Sindicato de São Paulo comemora 90 anos fortalecendo a democracia

O Sindicato dos Bancários de São Paulo abre oficialmente nesta segunda-feira (1º) o mês de comemorações pelas nove décadas de história da entidade. O primeiro evento de abril lança o livro 90 anos Fortalecendo a Democracia e o curta-metragem Sindicato dos Bancários 90 Anos. São esperados todos os presidentes eleitos desde a retomada da entidade na década de 1970.

“Programamos um mês com festas e shows para a categoria, mas também com lançamento de vídeos e debates de temas importantes para a classe trabalhadora, como a democratização da comunicação e a reforma política”, afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira.

FB Especial

“Temos uma história muito rica, da qual todos os bancários precisam se apropriar. Nossas conquistas, nossos direitos, tudo foi resultado de muita luta, nada veio de graça e isso é razão de muito orgulho para os trabalhadores”, ressalta Juvandia. Assim, a partir do dia 1º, os bancários terão acesso à história da entidade também por intermédio da Folha Bancária Especial 90 anos.

Serão sete edições, cada uma retratando um período, com visual que relembra os veículos de comunicação do Sindicato que circulavam à época. Além dos vídeos e reportagens que permanecerão no www.spbancarios.com.br, um Gibi foi produzido para que mais pessoas, e das mais diversas gerações, se apropriem dessa trajetória.

Sorteios

No site também será veiculado semanalmente um quizz (questões sobre os 90 anos). Quem acertar as respostas (basta conferir os vídeos e as FBs especiais), concorrerá a prêmios. Fique ligado!

Música

O Grêmio Recreativo Café dos Bancários terá shows todas as noites de quartas e sextas-feiras do mês de abril, para os associados. Os trabalhadores do Centro também poderão comemorar, já que estão programados espetáculos musicais no coreto da Praça Antônio Prado, em frente à sede do Sindicato, sempre às sextas-feiras, ao meio-dia. As bandas estão sendo definidas e logo serão informadas.

Homenagem

O aniversário também será homenageado na Câmara dos Deputados, no dia 15, em Brasília. Depois, será a vez da Assembleia Legislativa de São Paulo, no dia 19. “Esse é um reconhecimento do papel do Sindicato e dos bancários nos avanços conquistados para os trabalhadores e toda a sociedade”, ressalta a presidenta Juvandia.

Festa

Uma categoria com tanta história tem muito mesmo a comemorar. No dia do aniversário (16 de abril), um Encontro com Sindicalistas, na Quadra dos Bancários, vai celebrar a data. Na semana do aniversário, o tradicional parabéns com bolo está confirmado (data e local serão informados em breve). E para fechar o mês, os trabalhadores fazem festa no Clube Juventus.

Entrevista com Juvandia

Há 22 anos, Juvandia Moreira, baiana de Nova Soure, deixava sua cidade para morar na maior capital do país. Em São Paulo, formou-se em direito, ingressou no Bradesco e passou a militar no movimento sindical bancário.

Em 1997, no auge do período neoliberal, tornou-se diretora do Sindicato. Aprendeu e cresceu nessa trajetória de luta que se traduz na importância de estar à frente de um dos maiores e mais importantes sindicatos do mundo como a primeira mulher a presidir a entidade em nove décadas de existência.

Qual a importância desse resgate feito pelo Sindicato para compreender esses 90 anos de história da entidade?

O exercício de reconstituir o passado é uma forma de entender o presente e de nos orientar para a construção do futuro. Tem muita gente nova na categoria que não conhece a história dos bancários e é fundamental conhecer. A importância, por exemplo, de saber que a conquista da participação nos lucros e resultados é fruto de uma campanha salarial e não uma benesse que o banco deu. O bancário chega ao banco e tem plano de saúde, vales refeição e alimentação, mas não sabe de onde veio isso. Se ele não souber que isso foi resultado de luta e organização, não vai se organizar também para lutar por novas conquistas.

E quando vamos conhecer os pormenores da história vemos que ela é muito bonita, fruto de muita luta e conquista não só para os bancários, mas para todos os trabalhadores. São várias as lutas em que o Sindicato foi protagonista, organizando não só os bancários, mas a sociedade também. Muitas das nossas mobilizações acabaram virando gerais, a exemplo da nossa luta por uma nova Constituinte, pelas Diretas Já e pela democratização do nosso país. É fundamental resgatar a história para que seja eternizada em nossas memórias e para que oriente o caminhar das futuras gerações.

Qual a importância do Sindicato para você?

O Sindicato é uma escola de formação, uma escola de vida. A gente aprende a ver a vida de outra maneira, aprendemos a ter responsabilidade, compromisso e organização de classe. Aqui a gente olha para a classe trabalhadora como um todo, assim como olhamos para os problemas do país. No Sindicato você aprende que tem de desconstruir a ordem vigente e construir uma nova ordem mais justa, fraterna e igualitária. Aprendemos a construir uma nova compreensão de mundo.

Foi no Sindicato que aprendi a ter uma nova relação com a rua. É como se você se sentisse em casa estando na rua. A gente vai fazer protesto, sardinhada, manifestação e tem muita gente que não olha isso de uma maneira natural. E a rua tem de ser do povo. As pessoas precisam olhar e entender que são outras pessoas lutando para mudar as coisas. Pessoas que não estão se calando diante das injustiças.

Você entrou para o Sindicato no período em que a política neoliberal estava no auge e os trabalhadores protagonizavam a resistência para que direitos não fossem retirados. Qual é a diferença de fazer sindicalismo naquele período em comparação à última década?

Quando entrei para o Sindicato, em 1997, enfrentávamos um desemprego altíssimo, com o país afogado em uma dívida pública grande, atrelado ao FMI e com uma política recessiva. Isso se dava com as privatizações, flexibilização de direitos, aumentava a desigualdade. E a gente travava uma luta de resistência. Mesmo nessa conjuntura desfavorável, tentava ampliar direitos. Quando eu entrei, por exemplo, os bancos públicos tinham reajuste zero. Era bem o auge dessa política no Banco do Brasil e na Caixa, sem contar o risco da privatização desses bancos.

Era um período bem difícil. De vez em quando batia um desânimo, pois íamos ao local de trabalho, fazíamos um esforço grande e a assembleia ficava esvaziada, porque os bancários tinham medo de participar. Mas não desistíamos, pensávamos: é isso aí, é a luta. Por isso muitas vezes íamos ao local de trabalho fazer as assembleias.

Esse quadro se reverte somente quando o primeiro presidente oriundo da classe trabalhadora assume o país. Acho que os problemas hoje são outros, o cenário é outro. A quadra fica lotada, bem diferente do que ocorria na década passada. Hoje nós temos o patamar de desemprego mais baixo da história e os trabalhadores conquistam a cada ano aumento real de salário. Esse governo atual é de coalizão, mas nos possibilita fazer a luta, inclusive realizamos greve praticamente todo ano.

Antigamente, a pauta do BB e da Caixa era entregue ao porteiro no estacionamento, pois a direção não recebia e não tinha mesa de negociação. E isso se inverte. Hoje participamos de negociação e tivemos a grande conquista que foi a unificação da campanha da categoria entre bancos públicos e privados, o que nos tornou mais fortes e protegidos.

A pauta é de ampliação de direitos. Ou seja, nem discutimos inflação, e sim aumento real de salário. Antes, os reajustes eram abaixo da inflação e há vários anos estamos tendo aumento real. Por isso, nós temos que fazer a nossa parte sempre: organizar os trabalhadores, prepará-los para a luta e negociar. Mas é importante ter clareza: os trabalhadores não conseguem nada em uma canetada, têm de fazer a luta.

Você tem o desafio de ser a primeira mulher a presidir o Sindicato, além de suceder presidentes que se tornaram lideranças nacionais. Como é para você estar à frente de uma entidade tão respeitada nesses 90 anos?

É muito importante para as mulheres ter uma mulher assumindo a presidência da entidade. Isso é muito significativo, assim como é muito significativo termos uma mulher na Presidência da República pela primeira vez. Nós sempre tivemos mulheres competentes e capazes de assumir esses postos, mas há discriminação.

Nós mulheres tivemos que lutar muito para entrar no mercado de trabalho, para ocupar postos importantes. E continua a luta para a construção de uma sociedade em que a mulher não esteja relegada à vida privada, para ter igualdade salarial. Então, é muito importante ter uma mulher na presidência do Sindicato e com grande responsabilidade para suceder pessoas tão importantes, que tiveram um grande comprometimento com os bancários.

Como você enxerga os desafios a serem enfrentados pela categoria?

Não dá para pensar a categoria bancária hoje sem dialogar com os comerciários. Esse é um grande desafio para nós daqui para frente. Por conta da figura do correspondente bancário, nós temos que fazer a nossa organização ajudando a fortalecer os comerciários. É uma forma de evitar com que os bancos precarizem a organização dos trabalhadores e terceirizem através do correspondente no setor de comércio, como eles têm feito.

Outro grande desafio é manter nossa política de aumento real e de ampliação na participação nos lucros e resultados. Há muitos anos os bancos ganham muito e isso tem de ser mais bem distribuído. A gente avançou muito na PLR, mas ainda acho que temos de avançar mais.

Além disso, precisamos nos enxergar como classe. A luta de uma categoria hoje pode ser a luta de todos os trabalhadores amanhã. Por exemplo, por que é tão importante reduzir a jornada de 44 horas semanais para 40 horas, conforme reivindicação da CUT? Porque a categoria bancária conquistou a jornada de 30 horas e os outros ainda trabalham 44, e se não ajudarmos a reduzir, nós vamos sofrer ataques à nossa jornada, como temos sofrido.

É a busca pela qualidade de vida, papel do Sindicato Cidadão?

Sim. As pessoas não podem só viver em função do trabalho. É preciso que tenham tempo para a família, lazer, estudo. Se não distribuirmos a riqueza que produzimos para proporcionar qualidade de vida para todos e não apenas meia dúzia de pessoas, vamos precarizar o todo. O que ganhamos com a tecnologia tem de servir também para proporcionar qualidade de vida às pessoas e não servir apenas para enriquecer os patrões.

Por fim, o Sindicato não pode achar que vai resolver a vida dos bancários somente na mesa de negociação. É preciso interferir na cidade, no estado e no país onde moramos, pois essas questões interferem na vida dos trabalhadores. Para além da luta por melhores condições de trabalho e salário, é preciso interferir no país onde vivemos. E o Sindicato faz isso historicamente.

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