Movimento sindical prepara documento que será entregue aos líderes do G20

Classe trabalhadora divide reivindicações em três eixos: reforma das instituições de governança global; promoção da inclusão social; e desenvolvimento sustentável e nas transições energéticas

Imagem ilustrativa

O movimento sindical, incluindo a Contraf-CUT, movimentos populares e outras entidades da sociedade civil participam, até o próximo sábado, 16, do G20 Social, no Rio de Janeiro, encontro que culminará em um documento a ser entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, posteriormente, apresentado aos líderes do G20, cuja cúpula será realizada, também na capital fluminense, na próxima semana.

O documento a ser elaborado e entregue ao presidente Lula será uma síntese dos vários debates realizados durante o G20 Social, inclusive sobre o mundo do trabalho. Um total de mais de 270 atividades organizadas pelos movimentos populares subsidiam a elaboração desse documento.

“Na semana que vem os líderes dos países mais ricos, do G20, vão se reunir para discutir as questões econômicas. O que queremos é que as nossas pautas estejam incluídas nessas discussões. Não é aceitável que eles discutam as políticas dos países não tratando de temas como a geração de emprego, a transição justa e a sustentabilidade, sob a ótica da classe trabalhadora.  O combate às desigualdades tem que fazer parte das políticas a serem adotadas pelos países”, diz a secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT, Elaine Cutis, que participa do G20 Social.

Para o vice-presidente da Contraf-CUT, Vinícius Assumpção, o G20 Social é um marco para a democracia não só no Brasil, mas no mundo. “É um espaço de participação e diálogo social inédito. O presidente Lula receberá nossas demandas e vai apresenta-las aos líderes mundiais, o que significa que a nossa voz será ouvida”, disse o dirigente.

“Daqui sairão resoluções que podem realmente mudar o mundo, para que seja mais justo tanto para a classe trabalhadora como para toda a sociedade. São questões fundamentais como a transição energética justa, a proteção aos direitos dos trabalhadores, a geração de empregos decentes, temas que são urgentes para o futuro do planeta”, pontou Vinicius.

Documento da classe trabalhadora

A CUT, representando suas entidades filiadas, elaborou um documento que contém as demandas principais da classe trabalhadora para fazerem parte do documento final do G20 Social.

Divido em três eixos, o documento da CUT, intitulado SEM TRABALHO, SEM FUTURO: GARANTIR TRABALHO DECENTE PARA COMBATER A FOME, A POBREZA E A DESIGUALDADE NO MUNDO aborda questões como a redução da jornada de trabalho, bandeira histórica do movimento sindical, que ganhou ainda mais holofotes e atenção da sociedade com a campanha contra a Jornada 6X1; a geração de emprego e renda em escala mundial, combate às desigualdades, transição justa e sustentabilidade e reforma da governança global.
 

Clique aqui para acessar o documento na íntegra.

Sustentabilidade e meio ambiente

Um dos debates feitos sobre transição justa foi organizado pela Federação Única dos Petroleiros. O debate Transição energética justa soberana e popular para o desenvolvimento sustentável da humanidade, organizada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) abordou questões como a necessidade de ouvir os movimentos populares no que se refere à transição energética.

“É fundamental que a discussão sobre o modelo energético do futuro, que seja sustentável, tenha foco nas demandas dos trabalhadores. Mais do que ouvir os trabalhadores, eles têm que ter participação efetiva e real na construção das alternativas sustentáveis, no modelo energético. Essa foi a tônica do debate da FUP”, disse Elaine Cutis.

Elaine ainda afirmou que no que se refere ao meio ambiente e à sustentabilidade, a classe trabalhadora, que é a mais impactada, tem que ter seu lugar de fala e de ação. E o G20 Social é o espaço onde essas demandas são ouvidas.

Mulheres

A luta pela igualdade salarial também foi destaque no primeiro dia de atividades do G20 Social. A visibilidade à luta pela igualdade salarial ganhou ainda mais destaque com a adição de elementos fundamentais à luta. Um deles é que é preciso não somente alcançar a equidade salarial, mas também mudar todo o sistema de trabalho de modo que a mulher seja de fato valorizada. A mesa teve participação do movimento sindical cutista, representado por Amanda Corsino, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT.

“Demos foco à lei da igualdade salarial, e elaboramos um documento relatando o que leva as mulheres a ganhar menos que os homens para propor que ações e políticas sejam implementadas nos países do G20”, disse a dirigente.

Mas ela reforçou que quando se fala nesse tema, o assunto é mais amplo e envolve um realidade que precisa mudar, acabando com o machismo, para que haja, de fato, equidade.

“Dentro da sociedade que temos, o trabalho tem que ser valorizado, mas acima de tudo as elas têm que ter as mesmas oportunidades, inclusive com recorte racial, porque as mulheres negras são as mais impactadas por esse machismo estrutural”, pontou Amanda.

Elaine Cutis, que também participou da mesa, lembrou que o movimento sindical bancário atua para que essa mazela seja resolvida. “Nas campanhas salariais da categoria bancária, o tema é destaque nas negociações e, além de igualdade salarial, cobramos dos bancos que haja a equidade nas carreiras e, em especial, ações de promoção de igualdade racial, que favoreçam as mulheres negras”, disse a dirigente.

G20 Social

Anunciado pelo presidente Lula na 18ª Cúpula de Chefes de Governo e Estado do G20, em Nova Délhi, na Índia, quando o Brasil assumiu simbolicamente a presidência do bloco, o G20 social tem como objetivo ampliar a participação de atores não-governamentais nas atividades e nos processos decisórios do G20, ou seja, por meio de diálogo e iniciativas para a inserção das demandas da classe trabalhadora nas discussões do G20.

“O G20 Social é esse momento crucial em que a sociedade civil volta a ter espaço, ter participação na construção do futuro não somente do Brasil, mas de outros países também, afinal muitas das demandas são comuns às nações. Até então, as entidades da sociedade civil e dos movimentos populares realizavam atividades à parte das reuniões do G20. Agora, no Brasil, de forma inédita e pioneira, essas atividades fazem parte do calendário oficial, o que significa que a sociedade passa, definitivamente, a ter voz no G20”, explica Elaine Cutis.

Ela reforça ainda que a iniciativa é tão exitosa que já foi sinalizado o compromisso da África do Sul  de, no próximo ano, o evento também ser incluído no calendário oficial da Cúpula do G20. Até então, as atividades do G20 Social eram organizadas à parte, sem o caráter oficial, como está sendo, pela primeira vez, no Brasil.

É formado por 13 grupos de engajamento. São eles o C20 (sociedade civil); T20 (think tanks); Y20 (juventude); W20 (mulheres); L20 (trabalho); U20 (cidades); B20 (business); S20 (ciências); Startup20 (startups); P20 (parlamentos); SAI20 (tribunais de contas); J20 (cortes supremas) e O20 (oceanos).

O evento mais importante do G20 Social é justamente a Cúpula Social, que acontece até o dia 16 de novembro, antecedendo a Cúpula de Líderes do G20, as duas no Rio de Janeiro.
 

L20 - Trabalho

O grupo de engajamento que discute o trabalho é encabeçado pela CUT. Como proposta a ser levada ao presidente Lula e que fará parte do documento final do G20 Social, foram elencados três eixos fundamentais:

  • - Reforma das instituições de governança global

  • - Promoção da inclusão social e combate à fome e a pobreza.
  • - Avançar no desenvolvimento sustentável e nas transições energéticas

Movimento negro

Entre as várias temáticas trazidas ao G20 Social estão as pautas da população negra. O secretario de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar, também presente ao evento, destacou a participação de movimentos negros nos debates.

“Chama a atenção, em especial neste mês da Consciência Negra, dar luz a temas como racismo ambiental que impacta mais as populações periféricas. O desmatamento, a transição energética e vários outros temas relacionados à destruição do meio ambiente trazem consequências mais graves a estas populações, cuja maioria é de pessoas negras’, diz o dirigente.

Ele também cita a inteligência artificial como fator de atenção por discriminar a população negra. “É preciso aprimorar essas tecnologias, os algoritmos. Não podemos deixar que sistemas da polícia para identificação de criminosos, por exemplo, tenham na população negra seus maiores alvos”, explicou Almir.

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