(Rio) A bancária Eliane Boechat, tesoureira da agência do Bradesco em Itaperuna, no noroeste do Estado do Rio, foi demitida no último dia 15. Ela foi vítima de seqüestro seguido de assalto no início de novembro de 2007. A funcionária, seu marido e seu filho foram rendidos em casa, onde passaram a madrugada toda sob a mira dos assaltantes e com explosivos amarrados ao corpo. Os bandidos conheciam detalhadamente a rotina da agência e da família da tesoureira e conseguiram levar R$ 200 mil da agência.
O Bradesco não emitiu CAT para a vítima. O documento foi registrado pelo sindicato e Eliane foi afastada para tratamento dos severos transtornos psicológicos que se seguiram ao trauma do assalto, com benefício B-91 do INSS que garantiu três meses de afastamento. Pouco mais de dois meses depois de sofrer este acidente de trabalho, e ainda de licença, a bancária foi demitida por justa causa. Ela trabalhava no banco há 25 anos.
Crime perfeito
A ação criminosa bem-sucedida foi calculada nos mínimos detalhes. Pela manhã, Eliane foi conduzida à agência onde trabalhava pelos bandidos, ainda com o colete de explosivos, e trabalhou por toda a manhã. Perto da hora do almoço, o carro-forte chegou com o dinheiro para abastecer a agência.
A bancária, então, foi obrigada a ligar para o marido, que a busca no banco diariamente para irem almoçar em casa. Quando ele chegou de carro, acompanhado dos assaltantes, Eliane levou o dinheiro recém-chegado. O casal foi mantido no carro, que seguiu por uma estrada vicinal que vai para o município vizinho de Natividade.
A cerca de 20 km do centro de Itaperuna, Eliane e o marido foram abandonados no carro, amarrados, e os bandidos fugiram em outro veículo, levando o dinheiro. Durante toda a ação, o filho adolescente da bancária foi mantido em casa, vigiado por um assaltante e sempre com os explosivos atados ao corpo.
A atitude da gerência não poderia ter sido pior. Diretores do Sindicato dos Bancários de Itaperuna foram ao local no dia seguinte ao seqüestro/assalto para averiguar se estavam sendo realizados os procedimentos necessários em caso de acidente de trabalho, mas não foram recebidos pela gerente. Os sindicalistas, então, deram entrada no registro da CAT e tomaram as providências para a realização de exames médicos. “Contactamos o Fabiano (presidente da Federação) e informamos o ocorrido. Às 18:30 da sexta-feira, dia seguinte ao assalto, o RH do banco nos telefonou avisando que emitiria o CAT”, informa Antônio Moreira, diretor do sindicato.
Mas, como a agência do INSS já estava fechada neste horário, o documento só poderia ser encaminhado na segunda-feira, e o prazo de 48 horas para emissão do documento já teria sido perdido.
O sindicato de Itaperuna continuou acompanhando Eliane e a orientou na obtenção de licença do INSS. O benefício B-91 terminaria no início de fevereiro, mas a entidade já estava providenciando o pedido de prorrogação, uma vez que Eliane apresentava ainda severas seqüelas psicológicas do assalto. Ela e toda a família estão traumatizados e se descontrolam ao menor ruído, imaginando que os assaltantes, que conheciam tão bem a rotina familiar, estejam de volta. “Aparentemente eles estão bem, mas todos estão muito agitados e qualquer som ou movimento diferente provoca uma reação de pânico”, relata o sindicalista Moreira.
Demissão irregular
No dia 15 de janeiro, Eliane recebeu uma ligação da gerência, que a convocou a comparecer à agência. Ela contactou o Sindicato dos Bancários, que enviou diretores e um assessor jurídico da entidade para acompanhá-la. Ao chegar, a bancária recebeu o comunicado de demissão por justa causa. O advogado do sindicato a orientou a não assinar o documento. O Sindicato de Itaperuna informa que não vai homologar a demissão.
Além de injusta e difamatória – uma vez que a vítima está sendo tratada como cúmplice – a demissão é irregular. Trabalhadores que gozam de benefício acidentário não podem ser demitidos e ainda têm estabilidade provisória por doze meses após o retorno ao trabalho.
Fonte: Feeb RJ/ES
