Bancários do Banrisul enfrentam até granizo e param por plano de carreira

Chuva, frio e até granizo não assustaram bancários em Porto Alegre

Há um ditado que ajuda a medir a força de um movimento de trabalhadores na luta por seus direitos. Quando o tempo não ajuda uma manifestação, o mestre de cerimônia costuma lembrar aos manifestantes: “Nem chuva, nem vento atrapalham o movimento”.

A frase por vezes soa como uma tentativa derradeira de manter a chama da luta acesa num dia de chuva ou muito frio. Pois nesta terça-feira (7) poderíamos acrescentar mais um substantivo nesta frase histórica repetida no movimento sindical. Nem pedra atrapalhou o ato que fechou a Caldas Junior, em frente à Direção Geral (DG), em Porto Alegre, e arrastou para a luta contra o Plano de Carreira da direção do Banrisul várias agências da rede em todo o Estado durante duas horas.

Desde às 7h desta terça, dirigentes sindicais, banrisulenses e quem passava pela Caldas Junior, no Centro Histórico de Porto Alegre, sabia que era dia de os bancários e bancárias do banco público dos gaúchos elevarem as suas vozes. E foi o que aconteceu. Sob um céu azul e límpido de outono, as 10h chegaram com o vozerio ainda desencontrado dos primeiros passos daqueles que vieram de outras agências do Centro de Porto Alegre, de vários setores da DG e de outros bairros para mostrar à direção que a sua proposta de Plano de Carreira não tem ressonância dentro das agências, entre os trabalhadores e trabalhadoras.

A mobilização tomou a rua por volta das 10h20, quando a Caldas Junior se fechou. Estava pronto o grande palco da luta dos banrisulenses nas greves e agora pelo Plano de Carreira. Porém, o céu azul em minutos mudou de cor. Ficou cinza e desabou sobre dezenas de bancários e bancários.

Logo, o chão ficou branco. Eram pedras de granizo que insistiam em afugentar os banrisulenses, em impor uma provação à vontade dos guerreiros. Mesmo sob o inverno que se instalou repentinamente, ninguém arredou o pé.

O cantor Rosa Franco, de cima do caminhão, foi logo acudido. Guardas-chuvas ajudaram a manter o ritmo. Nem a chuva, nem o vento e nem as pedras fariam o movimento reduzir a sua força nem a força das canções do ato de duas horas.

Aliás, o granizo foi apenas mais uma provação e serviu para mostrar que a direção estava derrotada. Na segunda-feira, um BGX da direção havia chegado à caixa eletrônica dos banrisulenses. O recado, em tom sugestivo, ameaçava que haveria retaliação a quem participasse dos atos por um Plano de Carreira decente.

Que viessem as pedras, inclusive sob a forma de ameaça de diretores e de gerentes. Nem isso reduziria a resistência daqueles que verdadeiramente e não só em comercial de TV e rádio movem o Banrisul, os bancários e bancárias.

“As ameaças, as mensagens tudo isso mostra que a mobilização do funcionalismo do banco público é forte e que está causando medo. Nós não temos medo da chuva, não temos medo do frio, não temos medo da direção e nem do granizo. Mostramos isso hoje aqui na rua. Queremos um plano de carreira justo, pois este que a direção apresentou é pior do que temos hoje. Queremos negociar, mas não é com pressão, com intimidação e assédio moral. Vamos retomar a negociação a partir de um diálogo sério, não num cenário de ameaças”, disse o presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Mauro Salles.

Ele lembrou que o banco já recuou um dia antes do ato de 30 de abril passado, quando os banrisulenses vestiram preto e desceram aos milhares para a frente da DG. Em outro BGX, no dia 29, a direção anunciara que abria mão de extinguir o ADI e o comissionamento. Mas isso não é suficiente para os funcionários do Banrisul.

Há outros retrocessos na proposta da direção que foi rejeitada pelos trabalhadores nas assembleias do Banrisul, em 25 de abril passado. Durante dois anos de negociação na Comissão Paritária, os representantes da direção não apenas admitiam como haviam garantido aumentar salários a cada três anos.

A proposta apresentada em 16 de abril piorou o atual quadro: a progressão por tempo de serviço aumentou para intervalos de quatro anos e não há definição de critérios para a progressão na carreira por merecimento. Sem contar que o enquadramento por tempo de serviço prejudica os empregados com mais tempo de banco e as mulheres.

Mobilização estadual

Se em frente à DG, o movimento resistia à chuva, ao granizo, ao frio e ao vento, pelo interior do Estado, se espalhava sob a forma de agências paralisadas. Santa Maria, Pelotas, Santa Rosa, Viamão e outras cidades do Rio Grande do Sul, tiveram agências do Banrisul total ou parcialmente fechadas.

“A nossa paralisação é um sucesso. Nem a chuva, nem o vento atrapalharam o nosso movimento e muito menos recadinho de gerente e recadinho de direção. Somos imunes a isso. Vamos manter a nossa luta, a nossa força e buscar, com a nossa unidade, um Plano de Carreira que garanta um futuro melhor aos bancários e bancárias do Banrisul”, disse a diretora da Fetrafi-RS, Denise Corrêa.

Mais uma vez os banrisulenses mostraram que não querem apenas respeito, mas esperam valorização, decência, justiça e diálogo na elaboração do Plano de Carreira. Que ninguém brinque com o futuro de quem sabe por que e que vai lutar até o fim. Como sempre, até a vitória.

Agências paralisadas em Porto Alegre e interior do Estado

Alvorada, Alegrete, Bagé (Candiota), Camaquã e São Lourenço do Sul, Canoas (XV Janeiro, Boqueirão, Niterói), Carazinho, Caxias do Sul (Alfredo Chaves, Capuchinhos, Pio X, São Pelegrino), Cruz Alta, Esteio, Frederico Westphalen (Miraguaí), Gravataí, Guaíba, Guaporé (Casca e Serafina Corrêa), Ijuí, Novo Hamburgo (NH – parcial até 12h; Canudos – parcial até 13h), Sapiranga – parcial até 12h; Passo Fundo, Pelotas (Centro, Osório, Areal, XV de Novembro, Fragata), Porto Alegre (Azenha, Coliseu – parcial; Beira Rio, Cristóvão Colombo, Praia de Belas, Borges de Medeiros, Caminho do Meio 1, Bom Fim – parcial; Ramiro Barcelos – parcial; Parcão, Caminho do Meio 2 –
Parcial; Otto Niemeyer, Petrópolis, Teresópolis, Ipanema, Viamópolis, Três Figueiras – parcial; União, Universitária), Sapucaia do Sul, Rio Pardo (Pântano Grande, Butiá, Minas do Leão), Santa Maria (Centro – parcial; Medianeira, Bozzano, São Sepé), Santa Rosa, Sapucaia do Sul, Vacaria, Vale do Paranhana (Taquara, Parobé e Nova Hartz)

Calendário de mobilização

Quarta-feira, 15 de maio: Paralisação de três horas a partir da abertura das agências do Banrisul em todo o Estado.

Sábado, 18 de maio: Assembleia Nacional do Banrisulenses, em Porto Alegre.

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