Muda diretoria do Sindicato de São Paulo e Juvândia assume presidência

Estavam lá cerca de dois mil bancários, além de parlamentares, dirigentes sindicais das mais diversas categorias, líderes políticos. A solenidade que marcou os 87 anos do Sindicato dos Bancários de São Paulo e a transmissão de cargo da Presidência da entidade lotou a Quadra dos Bancários na última sexta-feira 28. E foi histórica, já que reuniu os últimos presidentes do Sindicato desde a retomada da entidade, nos tempos da ditadura, há 30 anos.

Luiz Cláudio Marcolino, presidente nos últimos seis anos, transmitiu o cargo à então secretária-geral, Juvandia Moreira, tendo ao seu lado Augusto Campos (presidente entre 1979 e 1983), Luiz Gushiken (1985 a 1987), Gilmar Carneiro (1988 a 1994), Ricardo Berzoini (1994 a 1998) e João Vaccari Neto (1998 a 2004).

“Nosso Sindicato tem como característica histórica a transição democrática e isso me deixa muito orgulhoso”, disse Marcolino, lembrando que os bancários conquistaram na luta aumento real de salários por seis anos seguidos.

“Vale lembrar também que no ano passado garantimos cerca de 15 mil empregos na Caixa e no BB, além da mudança na estrutura da regra da PLR que rendeu mais dinheiro no bolso do bancário. Mas temos novos desafios com a Juvandia na liderança, como lutar para garantir auxílio-educação para os funcionários do Bradesco. Nossa luta continua permanentemente” afirmou.

Com uma história muito especial, a presidenta Juvandia assumiu o compromisso de continuar a enfrentar os desafios para ampliar os direitos dos bancários. “Estamos às vésperas de mais uma campanha. Temos o desafio de conduzi-la bem.” E destacou: “nossa entidade tem histórico de solidariedade e de luta e a isso daremos continuidade”.

Mudou

Com a transmissão de cargo, a diretoria executiva do Sindicato fica assim constituída: Presidência/Juvandia Moreira; Secretaria Geral/Raquel Kacelnikas; Secretaria de Finanças/Ivone Maria da Silva; Secretaria de Organização/Rita Berlofa; Secretaria de Assuntos Jurídicos/Daniel Reis; Secretaria de Imprensa/Ernesto Izumi; Secretaria de Relações Sindicais e Sociais/Paulo Salvador; Secretaria de Formação/André Luis Rodrigues; Secretaria de Saúde/Walcir Previtale Bruno; Secretaria Cultural/Vera Marchioni; Secretaria de Assuntos Socioeconômicos/Ana Tércia Sanches.

História de lutas e conquistas

Presidente que liderou a entidade na época da transição para a democracia, em 1979, Augusto Campos relembrou os desafios. “Começamos com um sonho e hoje somos uma realidade, pois quando a classe trabalhadora consegue eleger um presidente com compromisso com os trabalhadores temos de ter orgulho disso. Estamos formando novos companheiros para que eles possam seguir na luta”, afirma.

Luiz Gushiken mencionou a força dos bancários. “Quando uma categoria de trabalhadores é audaciosa, forte e combativa não só constrói a organização da classe, mas também forma novas lideranças como a Juvandia. E essa categoria é um manancial de lideranças.”

Gilmar Carneiro destacou que a luta dos bancários contribuiu na formação de novas lideranças. “Nosso maior marco, além da luta pela redemocratização, foi encarar uma greve na Cidade de Deus, sede do Bradesco. Dessa luta, novas lideranças foram consolidadas, como Juvandia.”

Ricardo Berzoini ressaltou a força da mulher dentro da categoria. “A gente vê renovação no Sindicato. Nesta noite se consolida o desejo de grandes lideranças no movimento sindical. A Juvandia representa a força e a garra da mulher bancária.”

João Vaccari Neto falou da categoria como vanguarda na ampliação de direitos da classe trabalhadora. “A cada transição damos um grande passo histórico na nossa organização e na nossa capacidade de negociação e na ampliação dos nossos direitos e na capacidade de luta.”

PRIMEIRA ENTREVISTA

Baiana de Nova Soure, Juvandia saiu pela primeira vez de sua terra natal aos 17 anos, quando foi escolhida com mais 21 estudantes da Bahia para participar de um intercâmbio cultural no Canadá, por três meses, aprendendo francês e atuando em projetos sociais.

Pouco tempo depois veio para São Paulo com o objetivo de aprimorar os estudos. Trabalhou no comércio, e sete meses depois, em 1992, tornou-se funcionária do Bradesco. Trabalhou em agências bancárias e no câmbio. A presidenta do Sindicato é formada em Direito e pós-graduada em Relações Internacionais.

Como iniciou sua militância sindical?

Acredito que as pessoas que atuam no movimento sindical têm um perfil social, se preocupam com o desenvolvimento comum e não apenas individual. Comigo não é diferente. Comecei a estudar Direito, porque achava que poderia fazer justiça.

Minha formação acadêmica foi muita válida até porque, para mudar a ordem que contestamos, primeiro é necessário conhecê-la bem. Mas percebi que a luta coletiva é uma oportunidade muito maior de fazer justiça social.

Antes de 1997, quando entrei na direção do Sindicato, participava das assembleias e de cursos de formação e pude conhecer a entidade e sua ação cidadã, que luta pela categoria e olha para a sociedade como um todo, tem solidariedade de classe e é referência para todos os trabalhadores. E sempre foi um orgulho participar de um Sindicato como o nosso.

Fui diretora de Assuntos Jurídicos, de Organização e nos últimos seis anos estive à frente da Secretaria-Geral. Organizava as regionais do Sindicato e era responsável pelas negociações das campanhas salariais dos financiários, dos trabalhadores das cooperativas de crédito e dos funcionários dos bancos de investimento. Em 2009, conduzi a Campanha Nacional dos Bancários juntamente com o Luiz Cláudio.

Qual o significado de ser a primeira mulher a chegar à presidência deste Sindicato?

Sinto-me muito honrada e sei da grande responsabilidade que tenho. Até porque grandes nomes estiveram à frente do Sindicato e poder sucedê-los e dar continuidade a esse trabalho é uma oportunidade única. Essa entidade tem uma história de luta pela igualdade, foi um dos primeiros a conquistar uma cláusula sobre o assunto na convenção coletiva.

De qualquer forma, ser a primeira mulher a assumir esse cargo tem uma representação, uma simbologia, que serve de referência para mulheres trabalhadoras, para o movimento sindical e outros setores. Queremos igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Metade da nossa categoria é de mulheres e suas reivindicações específicas, como a equiparação salarial e direito à ascensão profissional, agregam na construção de pautas e em novas conquistas.

Quais são os desafios à frente do Sindicato?

Manter e ampliar direitos dos trabalhadores, representar os 134 mil bancários de São Paulo, Osasco e região, bem como desenvolver as atividades de um sindicato-cidadão.

Esses são os desafios permanentes do nosso Sindicato. Para isso é necessário organizar ainda mais, ampliar ainda mais a participação dos trabalhadores que são o alicerce dessa entidade e que dão o apoio necessário para garantir conquistas na mesa de negociação e ir à greve quando necessário.

Para isso, temos uma equipe de diretores e funcionários envolvidos e dedicados para mobilizar a categoria e ao mesmo tempo manter serviços, defender e informar o trabalhador e desenvolver atividades de lazer e cultura, enfim fazer o Sindicato funcionar.

Acredito que além das questões econômicas, destaca-se a luta em defesa do emprego e direitos em uma categoria que ainda digere grandes processos de fusões. Estamos atentos às especificidades, inclusive nos bancos públicos.

Sem dúvida entre os principais desafios está o Plano de Carreira, Cargos e Salários no Banco do Brasil e de Planos de Funções e Gratificações na Caixa Federal. A reestruturação apresentada pela Caixa é um outro desafio. Vamos buscar a garantia de recolocação desses trabalhadores, bem como de função.

Outro desafio não menos importante é atuar para manter os bancos públicos como fomentadores do desenvolvimento social.Também se fazem necessários avanços nas condições de trabalho, com melhoria na saúde e segurança dos trabalhadores.

Outra reivindicação prioritária é a extensão de auxílio-educação a toda a categoria. É necessário caminhar ainda nas questões sociais e de igualdade de oportunidade, seja em gênero, raça ou orientação sexual.

Além das questões de interesse dos bancários, não podemos perder de vista os desafios da classe trabalhadora. Vamos continuar batalhando para que conquistas da nossa categoria, como a licença-maternidade de 180 dias, sejam ampliadas para todas as trabalhadoras brasileiras. Vamos continuar apoiando as reivindicações da classe por meio das marchas para pressionar os parlamentares e defender os interesses dos trabalhadores.

Vamos intensificar nossa organização internacionalmente para que diretos mínimos sejam respeitados em qualquer parte do planeta. No nosso setor temos instituições financeiras que atuam globalmente e que terão também de respeitar os direitos dos trabalhadores nessa escala.

Quais as perspectivas à frente da campanha nacional unificada?

A campanha nacional é uma prioridade. Nos próximos dias já disponibilizaremos a consulta para que os bancários apontem quais serão as reivindicações prioritárias para a Campanha 2010 que serão debatidas na Conferência Nacional, entre os dias 25 e 27 de julho, quando será definida a pauta de reivindicações da categoria.

Vale ressaltar que os bancários entrarão nessa campanha sem abrir mão de mais um no consecutivo de aumento real de salários e de ampliação da PLR. Os lucros recordes publicados nos balanços das instituições financeiras nesse primeiro trimestre (os cinco maiores bancos somaram ganhos de R$ 9,5 bi) e as expectativas de expansão do crédito são uma prova de que as instituições financeiras podem fazer isso.

As preocupações com saúde e segurança do trabalhador também serão levadas à mesa de negociação com a Fenaban. E melhorar as condições de trabalho significa acabar com o assédio moral, as metas abusivas, ampliar a segurança e diminuir riscos nas agências bancarias. Não é à toa que desde abril estamos promovendo a campanha Menos Metas, Mais Saúde com objetivo de questionar a gestão dos bancos, que adoece a categoria.

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