Mulheres negras em luta: resistência e poder no centro da transformação social

No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, Contraf-CUT reforça a urgência de políticas por igualdade racial, reparação e justiça no mundo do trabalho

Imagem ilustrativa

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) se une às mobilizações desta quinta-feira (25) para marcar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, uma data que reafirma a luta contra o racismo estrutural e o machismo que ainda atravessam a vida das mulheres negras no Brasil e nas Américas.

Instituída em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, a data também homenageia, no Brasil, Tereza de Benguela, líder quilombola, símbolo de resistência, coragem e organização popular. Mais do que celebração, o dia 25 de julho é um marco de mobilização por justiça social e por políticas públicas efetivas.

“Celebrar o 25 de Julho é reafirmar o compromisso com uma luta que é histórica e atual. É reconhecer o papel da mulher negra na construção do nosso país e nos espaços de trabalho, onde segue enfrentando desafios diários causados pelo racismo e pelo machismo estrutural”, afirma Fernanda Lopes, secretária da Mulher da Contraf-CUT.

Violência, trabalho e desigualdade: os dados que escancaram o racismo estrutural

A relevância da data é reforçada pelos números que escancaram a desigualdade racial e de gênero no país. De acordo com o Atlas da Violência (2023), 66% das vítimas de feminicídio no Brasil são mulheres negras. 

No mercado de trabalho, elas também figuram entre as mais afetadas pela informalidade, pelo desemprego e pelos baixos salários. Dados da PNAD Contínua (IBGE) mostram que, no 4º trimestre de 2023, 41% das mulheres negras estavam em ocupações informais, contra 31% de mulheres não negras. Além disso, entre as mulheres que representam 91% da força de trabalho nos serviços domésticos, 67% são negras.

“O racismo e o sexismo se entrelaçam para manter a mulher negra nas posições mais vulneráveis. Precisamos mudar essa realidade com políticas de igualdade que vão além da inclusão — é hora de estruturar novas relações de trabalho, valorização e distribuição de renda”, defende Lopes.

A força coletiva do Julho das Pretas, da Marcha e da CONAPIR

O mês de julho reúne diversas ações de visibilidade e resistência das mulheres negras. A iniciativa Julho das Pretas, por exemplo, demonstra que esse período é marcado por rodas de conversa, atos públicos, feiras de empreendedorismo negro e manifestações culturais promovidas por sindicatos, movimentos sociais e organizações da sociedade civil.

Uma das principais mobilizações desse período é a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, iniciada em 2015, que reúne milhares de mulheres em Brasília para denunciar as múltiplas formas de opressão. Em 2025, a expectativa é reunir um milhão de mulheres negras na capital federal, em novembro, cobrando reparação histórica e políticas públicas estruturantes.

Para Almir Aguiar, secretário de Políticas Raciais da Contraf-CUT, não basta apenas reconhecer a desigualdade: é fundamental repará-la, e as iniciativas existentes são poderosas nesse sentido. “Não basta reconhecer as injustiças do passado — é preciso agir no presente com medidas concretas de reparação. A Marcha é um marco de resistência e uma poderosa ferramenta de mobilização popular”, pontua o dirigente.

Outro marco importante desse ciclo de lutas é a realização, em setembro, da 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CONAPIR), que debaterá o enfrentamento ao racismo e às outras formas de intolerância, reunindo gestores públicos, ativistas, lideranças e movimentos sociais.

“É fundamental fortalecer os espaços institucionais de escuta e decisão. A CONAPIR é uma oportunidade estratégica para propor políticas que enfrentem o racismo no mundo do trabalho e garantam o bem viver à população negra”, acrescenta Aguiar.

VIII Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro


A categoria bancária também realiza atividades, periodicamente, nesse sentido, a exemplo do Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro, que acontece todo o mês de novembro, desde 2011, por meio da Secretaria de Combate ao Racismo da Contraf-CUT. Neste ano, a VIII edição do fórum acontecerá entre os dias 6 e 7 de novembro, na cidade de Fortaleza (CE).

Almir Aguiar explica que o evento é destinado prioritariamente a dirigentes sindicais envolvidos com as pautas de igualdade de oportunidades, combate ao racismo e políticas sociais, além de bancários(as) da base e integrantes de movimentos sociais.

"No setor bancário, o número de mulheres negras não contempla a realidade do universo de negros e negras da população brasileira (que compõe quase 56% de toda a população do território)", ressalta o secretário. Ele completa que as mulheres negras, na categoria bancária, recebem em média 51% da remuneração dos colegas brancos, ainda que exercendo as mesmas atividades e com as mesmas responsabilidades. "Essa realidade é reflexo da estrutura social, criada por processos históricos, por isso avançar não é fácil. Mas esses avanços existem e são construídos dia após dia, a partir da luta dos movimentos sociais", pontua Almir.

*Com informações da CUT

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