Bancos americanos perdem US$ 700 bilhões em valor de mercado

GAZETA MERCANTIL

Baixas contábeis e prejuízos decorrentes da crise do subprime como os registrados neste trimestre pelo centenário Lehman Brothers, quarto maior banco de investimento dos Estados Unidos, ainda serão comuns nos balanços de muitas instituições financeiras no decorrer de 2008 e até meados do próximo ano, estimam os analistas de mercado, que são contundentes, entretanto, em afirmar que o pior já passou, apesar de ainda não arriscarem aonde está o fundo do poço e qual será, no final, o valor total do ajuste. Conforme pesquisa da Economatica, os investidores vêm fazendo ajustes agressivos.

O estudo mostra o comportamento nos últimos dois anos do preço das ações das principais instituições financeiras dos Estados Unidos (83 no total pesquisado) mostra que o conjunto perdeu 39,5% do seu valor de mercado até a última quarta-feira em relação à cotação máxima alcançada no período, passando de R$ 1,76 trilhão em janeiro de 2007 para US$ 1,06 trilhão no dia 9. Em comparação a agosto, contudo, o valor permaneceu estável e avançou ante junho deste ano (US$ 930 bilhões) – véspera da divulgação dos resultados do primeiro semestre, quando os mercados estiveram mais agitados por conta das perdas que os balanços poderiam mostrar.

O gigante do varejo Citigroup, por exemplo, perdeu quase 63% do seu valor de mercado, ou quase US$ 172 bilhões no período. Hoje vale US$ 101 bilhões. Ele perdeu, inclusive, a posição de líder de mercado para o Bank of America, que tem valor de mercado de US$ 147 bilhões.
O valor de mercado do Lehman Brothers, por exemplo, caiu o dobro em relação ao conjunto, em termos percentuais, 88,4%, na comparação com a sua maior cotação atingida no período, de US$ 43,26 bilhões em janeiro de 2007, mas já vinha despencando desde meados do ano passado, alcançando em agosto último o que poderia parecer o seu pior índice, de US$ 11,17 bilhões. Com os prejuízos anunciados e a divulgação do fracasso da transação com o KDB (Banco de Desenvolvimento da Coréia do Sul), que negociava a compra de uma fatia da instituição norte-americana, o valor de mercado do Lehman caiu à metade na quarta-feira, a pouco mais de US$ 5 bilhões, segundo o levantamento da Economatica. Ontem, a ação foi a US$ 4,22, uma queda de 41,79%, uma das mais baixas cotações entre os bancos dos Estados Unidos.

A recém-anunciada estatização das duas maiores empresas de financiamento de hipotecas dos Estados Unidos, a Fannie Mae e a Freddie Mac, e os socorros ao sistema bancário e às famílias que já vêm sendo feitos pelo governo ao longo dos últimos meses vão trazer um novo fôlego à área financeira norte-americana, acreditam Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, e Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. Para Agostini, algumas instituições ainda devem apresentar prejuízos em seus balanços até meados de 2009, enquanto a economia norte-americana se recupera e atrai novamente a confiança dos investidores.

Na opinião de Agostini, dificilmente grandes bancos, como o Lehman ou o Citi, fecharão suas portas, mesmo ante a atual desvalorização. O executivo lembra que o Lehman busca como saída a venda de ativos e de participação, e que muitos investidores, principalmente, do Oriente Médio, têm investido no setor nos Estados Unidos. Agostini afirma ainda o orgulho americano em relação às suas centenárias instituições poderá também ser favorável ao Lehman, caso o governo decida ajudar o banco, o que não será difícil.

Os Estados Unidos já mudaram as regras para ajudar o Bear Stearns a não afundar nessa crise que assola o sistema financeiro desde meados de 2007. O Lehman Brothers possui ainda algumas vantagens que o Bear Stearns não teve antes de seu colapso, em especial o programa de empréstimo especial criado subseqüentemente pelo governo federal para os bancos de Wall Street.

Leite, professor da Trevisan, enfatiza que a crise das hipotecas de alto risco dos Estados Unidos começou com a expansão do crédito, excesso de otimismo dos bancos, com acentuada ousadia, e leniência dos órgão reguladores e que agora o ajuste vem um pouco forte, mas trará as coisas ao seu valor real. “Era tudo exagerado. Era uma bolha”, diz, afirmando que a fase de saneamento deverá durar até o final deste ano e que acredita em mais perdas, mas não em mais catástrofes.

Ontem em Wall Street, as ações do setor financeiro continuaram a despencar. Os temores sobre o Lehman atingiram os investidores, e as ações de quase todos os grandes bancos recuaram. Os papéis da Merrill Lynch foram a US$ 19,43, com queda de 19,44%, e as do Citigroup atingiram US$ 18,61, com queda de 0,38%. O declínio ocorreu no momento em que a gigante do setor de poupança e empréstimo, Washington Mutual, também é afetada.

As ações da Washington Mutual despencaram quase 30% na quarta-feira e 21,98% ontem, para US$ 2,83 ,enfatizando a preocupação a respeito do setor.
Com The New York Times(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 1)(Iolanda Nascimento)

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