Metalúrgicos da Volks param unidade em São Bernardo

Milhares de metalúrgicos paralisaram a unidade da Volkswagen em São Bernardo durante a troca de turnos na manhã desta quarta-feira (11), Dia Nacional de Luta pelo Emprego e pelo Salário convocado pela Central Única dos Trabalhadores. Com muito humor e ironia, o pátio da Volks serviu de cenário para mais uma demonstração de unidade e mobilização da classe. Embalando a luta dos operários da unidade, uma rápida apresentação cultural do cantor Fabrício Ramos; um ridículo king Kong capitalista (“capitalista primata”) e um banqueiro arranca-couro de trabalhador (vale a redundância), cercado pelos manifestantes e impedido de subir com seus juros no carro de som. Acompanhando, solidárias, várias lideranças dos Sindicatos dos Químicos, Costureiras, Construção Civil e Servidores Públicos da região do ABC.

Com a presença do presidente da CUT, Artur Henrique, os operários votaram em assembléia pela realização de uma passeata pela fábrica até o portão 1, de onde decidiram ocupar a rodovia Anchieta por mais de 20 minutos, dando visibilidade à reivindicação: “Querem Lucrar com a Crise. A Classe Trabalhadora não Vai Pagar Esta Crise”.

Artur lembrou que naquela unidade os metalúrgicos estão trabalhando sábado e fazendo hora extra, pois há filas de pessoas solicitando carros novos devido aos atrasos de entrega, que chegam a 40 dias. Apesar de estar retomando a produção e haver muita pressão para colocar mais carro novo no mercado, lembrou, “os companheiros que fizeram o curso do Senai ainda não foram contratados por esta fábrica e é preciso ampliar a pressão para que tenham a carteira assinada”.

O presidente cutista denunciou que apesar de haver setores exportadores atingidos pela crise que eclodiu nos países centrais, “tem muito empresário se aproveitando da crise, de uma forma inteiramente oportunista”. “Além do Skaf, temos o presidente da Vale, o Roger Agnelli. Ambos propuseram flexibilização da legislação trabalhista para que seja ainda mais barato demitir, como se já não fosse. No ano passado, tivemos 15 milhões de demitidos, contra 16,5 milhões de contratados. É muito fácil demitir pois o mercado está desregulado, flexível, com o preço da demissão embutido no preço final do produto”.

REGRAS – Na avaliação do presidente cutista, são necessárias regras que representem obstáculos à demissão, como a ratificação da Convenção 158, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que coíbe a demissão imotivada. “Por isso estamos chamando a atenção da sociedade brasileira, dos governos federal, estadual e municipais, porque o Brasil precisa proteger o seu mercado interno, garantir emprego, salário, produção, consumo. Também estamos cobrando dos bancos privados, que têm obtido lucros recordes como o Santander, que pare de demitir. Defendemos que todo o recurso público investido nas empresas tenha o emprego como contrapartida social”, acrescentou. Artur condenou certo tipo de sindicalismo que diz representar o trabalhador mas entra na negociação com o patrão “de calça arriada”, aceitando redução de salário, suspensão de contrato temporário, e também “um suposto sindicalismo de esquerda, que só fala ‘não’ ou bota a culpa no Lula, enquanto assiste a demissão de centenas de pais de família”.

O líder cutista lembrou que enquanto hoje há um clima de diálogo com o governo federal para o enfrentamento à crise, durante o desgoverno FHC se defendia – e praticava – a “desregulamentação, a privatização, o vender tudo que era público”. “Imaginem o que seria o Brasil sem a Petrobrás, sem a Eletrobrás e o BNDES. O Serra vendeu o único banco de fomento do Estado, a Nossa Caixa; vendeu a empresa de transmissão de energia elétrica. Pratica o Estado mínimo com o nome de choque de gestão. É contra isso que estamos em luta. Pelo Brasil, por emprego, renda e direitos”, concluiu Artur.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, iniciou sua intervenção ridicularizando a figura do “empresário primata, capitalismo selvagem”, identificado por um boneco do king Kong, e condenou “o papel vergonhoso dos banqueiros, que negam crédito a quem precisa e põem o juro na estratosfera”. “É nas ruas que nós vamos mudar a realidade, resistindo às pressões e colocando a nossa marca, que é da solidariedade, de quem pensa no Brasil, de quem afirma que o caminho é o crescimento”.

A secretaria regional da central italiana CGIL Simonetta Ponzi manifestou a solidariedade dos trabalhadores do seu país e sublinhou a importância da classe operária somar forças em um grande movimento internacional para derrotar a ditadura do capital.

FEM – De acordo com o presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos, Biro-Biro, “a manifestação da Volks cumpriu o papel de fazer o enfrentamento à lógica da mídia e da direita. “A luta dos companheiros do ABC é sempre uma referência muito forte, de resistência e determinação, presente no dia de hoje nos atos realizados na capital, no interior do nosso Estado e em todo o país”, acrescentou Biro-Biro.

O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), Carlos Alberto Grana, lembrou que durante os últimos cinco anos foram gerados milhões de empregos, o que favoreceu a luta dos trabalhadores, que conquistaram melhores salários e condições de trabalho. “Ao longo deste período, lembrou, “crescemos com 800 mil metalúrgicos em todo o país, com as condições geradas pelo desenvolvimento sustentado”. Agora, diante da crise, a primeira resposta que setores do empresariado pensam, denunciou Grana, “é reduzir salário, emprego e direitos, que seria o pior caminho”. “Precisamos fortalecer o mercado interno, o poder de compra dos salários, ampliar os investimentos. Do contrário, só haveria retrocesso”, condenou. Grana qualificou de “sem-vergonha” a apologia do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, à redução de jornada com redução de salários e direitos e condenou a total falta de compromisso do governador José Serra, “para quem infelizmente não existe problema no Estado de São Paulo”. “O trabalhador não foi o responsável pela eclosão da crise. A culpa é dos banqueiros e do cassino internacional. Não aceitamos e não vamos pagar pela crise. Vamos à luta e à vitória”, sublinhou

Para o secretário de Políticas Sociais da CUT Nacional, Expedito Solaney, que acompanhou a manifestação no ABC e na Praça do Patriarca, “as mobilizações reforçam o nosso compromisso de ir para o enfrentamento, de colocar pressão no governo federal para que ponha fim ao elevado superávit primário e canalize os 56% do PIB canalizados para o pagamento da dívida pública na produção, investindo em obras públicas, em financiamentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), nas áreas sociais”.

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