Relação dos bancos com poder atrapalha regulamentação do sistema financeiro

Os imorais juros cobrados pelos bancos brasileiros têm raízes profundas na história do Brasil, amarram o crescimento do país e prejudicam a distribuição de renda. Mas recentes medidas adotadas pelo governo federal começam a mudar este cenário.

Foram estas as principais conclusões do seminário Políticas de Crédito, Juros e Spread Bancário no Brasil, realizado nesta segunda-feira, dia 14 na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

“Os bancos tiveram papel importante no poder desde o começo. Estiveram também na gênese da ditadura militar, que nasceu principalmente dentro do sistema financeiro, e não apenas nos quartéis como muita gente pensa. Os bancos sempre estiveram no centro da ditadura”, afirmou o deputado federal (PT-SP) e ex-presidente do Sindicato, Ricardo Berzoini, lembrando que os banqueiros apoiaram militares que tramavam a deposição do presidente João Goulart, em 1964.

Berzoini explica que essa relação dos bancos muito próxima ao poder dificulta medidas do governo federal para regular mais efetivamente o sistema financeiro nacional e reduzir o spread bancário. “Veja que perdemos no Congresso a votação do Imposto sobre Grandes Fortunas e foi necessário que o presidente vetasse a Emenda 3. O Congresso Nacional – e até mesmo a base do governo lá – é muito heterogêneo”, disse.

Mas ele se mostra otimista quanto a recentes medidas do governo, como a troca do presidente do Banco do Brasil e a redução de juros nos bancos públicos, que com isso ganharam mercado dos bancos particulares, segundo os últimos balanços. “Um dos maiores problemas para mudarmos a cultura dentro dos bancos públicos é que os dirigentes de hoje foram formados durante o período de neoliberalismo”, disse.

Berzoini destacou que essa forma de pensar que dominou o banco durante muito tempo fez o BB deixar de exercer seu papel de banco público de fomento da economia e passar a agir como um banco comercial comum, reduzindo o crédito rural e aplicando em atividades de especulação mais lucrativas, por exemplo.

“A demissão do presidente do Banco do Brasil foi uma notícia que mostrou que o governo está no caminho certo. Não era possível que o presidente de um banco público aumentasse os juros em plena crise, como ele fez”, disse a professora de Economia da PUC/SP Maria Cristina Penido, que participou da mesa de debates.

Para o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, reduzir o spread bancário no Brasil (em média seis vezes mais alto que o restante dos países do mundo) corresponde a trabalhar para reduzir as desigualdades sociais no Brasil. “Reduzir juro é distribuir renda, pois com crédito mais barato um maior número de pessoas tem acesso a empréstimos, resultando no crescimento da economia e do país”, afirmou.

Ele questionou também a crença de que a queda do spread vai necessariamente reduzir o lucro dos bancos. “Os juros reduzidos vão aumentar a quantidade de dinheiro emprestado e os bancos podem até mesmo lucrar mais”, disse.

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