Setor bancário elimina 8,8 mil postos de trabalho em 2025, apesar do avanço do emprego no país

Dados do Novo Caged apontam saldo positivo no mercado formal brasileiro, mas revelam retração preocupante no setor financeiro, especialmente entre os bancos privados

Imagem ilustrativa

O mercado de trabalho brasileiro segue apresentando recuperação em 2025, mas o cenário positivo não se repete no setor bancário. De acordo com dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre janeiro e setembro deste ano o país registrou saldo de +1,7 milhão de empregos formais, enquanto o ramo financeiro, excluindo a categoria bancária, teve aumento de 15,9 mil postos de trabalho.

Entretanto, o setor bancário caminha na direção oposta: 8.807 vagas foram eliminadas nos nove primeiros meses de 2025, e 1.866 somente em setembro, um dos piores resultados mensais desde o início da série histórica do Novo Caged, em 2020. O resultado reflete, em grande parte, as demissões em massa promovidas pelo Banco Itaú, que impactaram diretamente o saldo negativo do período.

“O fechamento de postos de trabalho nos bancos contrasta com o bom desempenho da economia e do próprio sistema financeiro, que tem apresentado lucros bilionários. Isso mostra que a digitalização tem sido usada como justificativa para reduzir pessoal e precarizar o atendimento, em vez de gerar oportunidades e melhorar as condições de trabalho”, afirmou Walcir Previtale, secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT.

Segundo ele, o movimento de reestruturação promovido pelas instituições financeiras vem provocando uma redução contínua do número de agências e da força de trabalho, com impacto direto na qualidade do atendimento e no emprego bancário. “Os bancos estão cada vez mais concentrados nas plataformas digitais, mas isso não significa que o trabalho diminuiu. Pelo contrário, há sobrecarga nas equipes e fechamento de unidades que prestavam serviços essenciais à população”, destacou Walcir.

Desde o início da série histórica do Novo Caged, em janeiro de 2020, o setor bancário acumula perda de 23,8 mil vagas, resultado de sucessivas reestruturações e mudanças no modelo de atendimento. Em contrapartida, a Caixa Econômica Federal tem sido exceção, com saldos positivos de emprego em todas as bases de comparação.

A análise regional mostra que, nos últimos 12 meses, houve fechamento de vagas em todas as regiões do país, com exceção do Centro-Oeste. As maiores perdas ocorreram no Sudeste (-5.956 vagas), seguido pelo Sul (-2.144), Nordeste (-940) e Norte (-318).

Na cidade de São Paulo, onde estão sediados os principais bancos privados, a retração foi ainda mais expressiva. Após um período de estabilidade, o mercado de trabalho bancário voltou a cair de forma acentuada, com destaque para 1.358 vagas eliminadas em agosto e 2.676 desligamentos em setembro, reflexo direto das demissões no Itaú.

Além da redução de pessoal, a análise revela mudanças estruturais nas ocupações bancárias. O crescimento das contratações se concentra em áreas de tecnologia e inovação, como analistas e programadores de sistemas, enquanto cargos tradicionais das agências, como gerentes administrativos e de contas, sofrem forte retração.

Outro ponto de preocupação é o impacto desigual das demissões sobre as mulheres. Cerca de 66% dos postos fechados em 2025 eram ocupados por trabalhadoras, o que reforça a desigualdade de gênero no setor, sobretudo diante da predominância masculina nas áreas de tecnologia.

“Os dados mostram que, além de eliminar vagas, o setor bancário reproduz desigualdades históricas. É preciso garantir que o avanço tecnológico venha acompanhado de políticas reais de equidade de gênero e raça, e não de exclusão”, ressaltou Walcir Previtale.

A análise por faixa etária aponta crescimento apenas entre trabalhadores com até 29 anos, enquanto há queda significativa nas demais faixas, indicando um processo de substituição etária e de perda de profissionais mais experientes.

No recorte racial, as estatísticas mostram saldo positivo de 104 vagas para pessoas pretas e queda de 1.357 postos para pardos, além da redução mais expressiva entre brancos (-7.120). O quadro reflete a composição do setor, em que pessoas brancas representam 68,5% dos trabalhadores bancários.

Em relação à remuneração, o salário médio dos admitidos em 2025 foi de R$ 7.743,43, equivalente a 90% do valor médio dos desligados (R$ 8.589,85). Ainda assim, os rendimentos no setor continuam muito superiores à média nacional (R$ 2.286,34).

A diferença salarial por gênero e raça segue expressiva: mulheres negras recebem, em média, 55% do salário dos homens não negros na admissão e 58% no desligamento. “Essas distorções comprovam que o racismo e o machismo estruturais também se manifestam nas relações de trabalho dentro dos bancos. Por isso, é fundamental manter viva a atuação da Contraf-CUT nas mesas de negociação de igualdade de oportunidades”, concluiu Walcir Previtale.

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