Valor Econômico: crise ajuda Caixa a ganhar espaço no consignado

Valor Econômico
Alex Ribeiro, de Brasília

A Caixa Econômica Federal está aproveitando as dificuldades enfrentadas por outros bancos para avançar no mercado de crédito consignado. O banco federal está fechando parcerias com correspondentes que antes trabalhavam com bancos pequenos e médios e planeja aumentar de 11% para 13% a sua fatia de mercado no crédito consignado. O orçamento da Caixa de 2009 prevê a contratação de R$ 10 bilhões em empréstimos com desconto em folha de pagamento, o que representa expansão de 25% em relação aos R$ 8 bilhões estimados para este ano.

A carteira de crédito gerada dentro da Caixa, sem considerar as aquisições de carteiras de terceiros, subiria de R$ 8 bilhões para R$ 9,8 bilhões entre 2008 e 2009, o que representaria expansão de 22,5%. A Caixa prevê que o mercado como um todo cresça só 3,5%.

Segmento que liderou a expansão de crédito a partir de 2004, os empréstimos consignados começaram a perder força a partir do início deste ano devido a dificuldades de bancos pequenos e médios para captar recursos. Mais recentemente, grandes bancos também recuaram, reduzindo os prazos das operações e aumentando as taxas de juros. As captações da Caixa estão sendo favorecidas pela crise, já que depositantes procuram a segurança do banco público. As captações em CDBs, que estavam na média de R$ 100 milhões por mês, saltaram para R$ 397 milhões em setembro e R$ 926 bilhões em outubro, apesar de a Caixa ter como política de varejo oferecer remuneração equivalente a 97,5% do CDI. Alguns bancos grandes pagam mais de 100% do CDI.

A Caixa decidiu que, para ganhar mercado, não vai cortar prazos nem aumentar juros. No caso dos empréstimos com desconto em folha do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), por exemplo, o prazo máximo continua em 60 meses, com juros entre 0,92% e 2,35% ao mês. Nas demais linhas de empréstimos, os prazos chegam a 92 meses para alguns nichos, como o Judiciário. De forma geral, as taxas seguem entre 1,65% e 2,35% ao mês, com percentuais mais baixos para alguns nichos.

A crise criou oportunidades para a Caixa ampliar sua rede. Uma das novidades é a contratação de grandes correspondentes bancários, que têm redes de lojas e equipes de agentes de crédito para a venda de empréstimos consignados. “Estamos sendo procurados por correspondentes que antes trabalhavam para outros bancos”, afirma o vice-presidente de pessoa física da Caixa, Fábio Lenza. Até a crise, os bancos pequenos e médios mantinham controle sobre os correspondentes porque ofereciam remuneração mais atrativa.

Os correspondentes recebem comissão sobre cada operação contratada. Os grandes bancos não tinham como competir porque, além de arcar com os custos variáveis representados pelas comissões, têm que cobrir também custos fixos, como rede de agências, terminais e funcionários. Os pequenos trabalham só com custos variáveis. “Os valores das comissões caíram e chegaram aos patamares que podemos pagar”, explica Lenza. A Caixa também definiu como prioritário o crescimento do consignado para o setor privado. Apenas 10% do crédito consignado da Caixa é com trabalhadores privados, abaixo dos 14% do mercado bancário como um todo. Uma das razões desse baixo percentual na Caixa é o fato de a instituição ter relativamente poucas empresas de grande porte como cliente. Hoje, 14 mil empresas são clientes da Caixa e 1,5 milhão de trabalhadores recebem salário pelo banco, numa média de 107 empregados por empresa.

A Caixa já vinha crescendo no mercado corporativo, mas a crise deu nova sacudida no segmento. “Estamos sendo procurados por grandes empresas que tiveram o crédito cortado em outros bancos”, disse. Além disso, uma das medidas provisórias editadas pelo governo para enfrentar a crise, a MP 443, permite que a Caixa abra subsidiárias para atuar em áreas em que antes não atuava – estão nos planos criar um banco de investimento e operar em leasing e em financiamento de veículos.

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