Folha de São Paulo: BCs europeus radicalizam corte de juros

FOLHA DE SÃO PAULO
MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O sinais de que a economia britânica caminha para uma longa recessão levaram ontem o Banco da Inglaterra a fazer o mais drástico corte na taxa de juros dos últimos 27 anos, de 4,5% para 3%. Com o corte, os juros britânicos chegaram ao menor patamar desde 1955.

Diante da acentuada desaceleração econômica no continente, o BCE (Banco Central Europeu) seguiu o mesmo caminho da autoridade monetária britânica. Numa decisão amplamente antecipada, reduziu os juros em meio ponto percentual, para 3,25%, e indicou que o viés de baixa deve ser mantido no próximo mês.

O corte recorde de 1,5 ponto percentual do BoE (sigla em inglês do BC britânico) pegou o mercado de surpresa e salientou a grande preocupação com o encolhimento da economia. A previsão dos economistas era de uma redução entre meio e um ponto percentual.
“Observamos uma queda muito marcante das perspectivas para a economia nacional e mundial”, justificou o BoE em comunicado anunciando o corte, que coloca a taxa de juros no Reino Unido em um patamar menor que o da zona do euro pela primeira vez desde a adoção da moeda comum, em 1999.

A economia britânica, uma das mais atingidas pela crise, encolheu 0,5% no terceiro trimestre deste ano, e poucos acreditam em uma recuperação antes de 2010. Em um sombrio relatório divulgado na segunda-feira, a Comissão Européia (braço executivo da UE) colocou o Reino Unido entre os principais candidatos a enfrentar uma recessão. Ontem, o FMI (Fundo Monetário Internacional) informou que prevê retração de 1,3% no PIB britânico no próximo ano.

A reação ao tamanho do corte anunciado pelo BoE foi de espanto. Matthew Sharratt, economista da sessão britânica do Bank of America, classificou a redução de “chocante”.

Outros viram espaço para mais cortes. “É uma decisão espetacular, mas ainda há mais a fazer”, disse Jonathan Loynes, da consultoria Capital Economics. Para ele, o juro poderia cair para o mesmo nível do americano (de 1%) “ou menos”.

Na zona do euro, formada pelos 15 países que adotaram a moeda comum, o ciclo de crescimento que vinha desde 1999 foi interrompido neste ano, com uma contração de 0,2% no segundo trimestre.

A maioria dos países do grupo deve sofrer novo recuo no terceiro trimestre, cujos índices sairão na próxima semana. Para 2009, a Comissão Européia prevê expansão de só 0,1% na zona do euro e 0,2% nos 27 países da União Européia.

Com a inflação em queda, o esfriamento da atividade econômica tornou-se a principal preocupação, confirmou ontem o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet. Geralmente comedido em suas projeções, Trichet admitiu um novo corte nos juros em dezembro para tentar estimular a economia.

“A intensificação e a ampliação da turbulência financeira devem amortecer a demanda no mundo e na zona do euro por um período prolongado”, disse Trichet, que chega hoje a São Paulo para a reunião do G20, grupo das maiores economias do planeta. “Preço, custos e pressões salariais devem diminuir. Não descarto novos cortes [nos juros]”.

Duas das principais economias européias deram indicações ontem de que a recuperação vai demorar. Na França, a ministra da Economia, Christine Lagarde, disse que o PIB do país crescerá entre 0,2% e 0,5% em 2009, contra 1% da previsão anterior. Na Alemanha, que na quarta aprovou um pacote de estímulo econômico de US$ 23 bilhões, as encomendas de artigos produzidos no país caíram 8% de agosto a setembro. É a maior queda desde a reunificação da Alemanha, em 1990.
Seguindo o exemplo do BCE, os BCs de dois outros países europeus reduziram ontem suas taxas de juros em meio por cento, Suíça e Dinamarca, para 2% e 5% respectivamente.

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