toda a economia. Atualmente em 12,5% e em queda desde setembro de 2005, a conduta do BC é criticada por toda a sociedade, de empresários do setor produtivo ao movimento sindical.

 

Em meio a pressões, a explicação soa como tentativa de prestação de contas, mas avança pouco. As especulações a respeito dos rumos da política de juros do BC aumentaram depois da última reunião, em 26 de abril, quando três dos sete diretores com direito a voto no Copom defenderam corte de 0,5 ponto percentual na taxa, diante da influência da valorização do real frente ao dólar, que barateia produtos importados e reduz a inflação. A divisão seria, para analistas, um sinal de que o Comitê estaria disposto a acelerar os cortes nas próximas reuniões.

 

Explicação

Como em entrevistas anteriores do presidente do BC, Henrique Meirelles, e de outros membros da equipe econômica, o informativo sustenta que o sistema de metas de inflação, implantado em 1999, é o que baliza as decisões. A taxa de juros é a ferramenta para se alcançar as metas, na medida em que servem para conter a demanda da população por produtos e serviços.

 

“O Banco Central está tentando justificar suas decisões, dizendo que são técnicas, mas esquece de dizer que está ‘errando na mão’. O que se viu no Brasil nos últimos anos foi a taxa de inflação abaixo da meta, crescimento abaixo das necessidades do país e lucros exorbitantes para o setor financeiro, por acaso onde o atual presidente do BC sempre trabalhou”, afirma Vagner Freitas, presidente da Contraf-CUT. Em 2006, o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), o índice oficial ficou em 3,14%, diante da meta de 4,5%.

 

A “explicação” tentada pela direção do BC é que "por mais informativos que sejam, modelos serão sempre uma aproximação da complexa realidade macroeconômica”, e que todos os “instrumentos de análise utilizados pelo Comitê” são “combinados com o julgamento dos membros do Copom". A "avaliação qualitativa" permite incluir elementos não percebidos pelos números. Segundo o BC, o modelo é o mesmo dos “bancos centrais modernos”, com análise quantitativa e qualitativa para estabelecer cenários sobre a trajetória futura da inflação.

 

Para Vagner, essas explicações são insuficientes e falta transparência nas decisões. Ele cita a edição de 28 de março deste ano da revista CartaCapital, que trouxe reportagem revelando a existência de reuniões de acesso restrito a economistas do mercado –  quer dizer, de bancos e corretoras de investimento – com diretores do BC. Em 2004, grandes jornais como Valor Econômico e O Estado de S.Paulo divulgaram informação semelhante, com referência ao um grupo de economistas ouvidos pela autoridade monetária – à época chamado de “Grupo de Fátima”, em alusão ao terceiro segredo de Nossa Senhora de Fátima, já que os encontros não constavam na agenda de compromissos oficiais dos diretores.

 

Outro exemplo de falta de transparência é que os votos no Copom não são divulgados, mas apenas o resultado final, com explicações vagas. O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, adota a prática. Além disso, como a Selic é tão importante para o país, os argumentos e índices utilizados na discussão para a tomada de decisão precisaram ser públicos e amplamente divulgados.

 

“Há algum tempo pedimos a saída de Henrique Meirelles. Mas, mais importante do que a troca de nomes, seriam mudanças que garantissem uma política de juros responsável sim, mas de acordo com a necessidade de crescimento econômico do país”, sustenta Vagner.

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