Itaú e Bradesco abrem agências com alta tecnologia e poucos bancários

O Bradesco e o Itaú inauguraram unidades em São Paulo que alteram o conceito de agência bancária. Ambas em shoppings de luxo na capital, as agências, para poucos, investem em alta tecnologia e venda de produtos, mas em número reduzido de funcionários.

Na do Bradesco, no JK Iguatemi, na Vila Olímpia, o cliente já será atendido por uma máquina, um robô que dá as boas vindas, emite sons e altera a expressão facial. Conta ainda com uma grande tela interativa onde atendentes virtuais ensinam como utilizar os diferentes aplicativos para realizar as operações bancárias.

A do Itaú, no shopping Villa-Lobos, Alto de Pinheiros, se distanciou do modelo de agência bancária e buscou inspiração no layout de lojas como as de telefonia móvel. Também aposta em alta tecnologia, com vídeo wall e catálogo de produtos em tablets. O banco já divulga planos de abrir outra unidade nos mesmos moldes no Shopping Ibirapuera, em Moema, no próximo ano.

Segundo executivos de ambas as instituições financeiras, os projetos pretendem familiarizar os clientes com o uso de ferramentas como iphones e ipads na execução de operações das mais corriqueiras como pagamentos e conferência de saldo.

Banco não pode ser balcão de vendas

“Essas agências representam uma mudança de concepção do sistema financeiro, que deixa de ter o caráter de concessão pública e se torna cada vez mais balcão de venda de produtos. Esse conceito de agência representa a extinção da categoria bancária e envolve temas que devem ser discutidos pela categoria e a sociedade, como os promotores de vendas e os correspondentes bancários”, critica o diretor executivo do Sindicato dos Bancários de são Paulo e funcionário do Itaú, Daniel Reis.

O dirigente ressalta ainda que essa concepção, que exclui o componente humano da relação do cliente com a instituição financeira, vai na contramão do que esperam os usuários.

Pesquisa realizada pela Cisco, divulgada em junho deste ano, apontou que 92% dos brasileiros gostariam que as agências bancárias oferecessem mais serviços financeiros e de assessoria. O estudo, feito entre usuários de países desenvolvidos (Canadá, França, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido) e emergentes (Brasil, China e México), mostrou que, em nível global, os clientes rejeitam a ideia de agências muito automatizadas: 81% das pessoas de países emergentes e 56% nos desenvolvidos preferem entrar em uma agência bancária para receber atendimento personalizado e assessoria financeira.

“As pessoas entendem como bancarização a relação que mantêm com os funcionários do banco. Os usuários fazem questão dessa relação social. Os bancos são concessões públicas, não são lojas, e têm de proporcionar bom atendimento ao público. Máquinas nunca vão superar a qualidade do atendimento feito por pessoas”, diz Daniel.

Para o diretor do Sindicato e funcionário do Bradesco Marcelo Peixoto, além de reduzir ainda mais os postos de trabalho bancários, as chamadas “agências do futuro” são mais um exemplo de que o banco não quer valorizar seus funcionários. “Um banco que investe R$ 10 milhões em um projeto como esse (dado divulgado pelo Bradesco) tem plenas condições de valorizar o corpo de funcionários, com salários melhores, PLR maior e melhores condições de trabalho.”

O dirigente também chama a atenção para o fato de que as novas agências, segundo palavras dos executivos do banco, serão “vitrines de produtos financeiros”. Ele lembra que bancos não são lojas de venda de produtos e que bancários não são vendedores. “Os bancos têm um papel social a cumprir, entre elas o de facilitar o acesso ao crédito para o consumo e produção e, assim, dinamizar a economia do país. Lojas de vendas de produtos não cumprem essa função”, afirma.

Discriminação

Em shoppings voltados para público de alto poder aquisitivo, as agências têm ainda outros diferenciais: a do Bradesco não tem caixas para receber pagamento de contas e na do Itaú, que funcionará em horário diferenciado, das 12h às 20h, o atendimento será restrito para correntistas do banco a partir das 17h.

“Mais uma vez os bancos tentam afastar os clientes com menor poder aquisitivo das agências. Isso é discriminação inaceitável em empresas que trabalham por concessão pública”, denuncia Daniel Reis. Ele também chama a atenção para o novo horário de funcionamento da unidade.

“O Itaú vem estendendo o funcionamento das agências sem novas contratações e sem qualquer discussão com os trabalhadores. O atendimento ao público só piora com bancários sobrecarregados e adoecidos”. O Sindicato vai continuar protestando contra a medida.

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