30 anos da retomada: apuração marcada por tensão e espiões

São Paulo – Foi uma noite tensa aquela em que o Sindicato dos Bancários de São Paulo foi oficialmente retomado pela categoria, há 30 anos. Durante a apuração dos votos, representantes dos bancos e da ditadura militar infiltraram-se clandestinamente na sede da entidade para acompanhar o resultado.

“Governo não era uma coisa distante como é hoje. A ditadura militar tinha interesse nas eleições do Sindicato, tanto que o Ministério do Trabalho atrasou por seis meses o pleito”, conta o bancário João Vaccari Neto, que na época era militante de base da chapa de oposição. Vaccari ingressou na diretoria em 1985 e presidiu o Sindicato de 1998 a 2003.

O dirigente destaca que o movimento que culminou na eleição da oposição foi de extrema importância para o Brasil naquele momento de ebulição. O novo sindicalismo já começava a despontar com os Metalúrgicos do ABC e com os Bancários de Porto Alegre. Mas, ao contrário do que ocorreu com aquelas entidades, a oposição de base tomou conta do Sindicato dos Bancários de São Paulo derrotando uma direção atrelada aos patrões pela via eleitoral.

“O Lula já era diretor do Sindicato dos Metalúrgicos. O Olívio Dutra já era da direção do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre. Eles se rebelaram e arrancaram os pelegos da entidade. Aqui não. A oposição era formada por bancários de base que montaram uma chapa e arrancaram no voto uma diretoria que não era combativa e não tinha representatividade”, ressalta.

A expressiva vitória da oposição em São Paulo não só ajudou a construir o novo sindicalismo e a CUT, mas também foi importante para a unificação nacional da categoria bancária. A partir de 1979, outros sindicatos de bancários foram retomados pela categoria, com a ajuda dos colegas de São Paulo. “Em 1985 já havíamos arrancado os pelegos dos sindicatos dos bancários no Brasil inteiro. Só faltaram Goiás e alguns sindicatos no interior”, recorda Vaccari.

O movimento dos bancários também foi de extrema importância para o fim da ditadura no Brasil. A luta pela democracia e pela anistia ganhou um aliado forte com a retomada dos sindicatos. “Ao contrário das outras categorias, os sindicatos de bancários ficam, em geral, no centro das cidades. Os sindicatos dos químicos ou dos metalúrgicos ficam perto das fábricas, mas os nossos ficam no coração financeiro das cidades. Assim, pudemos ser atores importantes naquela agitação política do Brasil”, destaca.

Os primeiros anos – Foi um verdadeiro aprendizado aquele início de mandato para os novos dirigentes. Mudar a face assistencialista que a entidade tinha até então para se tornar uma entidade combativa e que lutasse pela democracia e por políticas sociais não foi tarefa fácil. Sem dinheiro, sem estrutura e com baixo número de associados, a criatividade dos novos sindicalistas supria as deficiências.

Logo na primeira greve, em 1979, a entidade percebeu que o passo inicial para construir um grande movimento era parar um importante espaço para os bancos naquela época: a câmara de compensação, onde as instituições financeiras faziam a troca física dos cheques. A repressão da ditadura não demorou. Equipes da Rota logo chegaram para conter a manifestação. Vaccari lembra que os policiais chegaram perguntando pelo chefe da paralisação. Um gaiato levantou a mão e assumiu o comando. “Ele foi preso no ato e o resto apanhou da polícia”, complementa Vaccari.

Três anos depois, em 1983, os militares promoveram uma intervenção definitiva, que durou até o fim da ditadura, em 1985. Neste período, o principal veículo de luta da categoria era a Folha Bancária, que circulava diariamente com duras críticas ao governo e palavras de ordem pelo fim da intervenção.

Segundo Vaccari, a luta dos bancários pelas reivindicações da categoria é indissociável da briga pela democracia. “Não eram lutas paralelas, eram juntas. Tanto que a polícia federal freqüentava clandestinamente as assembléias”, diz.

Política – Desde os primeiros anos da retomada, os novos dirigentes perceberam a importância de os bancários lutarem em outra frente, na política. “Sempre tivemos o entendimento de que era preciso eleger deputados estaduais e federais, vereadores. Assim conseguimos lutar com mais força por políticas sociais e na defesa dos trabalhadores. É uma tradição que mantemos até hoje”, diz Vaccari, que atualmente é suplente no Senado.

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