Após três anos, países ricos devem colocar fim à era da austeridade

Simon Kennedy
Bloomberg Businessweek

A era da austeridade pode estar chegando ao fim. Após três anos de cinto apertado, governos de países que vão dos EUA à Espanha estão partindo para a flexibilização. Isso pode ser uma boa notícia porque uma das forças que têm dificultado a recuperação de americanos e europeus é o que os economistas chamam de aperto fiscal.

O termo se refere ao efeito restritivo que os cortes orçamentários têm sobre o crescimento econômico. Quanto maior ele é, mais as empresas e as famílias seguram seus gastos em resposta à menor criação de empregos pelo governo ou ao corte dos investimentos públicos em coisas como obras públicas e programas educacionais. “O abrandamento do aperto fiscal deverá ter um papel importante no apoio à retomada do crescimento global”, afirma Jose Ursua, economista do Goldman Sachs.

Os planejadores econômicos estão com espaço para manobras porque os déficits fiscais estão diminuindo, graças em parte a esforços anteriores de cortes de custos. A reação das economias também está ajudando a reduzir o rombo ao aumentar a receita tributária. Excluídos os pagamentos da dívida e suavizadas as oscilações do ciclo econômico, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que os déficits dos países do G-7 (o grupo dos países mais desenvolvidos do mundo) ficarão em média em 1,2% do PIB neste ano, abaixo da média de 5,1% registrada em 2010.

Economistas do Goldman Sachs e do Deutsche Bank acreditam que as economias industrializadas deverão quase dobrar seu ritmo de crescimento neste ano, para 2,2%, com o relaxamento dos controles sobre os gastos. O orçamento dos EUA que o Senado aprovou em 18 de dezembro restabelece US$ 63 bilhões em gastos nos próximos dois anos, efetivamente reduzindo em mais da metade os cortes automáticos conhecidos como “sequestro”.

Se não houver outro confronto por causa do teto da dívida em fevereiro, Ursua acredita que o orçamento acertado deverá ajudar a estimular a economia americana para que ela cresça 2,8% neste ano, em comparação ao 1,7% previsto para o ano passado.

A melhora da saúde fiscal dos EUA e de seus governos locais também é um bom prenúncio para a economia. Os gastos de US$ 1,74 trilhão (ajustados à inflação) dos Estados são 50% maior que o do governo federal e eles empregam sete vezes mais pessoas, segundo Joseph LaVorgna, economista-chefe do Deutsche Bank.

Depois de cair por três anos consecutivos, os gastos do governo federal e dos governos estaduais aumentaram 1,5% no terceiro trimestre de 2013, a maior alta desde o segundo trimestre de 2009. “O efeito positivo de acréscimo proporcionado por uma atividade mais forte do governo federal e dos governos estaduais é considerável”, diz LaVorgna, que prevê um crescimento de 3,2% para os EUA neste ano e de 1,8% em 2013.

A austeridade também está começando a recuar na Europa, onde ela ajudou a agravar a mais longa recessão desde que o euro começou a ser negociado em 1999. Com os países pressionados pelos investidores em bônus para enfrentar os excessos, a política fiscal através do continente não será restritiva pela primeira vez desde 2009, segundo disse Giada Giani, economista do Citigroup em Londres.

A Irlanda, que deverá ser a primeira economia europeia a se livrar do programa de socorro financeiro da região, está atenuando para ? 2,5 bilhões os cortes de 3,1 bilhões de euros (US$ 4,2 bilhões) originalmente delineados para este ano. O governo da Espanha promete não aumentar mais os impostos e até reduzi-los antes das próximas eleições, marcadas para 2015.

Na Europa, os efeitos de todos os cortes não deverão ser reduzidos antes de 2015, uma vez que as políticas implementadas em 2013 ainda não surtiram efeito pleno, segundo Laurence Boone, economista-chefe do Bank of America Merrill Lynch para a Europa. Ela acredita que a zona do euro vai crescer 0,8% neste ano, após estimada retração de 0,5% em 2013. “É importante que haja um desaparecimento geral do aperto fiscal”, diz.

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