Folha: Lula e Sarkozy defendem ação global contra a crise financeira

FOLHA DE SÃO PAULO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de serem, ao menos na origem, de campos políticos diferentes, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Nicolas Sarkozy, afinaram os discursos e defenderam ontem, na 2ª Cúpula Brasil-União Européia, uma política global conjunta para combater a crise financeira internacional e a adoção de novos mecanismos de controle de instituições financeiras. Ambos afirmaram não haver mais espaço no mundo para “especuladores”.

Para Sarkozy, a crise marca uma nova etapa na história mundial, que pede novos instrumentos de gestão. “2008 é o ano em que o mundo entrou para o século 21. Não podemos mais aplicar as regras de governança do século 20”, disse. Sarkozy defendeu um Estado mais regulador e com maior controle das instituições financeiras. “Já não queremos mais um mundo de especuladores”, disse Sarkozy.

Pouco antes, Lula afirmou: “Todos nós sabemos que essa crise é resultado de uma especulação financeira desavergonhada”. Essa especulação resultou, segundo ele, na disparada injustificada dos preços do petróleo e dos alimentos. “Não estou torcendo para a crise, mas a crise chama atenção do mundo e dos especialistas para rediscutirem o papel que o Estado nacional tem de exercer na economia”, disse Lula, para quem “se deixar por conta do mercado, a crise pode se alastrar e trazer convulsões sociais em vários países no mundo”.

Ele e Sarkozy defenderam o G20 como o fórum adequado para as discussões dos novos mecanismos de gestão global e de reforma das instituições, ressaltando a importância do multilateralismo nesses tempos de crise.

“É preciso definir um novo papel do FMI em torno das grandes moedas do mundo”, disse Sarkozy, em referência à prevalência do dólar como padrão monetário internacional.

O presidente da França afirmou ainda que os EUA são “amigos” da União Européia, mas nem por isso o bloco não discorda do país quando é necessário. “Os mesmos que diziam que o mundo seria ótimo em 2008 e que agora dizem que será ruim em 2009 vão me dizer o que eu tenho que fazer?”, declarou Sarkozy.

Indiretamente, Lula também sinalizou que deseja uma mudança no FMI: “Se a gente tentar resolver essa crise com o mesmo paradigma monetário que a criou, nós não teremos solução de curto prazo”. Para Lula, chegou a vez de a política dar as bases para um novo paradigma mundial. “A única coisa que tenho convicção e certeza é que finalmente chegou a hora da política.”

Citando Lula, Sarkozy também disse que a crise marca “a volta da política” ao centro do debate e disse que é necessário dar voz a países que antes não eram ouvidos, como o Brasil. “Muitos falam muito e não dizem nada. Precisamos do Brasil para a regulamentação do fluxo financeiro mundial. (…) Precisamos de Lula para garantir a estabilidade.”

Para Sarkozy, é importante o mundo reservar ao Brasil um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Já o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, afirmou que a UE e o Brasil têm uma grande “convergência” de idéias que deve ser usada para promover a criação de “uma nova arquitetura global”.

O francês afirmou ainda que é preciso combater o protecionismo e estimular a Rodada Doha, posições também defendidas por Durão Barroso. “Acreditamos na liberdade do comércio e não queremos o protecionismo”, disse Sarkozy. À noite, os dois presidentes lançaram numa casa de shows o Ano da França no Brasil (2009).

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