Valor: Bonsucesso faz acordo de R$ 1,2 bilhão com a Caixa

Valor Econômico
Ivana Moreira, de Belo Horizonte

O banco Bonsucesso assinou, sexta-feira, acordo de cessão de crédito de R$ 1,2 bilhão com a Caixa Econômica Federal (CEF). Foi o quarto e maior acordo deste tipo que a instituição mineira fechou desde a explosão da crise no mercado financeiro internacional. Os dois primeiros foram com o alemão WestLB e o terceiro com a Nossa Caixa. Os quatro acordos somam quase R$ 2 bilhões e vão garantir ao Bonsucesso uma produção mensal próxima de R$ 130 milhões, independentemente das captações próprias, ao longo dos próximos dois anos.

“É uma reserva que nos garante permanecer no mercado de forma competitiva”, explicou o presidente do banco, Paulo Henrique Pentagna Guimarães. Com a crise, a produção mensal do Bonsucesso, que é focado no crédito consignado, caiu algo em torno de 30% – de R$ 100 milhões para R$ 70 milhões mensais. Com a assinatura de mais este acordo de cessão de crédito, a expectativa do banco mineiro é elevar a produção para algo entre R$ 100 milhões e R$ 110 milhões a partir de janeiro.

Com estabilidade garantida no emprego, o tomador de empréstimo do crédito consignado – funcionários públicos, aposentados e pensionistas o INSS – foi o menos afetado pela crise financeira. Mesmo nos convênios que permitem reajuste de taxas, as altas foram menores do que em outros produtos financeiros, como cheque especial, crédito pessoal convencional e cartão de crédito. “Nosso negócio só depende de funding”, disse o executivo. “A demanda ainda é grande e ainda há muito espaço para o consignado crescer.”

Trabalhando com mais cessão de crédito do que costumava, o Bonsucesso tem investido num melhor gerenciamento da carteira de crédito para garantir a melhor rentabilidade possível. Mais de 30 funcionários da área de tecnologia da informação foram envolvidos na instalação de um novo e sofisticado processo de controles. O sistema permite à direção do banco acompanhar on-line indicadores como produção e nível de inadiplência em cada um dos convênios em que atua. Foi com base nesses dados foi que o banco cortou, nos últimos seis meses, cerca de 100 convênios de baixa rentabilidade. Uma decisão considerada estratégica para enfrentar esse momento de funding escasso. O banco também descredenciou uma série de correspondentes. “Todos os bancos com quem negociamos cessão de crédito ficaram impressionados com a nossa expertise no gerenciamento do crédito consignado”, garantiu Guimarães. “A hora é de ser melhor e não maior.”

Embora a produção do banco esteja hoje menor e que a perspectiva para 2009 seja trabalhar com mais cessão de crédito do que o banco costumava fazer, Paulo Henrique Pentagna Guimarães lembra que o spread bancário subiu e que as comissões pagas aos correspondentes do crédito consignado caíram muito. Esses fatores, de acordo com ele, contribuem para equilibrar a conta.

Para garantir a rentabilidade do negócio, a direção do banco também enxugou sua estrutura. Demitiu 300 dos 800 funcionários. “Redesenhamos o banco Bonsucesso para enfrentar a crise.” Os acordos de cessão de crédito são um colchão de segurança para o banco mineiro. Mas o presidente do banco diz estar atento às oportunidades para voltar a captar. O Bonsucesso pretende lançar um fundo de direitos creditórios (FDIC) de R$ 500 milhões no fim do primeiro trimestre de 2009. Tudo dependerá, claro, do patamar em que estiverem as taxas dessa operação. “Se continuar mais caro do que cessão de crédito, vamos adiar.”

Segundo o presidente, ainda é cedo para falar do balanço do ano, que ainda será impactado pelo comportamento do mercado ao longo de dezembro. Mas a expectativa é fechar o ano com carteira total de crédito em torno de R$ 600 milhões. As operações com aposentados e pensionistas do INSS deverão representar cerca de 50% da carteira. Em 2007, o Bonsucesso registrou um lucro líquido de R$ 80 milhões e um patrimônio líquido de R$ 280 milhões, o que lhe garantiu uma das melhores rentabilidades do setor.

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