Contraf-CUT participa de debate sobre m¡dia e pol¡tica

(São Paulo) Diretores da Contraf-CUT participaram na última quinta-feira de um debate sobre Mídia e Eleições, realizado pela Carta Maior. Entre os debatedores, nomes de peso do jornalismo brasileiro, como Luis Nassif, da TV Cultura, Raimundo Pereira, Carta Capital, e Bernardo Kucinski, editor associado da Carta Maior. A conclusão de todos foi unânime: a cobertura dos grandes veículos de imprensa ultrapassou todos os limites já vistos no país nesta campanha eleitoral.

 

“O debate foi de extrema importância, pois mostra que a grande imprensa – que eu chamo de mídiaelite – tem um lado e ele é conservador. Isto não é nenhuma novidade, mas o que impressiona é que nestas eleições a opção da imprensa em favorecer o PSDB e prejudicar o PT ficou muito clara. O debate mostrou que é imprescindível a urgência de criarmos uma imprensa popular. O Brasil precisa disso e os movimentos sociais devem se articular para democratizar os meios de comunicação, mostrando o outro lado da notícia, como fazem a Revista do Brasil, a Fórum e a Carta Capital”, afirma William Mendes, secretário de Imprensa da Contraf-CUT.

 

Para o jornalista Luís Nassif, a imprensa tem trabalhado com o que chama de “efeito manada”, que basicamente consiste em noticiar a sua versão dos fatos, sem muita investigação ou comprometimento com a verdade. Para isso, vale até lançar mão de factóides, com a invenção de notícias. Segundo ele, a mídia vem fazendo isso no Brasil desde o impeachment do ex-presidente Collor e seu caso mais emblemático e o da Escola Base.

 

“Na época do impeachment, quando não havia mais fatos, inventava-se. Era a síndrome do orgasmo permanente. A imprensa precisava de denúncias. O que aparecesse valia. O público se viciou em matérias escatológicas e a imprensa tinha que responder a isso”, lembra Nassif.
 

Ele diz que a imprensa brasileira tem copiado a parte ruim do jornalismo norte-americano. “Às vezes a imprensa cria fantasias. Qual é o significado de uma foto de dinheiro? Todo mundo já sabia que o dinheiro existia. Foto de dinheiro é igual a foto de dinheiro; não há nenhuma informação nova. Mas a imprensa divulgou as imagens e ficou esperando inverter o resultado. Achava que a tal foto tinha um efeito mágico, quando o único interesse em sua divulgação era político-eleitoral. Então, jornalisticamente, o interesse era descobrir quem tinha vazado a foto. Essa era a informação, que não foi dada no início”, avalia Luis Nassif.

Na opinião de Bernardo Kucinski, desde a crise do chamado mensalão houve uma mudança qualitativa de padrão na mídia. Apesar de sempre ter sido crítica e de revelar traços de discriminação e preconceito em relação a Lula e ao governo PT, no ano passado a grande imprensa teria aprofundado este processo. “Os veículos se fecharam num processo de linchamento coletivo do PT e do governo, desde a chefia até os repórteres, sem nenhum constrangimento. Isso aconteceu com todos os veículos, com raras exceções. Confesso que fiquei assustado com este comportamento. É um fenômeno cultural importante, cuja profundidade só o futuro vai dizer”, acredita.

Os jornalistas avaliaram que a orquestração midiática na última semana de setembro contribuiu para que Lula não fosse eleito já no primeiro turno. “Alckmin é um louva-deus, parece certinho. Mas, do ponto de vista político, é “sanguinário”: busca o poder, encheu as prisões de gente pobre, alimentou rebelião do PCC por direitos humanos. Tentou mudar e ir para cima do Lula e virou de fato a pessoa que representa o tipo de política que faz”, avalia Raimundo Pereira, autor da matéria de Carta Capital que revela o esquema da imprensa para forçar o segundo turno. “Só um milagre salva o louva-deus da derrota agora”, acredita.

Para o jornalista, independente do resultado eleitoral, é preciso trabalhar pela unidade da imprensa alternativa e pelo fortalecimento da imprensa popular. “A imprensa brasileira se monopolizou ainda mais e o PT errou porque não viu que a imprensa era essencial para a mudança da consciência popular. Enquanto o movimento popular não se reerguer com plenitude e fazer ouvir sua voz, não vai ter jeito. O país é dividido em classes sociais. À medida, por exemplo, em que a Veja piora, a meu ver, em qualidade, cresce no gosto de uma camada da sociedade. Por isso precisamos de uma imprensa popular forte”, afirma Pereira.

Durante o debate, também ficou clara a importância do papel da internet na democratização da informação. A conclusão é a de que, com o segundo turno, ao contrário do que queria a direita, gerou-se um clima mais positivo para a reorganização da sociedade em torno de um projeto de uma nova mídia.

“Há uma causa socialista em jogo e há uma causa capitalista em jogo. Mas o mais importante pra nossa imprensa é defender os princípios da democracia, da diversidade do contraditório. Pela primeira vez, o povo deu uma aula de como manter a civilidade para a mídia, para aquela que deveria ser a guardiã dessa civilidade”, conclui Nassif.

 

Fonte: Contraf-CUT e Carta Maior

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