ARTIGO: Há que se educar as pessoas

Por William Mendes*

A falta de educação segue sendo um dos maiores problemas e atrasos do Brasil. Não estou falando daquelas bobagens de falta de etiqueta ou outras frescuras inventadas pela auto-intitulada nobreza. Falo da falta de educação enquanto conhecimento. Falo de educação enquanto instrumento libertador. Aliás, justamente por isso é que se nega ao povo a boa educação.

Sem acesso à educação, que é um direito e não um produto, fica mais fácil o trabalho de alienação dos corações e mentes de nossos quase-cidadãos.

Observando algumas reações das pessoas diante de eventos cotidianos é que percebemos o quão longe estamos de alcançar um melhor nível de educação e de desalienação de nossos concidadãos.

Cito aqui alguns casos pós-votação e fim da cobrança da CPMF, notório caso de derrota recente do governo do Partido dos Trabalhadores.

Os partidos de oposição conseguiram eliminar uma contribuição que gerava uma receita de 40 bilhões de reais, praticamente toda ela utilizada para os programas sociais do governo Lula, e que, além disso, fazia com que sonegadores pagassem alguma coisa ao longo do ano para os cofres públicos. Lembro aqui que o País é dirigido hoje pelo PT assim como o foi por 8 anos – caóticos, por sinal – pela oposição (o partido tem um programa diferente do programa do PSDB e DEM).

A parte que mais me chama a atenção é o “efeito manada” das versões levadas ao ar e o papel exercido pela grande mídia e que, de certa forma, por mais que a “opinião pública” não seja mais a “opinião publicada” pelas 10 famílias que dominam a comunicação no Brasil, acabam alimentando o diz-que-diz do povão (só como exemplo vejam os números na mídia de rádiodifusão: no Brasil, seis grupos controlam 667 estações de rádio e televisão, conforme matéria da Revista Fórum n.57 de dez/07)

Meu velho pai é um bom exemplo desse “efeito manada” provocado pela deturpação da grande mídia. Eu não o culpo, pois ele é um sujeito até muito brioso e vai sempre atrás de seus direitos: disse-me que adorou a votação que pôs fim à “famigerada” cobrança da CPMF. Fiquei puto da vida e perguntei se ele sabia o que estava falando. Antes que me respondesse, contextualizei onde ele estava situado na pirâmide social para falar uma bobagem daquela.

Meu pai é um senhor de 65 anos de idade, com muitos problemas de saúde, cuja única fonte de renda até quatro meses atrás era o bolsa família dos dois netos – de 13 e 12 anos – que estão sob sua tutela e que chegava perto de R$ 80, sendo que as crianças têm que comprovar presença e nota na escola para manterem o direito.

Agora que completou a idade para requerer o seu direito de aposentadoria por idade de um salário mínimo, sua vida se tornou um pouquinho mais digna pois não precisa do auxílio dos parentes até para o básico como o pagamento de água e luz e comida.

Expliquei que, como ele, existem milhões de pessoas no Brasil e que, provavelmente, ele pagasse cerca de R$0,30 ou R$0,40 por mês de CPMF. Por outro lado, o Governo Federal tem a obrigação de lhe pagar a previdência social (por idade e garantido pela Constituição), o atendimento à sua saúde e de esposa e netos, bem como fornecer boa parte dos remédios que precisam. Além disso, o Governo tem programas como o Fome Zero, que nos últimos cinco anos alterou definitivamente a vida de milhões de brasileiros que, inclusive já saíram do programa, por mudarem de escala social e auferirem hoje renda familiar maior do que antes de participarem do programa do governo (por favor, olhem os números da diminuição da pobreza nos últimos cinco anos, pois é difícil esconder).

Então eu pergunto: qual o sentido de pessoas simples como o meu pai comemorarem o fim da “famigerada” CPMF?

Querem ver outro exemplo muito triste para nós que somos progressistas e defendemos a coisa pública e que sofreu um revés importante após a derrota do governo com o fim da CPMF?

Nos últimos cinco anos, o governo do PT revigorou a máquina pública, ou seja, via concurso público, tem equipado o Estado Brasileiro para poder atuar enquanto tal (dizer que o Estado está aparelhado por nomeações pelo PT é uma bobagem. Olhem os números do governo do PSDB e DEM de 1995 a 2002 – se acharem, pois estão muito bem esquecidos).

Os principais órgãos federais têm hoje capacidade de atuar, pois, receberam investimentos e verbas para imobilizados e mão-de-obra qualificada (troca de terceirizados por concursados e incremento no número de servidores). É só olhar os números da Polícia Federal, Ministério Público, aumento no número de fiscais e auditores nos mais diversos órgãos que combatem a corrupção no Estado Brasileiro.

Sabem quem ganha também com o Estado Nacional sendo recuperado para exercer o seu papel via concursos públicos, além do povo mais necessitado? A classe média e seus filhos, pois são esses que acabam por entrar nas carreiras oferecidas pelos órgãos públicos.

Após o rombo de 40 bilhões nas receitas do Estado Nacional, grande parte dos concursos para provimentos de cargos foi suspensa.

É engraçado. A comemoração da oposição e seus agregados como a grande mídia e os empresários (todos defensores do Estado Mínimo que só lhes garanta segurança e propriedade) não condiz com a tristeza e decepção de seus filhos que estavam investindo em cursos de preparação para as carreiras públicas. É uma pena, pois muita gente simples, com dedicação e afinco acaba entrando na carreira e mudando suas vidas para melhor.

Poderia citar uma boa quantidade de exemplos sobre grupos que “vão na onda” da direita e da grande mídia e, muitas vezes, não enxergam o que estão comemorando ou aplaudindo:

-grupos da classe média como bancários – que represento – que defendem que o Governo Federal deve dar calote na dívida pública e não se lembram que eles, como aplicadores e beneficiários de fundos de pensão, fazem parte daqueles que auferem renda com o pagamento da mesma dívida pública;

-pessoas de baixa renda ou nenhuma renda que defendem que a polícia deve “arrepiar sem dó” ao estilo tropa de elite os marginais (não se lembram que o conceito de marginal é tão volúvel, pois quando entram numa favela atirando e matando gente inocente todo mundo é qualificado de bandido e vagabundo);

-o que dizer então dos cocódromos que viraram as nossas calçadas – banheiro dos cachorrinhos de madames e ‘madamos’ que, ao mesmo tempo em que arrotam fineza, nunca descem com um saquinho para recolher as fezes de seus animais. Ai de nós das cidades grandes que não conseguimos atravessar 50 metros de calçada sem melecar os sapatos.

Há que se educar as pessoas. Para isso é preciso ensiná-las a ler e interpretar. Ler nas entrelinhas. Ensinar que a sociedade foi, está e sempre estará dividida em classes e que todos falam de algum lugar e estão defendendo interesses. Todos. Patrões e empregados. Políticos e seus partidos. As igrejas. Os amigos e os adversários. Os colegas. Os familiares. As autoridades como juízes e seus grupos. Os “técnicos” como advogados, professores, os doutores etc.

Há que se educar as pessoas.

William Mendes é secretário de Imprensa da Contraf-CUT e funcionário do Banco do Brasil

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