Tentativa de barrar homenagem a João Cândido expressa ressentimento das elites, diz Almir Aguiar
Diversidade
Secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT avalia manobra de comandante da Marinha para impedir inclusão de líder da Revolta da Chibata no panteão dos heróis da Pátria
O secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, rebateu a críticas do comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, que enviou, nesta semana, uma carta à Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados contra o Projeto de Lei nº 4.046/2021, que inclui João Cândido Felisberto, militar negro, líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
O PL foi aprovado no Senado em 2021 e, agora, está em debate na Câmara dos Deputados. Na última quarta-feira (24), a Comissão de Cultura daquela casa fez uma audiência sobre o tema, quando foi ouvido o ofício enviado pelo comandante da Marinha, pedindo que o nome de João Cândido Felisberto, não fosse incluído no panteão dos heróis da Pátria.
As razões apontadas por Marcos Sampaio Olsen são de que a homenagem ao líder da Revolta da Chibata transmitiria "em particular aos militares, a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhes foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe". O comandante da Marinha também chamou de "heroísmo infundado" o reconhecimento ao líder negro que se levantou contra a prática de torturas.
"As afirmações do comandante Olsen não têm nenhuma fundamentação histórica e expressam todo o preconceito e ressentimento que as elites, civis e militares, ainda carregam contra os movimentos de reação da população negra contra o racismo, a exploração do trabalho e toda a forma de injustiça social no Brasil", pontuou Almir Aguiar.
"Por mais que os militares prezem pela hierarquia, a Marinha não tem como negar que a rebelião de João Cândido foi, antes de tudo, uma ação humanitária contra os maus tratos e humilhações impostas aos trabalhadores marinheiros. Embora a revolta tenha acontecido após a abolição da escravatura, o racismo estrutural permaneceu não só nos quartéis como em toda a sociedade. Cândido foi uma voz pela liberdade e por condições dignas de trabalho", acrescentou o sindicalista.
"É preciso haver uma mobilização de toda a sociedade em defesa desta homenagem a João Cândido, que não foi apenas um grande líder contra o racismo e as práticas de violência contra trabalhadores na Marinha, mas um verdadeiro herói nacional", concluiu o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT.