Santander naturaliza demissões durante pandemia

Indiferente à pandemia e ao desemprego, banco não admite que descumpriu com a palavra e trata as demissões como ajustes naturais em busca da competitividade

Em reunião por videoconferência entre a Comissão de Organização dos Empregados (COE) e o Santander, ocorrida na quarta-feira (1º), o banco não aceitou qualquer tipo de negociação para cessar as demissões e a política abusiva de cobrança de metas e, pior do que isso, tratou as demissões neste momento de pandeia como ajustes naturais para que o banco se torne competitivo.

“Para um banco que, em três meses, teve lucro líquido de R$ 3,85 bi, isso é, no mínimo, desumano. Ainda mais num momento em que temos mais de mil mortes por Covid-19 ao dia e o desemprego atinge quase 13% dos brasileiros”, criticou o secretário de Assuntos Socioeconômicos e representante da Contraf-CUT nas negociações com o banco, Mario Raia. “Mas, mesmo obtendo no Brasil 29% do total de seu lucro mundial, parece-nos que o banco espanhol não se importa com os brasileiros”, completou o dirigente sindical ao lembrar que o banco trata de forma mais dura seus funcionários e clientes do Brasil.

Sem negociação

O banco voltou a rechaçar a informação veiculada pelo jornal Folha de S. Paulo de que o banco planeja demitir 20% de seu quadro de pessoal, mas continua demitindo funcionários e não apresentou nenhuma informação sobre quantas demissões já foram feitas e tampouco quantas serão.

Para a coordenadora da COE do Santander, Maria Rosani, o banco quebrou o compromisso assumido com o Comando Nacional dos Bancários de que não demitiria funcionários durante a pandemia. Ela lembra que o compromisso também está registrado no balanço trimestral do banco.

“O banco mente inclusive para seus acionistas e para a sociedade, pois em seu balanço trimestral está escrito que não demitiria durante a pandemia. Ou seja, no documento oficial que é divulgado para o mundo e para os acionistas, o Santander Brasil passa a imagem de empresa responsável socialmente, coisa que na realidade não é”, disse Rosani. Em seu relatório de Demonstrações Financeiras do 1º trimestre de 2020, o Santander afirmou que “devido ao contexto atual do Covid-19, o Santander firmou o compromisso de não demitir funcionários durante a crise.”

Mario também coloca em dúvida a credibilidade do banco. “Não é possível acreditar que, em uma reunião que tinha como ponto de pauta as demissões, o banco não tenha trazido qualquer informação sobre o tema. Ficou claro que foi uma reunião pró forma, na qual o banco participou apenas por participar, mas sem nenhum compromisso, intenção, ou poder para negociar”, disse.

Para o dirigente da Contraf-CUT, na verdade, o Santander foge das negociações específicas e emperra as tratativas com os demais bancos. “Não deixa as negociações fluírem na mesa conjunta da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) ao dizer que se trata de assunto específico de cada banco e não aceita negociar na mesa individual. É uma típica postura de quem não quer negociar e foge do compromisso”, disse.

Metas abusivas

Outro ponto de pauta menosprezado pelo banco foi a cobrança abusiva de metas, que já gerou condenação judicial ao Santander. O banco lançou uma campanha chamada “Motor de Vendas”, que define o cumprimento pelos funcionários de metas crescentes. Muitos gestores orientam os funcionários a postarem fotografias com cartazes informando quantos produtos venderam no dia e na semana, com metas de 10 produtos vendidos por dia e 55 na semana.

“O banco alega que a campanha não é orientação institucional, mas uma prática realizada pelos próprios gestores. Mas, se ela é feita por todos os gestores, em todas as redes comerciais, passou a ser uma prática da instituição. O banco não pode, simplesmente, menosprezar a prática. Ainda mais tendo consciência de que os gestores estão fazendo isso”, argumentou o dirigente da Contraf-CUT.

Home office e o dito pelo não dito

Em entrevista ao vivo, divulgada no canal do Santander no Youtube, o presidente do banco no Brasil, Sergio Rial, afirmou que os funcionários que trabalham em home office devem “voluntariamente” abrir mão de direitos e parte da remuneração. Segundo Rial, os funcionários que trabalham em home office têm gastos menores e deveriam dividir parte destas economias com o banco.

Ao ser questionado na reunião sobre tal afirmação, a representação do banco disse que não existe nenhum projeto do banco sobre o home office e que a afirmação de Rial foi apenas uma explicação genérica, que não se referia especificamente ao banco.

Os dirigentes lembraram que, além da declaração de Rial, funcionários receberam um questionário para apurar informações e impressões pessoais sobre o home office.

Mais uma vez a representação do banco desconversou e tirou a responsabilidade da instituição sobre a pesquisa, dizendo tratar-se de iniciativa individual de um gestor da área de TI.

“E, assim, fica o dito pelo não dito. Um vídeo com a declaração do CEO do banco não merece consideração. Uma campanha de cobrança abusiva de metas, que descumpre nossa Convenção Coletiva de Trabalho sobre a proibição de ranking pessoal de funcionários e sobre o estabelecimento de metas abusivas, também não deve ser levada em conta. E, por fim, uma pesquisa sobre home office deve ser desconsiderada. O que mesmo que o Santander diz que podemos acreditar?”, ironizou Mario Raia.

Ao final da reunião, ficou agendado, para a tarde de sexta-feira (3), um novo encontro entre a representação dos trabalhadores e o banco para a continuidade das conversações e o Santander apresentar detalhes sobre o programa Motor de Vendas; sobre a mudança de função do GA e do GR; e também deve apresentar uma proposta de banco de horas negativo.

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