Perigo ronda agências no Distrito Federal com assaltos na “saidinha do banco”

O roubo na porta de agências bancárias tem se espalhado pelo Distrito Federal. No mapa de ação dos criminosos, Brasília ainda lidera o ranking e registra o maior número de casos, com 851 ocorrências nos últimos seis anos.
Mas a quantidade de assaltos no Plano Piloto vem apresentando queda, conforme dados divulgados, com exclusividade ao Correio, pela Polícia Civil. Das 155 ocorrências registradas em 2008, em Brasília o número caiu para 116 no ano passado, um decréscimo de 25%. Nos três primeiros meses de 2010, a cidade contabilizou apenas 12 casos, uma média de quatro roubos por mês.

Com cerca de 500 mil habitantes, Taguatinga superou Brasília com 125 ocorrências de assaltos dessa modalidade no ano passado e registra, atualmente, uma média de um novo caso a cada três dias. Ceilândia, que, de 2004 a 2009, registrava cerca de oito roubos por mês, ocupa hoje o primeiro lugar entre as cidades do DF.

No primeiro trimestre deste ano, das 87 ocorrência investigadas pela polícia, 33 aconteceram em Ceilândia, uma média de 11 roubos mensais. O índice é 37% maior que a média de 2009, que foi de oito casos.

Perfil

O modo de atuar dos criminosos é quase sempre o mesmo. Eles agem geralmente em grupo, com dois ou três comparsas. Um dos bandidos fica dentro do banco, observando pessoas que fazem saques de valores altos, tanto nos caixas eletrônicos quanto nos guichês de atendimento.

As características da vítima são, em seguida, passadas para outro integrante da quadrilha, que aguarda do lado de fora, enquanto um terceiro espera pelos demais dentro de um carro para facilitar a fuga. As vítimas, quase sempre, são idosas, andam desacompanhadas e saem distraídas dos estabelecimentos bancários.

A reportagem do Correio percorreu, na semana passada, algumas agências de Taguatinga Norte. Mesmo com a intensa movimentação de pessoas no local, muitos correntistas foram flagrados saindo do banco com a carteira, os cartões de créditos, envelopes de depósito e dinheiro nas mãos.

O zelador João Carlos Ferreira Campos, 49 anos, foi um deles. Ao deixar uma agência depois de realizar um saque, ele ficou cerca de três minutos parado, mexendo no dinheiro e conferindo o extrato bancário que tinha acabado de colocar na carteira.

Ao ser abordado pela reportagem, admitiu o descuido. “Fiquei distraído, fui displicente mesmo. É que a gente tem tanta coisa para fazer que nem percebe se tem alguém observando. Ainda bem que você não é assaltante, né?”, tentou se justificar João Carlos, antes de montar em uma bicicleta e deixar o local.

O auxiliar administrativo Leandro Marques, 23 anos, deixou a agência do Banco do Brasil, na CNB 12 de Taguatinga, com várias notas de R$ 10 nas mãos. “Na verdade, o que aconteceu hoje foi meio contraditório com o meu comportamento normal. Tenho muito medo de ser assaltado e não costumo sair sem antes guardar o dinheiro. Hoje foi falta de atenção porque estou apressado para ir trabalhar”, explicou o rapaz.

Embora mais cuidadosas que os homens, algumas mulheres também esquecem que podem estar sendo observadas. Entre os deslizes mais comuns cometidos por elas está o de esquecer a bolsa aberta e o cartão bancário à vista. A estudante Shirlene Soares, 29 anos, cometeu os dois erros. “Só tirei um extrato, mas estava correndo. Sou muito cuidadosa”, garntiu.

Segundo o delegado Érito Cunha, da Delegacia de Repressão a Roubos (DRR), em dia de pagamento a atenção precisa ser redobrada. Geralmente, os índices de roubo tendem a aumentar no fim e no início de cada mês.

“Nesta época, há uma maior concentração de saques e os clientes têm que prestar atenção em quem está ao redor. Mas o banco também tem que oferecer segurança. Hoje, por exemplo, ficamos constrangidos ao sacar dinheiro porque atrás de nós tem uma fila de pessoas esperando. Todo mundo acaba vendo quanto a outra sacou. Se tivesse um biombo na frente dos caixas, acredito que as pessoas estariam mais seguras”, sugere Cunha.

A assessoria de imprensa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse que os estabelecimentos bancários investem anualmente cerca de R$ 7,5 bilhões em segurança física. Além disso, têm adotado diversas medidas com o objetivo de minimizar esse tipo de crime, como orientar e treinar os funcionários para observar e identificar pessoas suspeitas, os chamados “olheiros”, que permanecem na área de atendimento ao público sem realizar qualquer serviço bancário.

Em relação aos biombos, a assessoria questionou a eficácia do dispositivo. “Os biombos tendem a criar pontos cegos nos quais podem ocorrer ou ter início ações às quais o vigilante não terá acesso. Os biombos, portanto, aumentam a insegurança dentro da agência por dificultar a vigilância”, destacou a nota enviada pela Febraban.

Ladrões têm novo alvo

Ao passo que os índices caem no Plano Piloto, as cidades mais afastadas do centro sofrem cada vez mais com o problema. Em Planaltina, em São Sebastião, no Recanto das Emas, no Guará, em Santa Maria, em Samambaia e no Gama os índices não param de crescer.

Em São Sebastião, por exemplo, foram registrados dois casos em 2004 contra 14 no ano passado e 10 registros em 2008. Nos últimos seis anos, o crescimento foi de 600%. Em Santa Maria, a situação é parecida, com seis ocorrências em 2004 e 17 em 2009.

Em Samambaia, a Polícia Civil contabilizou o dobro de assaltos em 2009, em relação ao ano anterior. Ao todo, foram 33 registros no ano passado contra 15 em 2008.

Para o delegado-chefe da 30ª DP (São Sebastião), Ricardo Yamamoto, não houve uma migração dos criminosos. “Acredito o processo de urbanização da cidade e o aumento da qualidade de vida fizeram aumentar a quantidade de roubos na porta de banco”, diz.

Para o delegado, o fato de São Sebastião ter deixado de ser uma agrovila e transformada em uma cidade independente, contribuiu para o aumento de renda dos moradores. “Houve uma mudança de modo geral e todas as cidades estão em crescimento”, destacou.

De 2004 a março deste ano, as delegacias do DF somaram 3.732 roubos realizados nas proximidades de agências bancárias. Para evitar ser alvo dos criminosos, o ideal é não sacar grande quantidades de dinheiro dos caixas e, de preferência, realizar transferências bancárias (veja quadro com dicas).

Entre os cuidados, a polícia orienta que a vítima não reaja caso seja abordado por um assaltante. Nos últimos seis meses, duas pessoas morreram depois de efetuar saques e recusar entregar a quantia.

Previna-se

1) Evite sacar valores altos em espécie. Prefira sempre as transações eletrônicas, que oferecem mais segurança;

2) Nunca conte dinheiro em público, mas, se tiver essa necessidade, o faça em um local reservado da agência;

3) Não comente com estranhos;

4) Procure ir ao banco sempre acompanhado;

5) Seja discreto e rápido ao conferir o seu dinheiro e sair do banco;

6) Desconfie de pessoas que ficam por um longo período dentro das agências sem realizar qualquer operação;

7) Ao efetuar depósitos no caixa eletrônico, tome cuidado para que não haja troca de envelopes. Não peça ajuda de estranhos. Procure, sempre, por um funcionário do banco

8) Em caso de assalto, jamais reaja.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram