Sindicatos: recomposi‡Æo mundial

Por Michel Noblecourt/Le Monde [1/11/2006]

 

A globalização do sindicalismo fez seu "big bang" em Viena. O evento que ocorre em 1º de novembro na capital austríaca é inédito. O sindicalismo internacional reuniu um congresso que constitui a maior reunião sindical de todos os tempos. Mais de 330 organizações, vindas de todos os continentes e representando 167 milhões de filiados, criaram a Confederação Sindical Internacional (CSI). Como o enfraquecimento do sindicalismo é geral — a taxa de sindicalização mundial gira em torno de 10% –, o objetivo é recuperar força e visibilidade com uma entidade internacional que lhes permita falar de igual para igual com as multinacionais e as organizações internacionais de "regulação".

No momento em que as organizações não-governamentais (ONG) tentam se fazer ouvidas no contexto internacional, notadamente diante do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio (OMC), é hora de "fazer do sindicalismo a primeira ONG do planeta", segundo a fórmula de Emilio Gabaglio, sindicalista italiano que trabalhou ativamente na realização do projeto desde que deixou a secretaria-geral da Confederação Européia de Sindicatos (CES). Viena será assim o ponto de partida de um longo processo de reconstrução de um sindicalismo internacional que, desde a origem, foi agitada, quando não pega de surpresa, pelos sobressaltos e crises do mundo.


Na euforia da Libertação, no pós-Segunda Guerra Mundial, o sindicalismo internacional tentou se unificar. Em 1945, os países aliados — Estados Unidos, URSS, Grã-Bretanha e França — tentaram transpor, no plano sindical, os princípios da Carta das Nações Unidas. Um congresso mundial foi convocado de 6 a 17 de fevereiro daquele ano, em Londres. Os sindicatos britânicos, americanos, soviéticos e franceses criaram a Federação Sindical Mundial (FSM), que reuniu 53 confederações, representando 60 milhões de filiados. A festa foi prejudicada logo com a recusa da Confederação Internacional dos Sindicatos Cristãos (CISC), nascida em 1920, em Haia, de se fundir na então nova FSM.

 
Muito rapidamente, o sonho de união mundial se dissipou. O início do confronto entre Leste e Oeste e o comportamento diante do plano Marshall avivaram as divergências. A Guerra Fria decompôs a FSM. Em 1949, a iniciativa de sair foi de sindicatos britânicos, seguidos por americanos e, na França, pela Força Obreira, que se separava da CGT. Foi a separação.

 
No mesmo ano, os "secessionistas" criaram a Confederação Internacional dos Sindicatos Livres (CISL). A FSM se transformou em Internacional Comunista, dominada pelos soviéticos. E a CISL, que simbolizava o sindicalismo livre e anticomunista, que ela insistia em apontar como relações privilegiadas com a Internacional Socialista. A clivagem Leste-Oeste também é sindical.

 
O sindicalismo mundial queria unidade e estava dividida em três pólos. Ao lado da FSM e da CISL, a Internacional Cristã defendia seu espaço, especialmente na América Latina. Em 1969, ela deixou de ser cristã e se transformou em Confederação Mundial do Trabalho (CMT). A rivalidade entre as três atingia seu auge. No contexto planetário, elas sofreriam para se entender, exceto na Organização Internacional do Trabalho (OIT).


Em 1989, a queda do Muro de Berlim, seguida logo da derrocada do império soviético, impôs brutalmente uma recomposição. Privada da presença dos sindicatos da União Soviética e do Leste Europeu, que se converteram em sindicatos "livres" e se uniram à CISL ou à CMT, a FSM se tornou uma casca (praticamente) vazia. A CGT, depois de tentar reformá-la a partir do interior, decidiu deixá-la em 1994. Dez anos depois de sair batendo a porta da CMT, a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) aderiu, em 1989, à CISL. Essa movimentação deu força, mas permaneceu inaudível.


Conscientes de que o meio de recuperar a vida do sindicalismo internacional era de reunificá-lo, a CISL e a CMT formam, em 2000, um "fórum permanente" de cooperação. O processo unitário começa. Em 2004, o britânico Guy Ryder, secretário geral da CISL, e o belga Willy Thys, secretário geral da CMT, acertaram a fusão, que será traduzida pela absorção da segunda. Em 31 de outubro, em Viena, a CISL e a CMT vão se autodissolver.

Elas se fundiram entre si e a outras oito organizações até agora não-afiliadas internacionalmente, como a CGT. A CSI "se quer unitária e pluralista" e "aberta às centrais sindicais democráticas, independentes e representativas, com respeito a sua autonomia e à diversidade de suas fontes de inspiração e formas de organização".

 
A China permanece à parte. Mas outros países, como o Peru e Portugal, devem se juntar à nova CSI, que ambiciona "transformar as estruturas e as relações sociais". Ryder será eleito secretário-geral. Uma australiana, Sharon Burrow, vinda da CISL, terá a presidência. E o congresso de Viena colocará, como primeiro ato, a organização de um "dia de ação mundial a fim de convocar uma ação internacional imediata para formular e trabalhar na agenda de uma nova globalização". Globalização do trabalho contra… globalização o capital.

 
Original, em Francês: http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3220,36-829009@51-829094,0.html


Tradução: Anselmo Massad

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