Movimento sindical cobra dos bancos compromisso com saúde mental dos trabalhadores

Comando Nacional exige que os sindicatos sejam protagonistas na implementação das NRs 1 e 17. "Sem a participação dos trabalhadores, nenhum programa de gerenciamento de riscos psicossociais será efetivo"

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A saúde mental e a implementação das Normas Regulamentadoras (NRs) 1 e 17 foram o foco do encontro entre o Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), realizada na tarde desta segunda-feira (30), em São Paulo.

O movimento sindical entregou aos bancos o texto final para a cartilha de orientação aos trabalhadores que precisarem se afastar por motivos de saúde. "Neste material, explicamos aos quais são as doenças mais comuns entre os bancários, que medidas devem ser tomadas pelas empresas, como os funcionários devem buscar ajuda e, o principal, caso tenham necessidade de afastamento, quais caminhos devem seguir", explica Mauro Sales, secretário de Saúde da Contraf-CUT.

Na reunião anterior sobre o tema, realizada em abril, a Fenaban ficou responsável de produzir outra cartilha, com diretrizes sobre o que caracteriza o assédio, o que define um ambiente de trabalho saudável e como os trabalhadores podem identificar e reagir a situações de violência organizacional. Entretanto, a representação dos bancos informou que não teve tempo hábil para a produção do material, mas que o mesmo será apresentado em uma próxima reunião da Negociação Nacional sobre Saúde Bancária.

Normas regulamentadoras

Os trabalhadores também exigiram a participação direta na implementação da Norma Regulamentadora (NR-1), que estabelece as regras de Segurança e Saúde do Trabalho no país e que foi atualizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) - as empresas têm até maio de 2026 para implementar as mudanças.

"Detectamos que muitos bancos estão implementando a NR-1 à revelia, ou seja, sem a participação do movimento sindical. Quais são os instrumentos que estão sendo usados para consultar os trabalhadores? Como estão sendo feitas as análises de dados e as medidas de prevenção? Sem a participação dos trabalhadores nenhum programa de gerenciamento de riscos psicossociais será efetivo", completa Mauro Sales.

Os trabalhadores colocaram entre os pressupostos à implementação da NR-1:

- Atuação conjunta: análise dos dados e definição de ações devem ser feitas com participação sindical.
- Construção paritária: ações e mecanismos de intervenção devem ter corresponsabilidade entre gestão e trabalhadores.
- Foco nas causas: combater as raízes do adoecimento (metas, ritmo, assédio, falta de autonomia).
- Transparência nas avaliações: uso de ferramentas confiáveis (questionários validados, entrevistas, indicadores de saúde).
- Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) como documento vivo: construído e revisado com a base, refletindo a realidade concreta do trabalho.
- Cuidar dos trabalhadores adoecidos: não dificultar acesso ao tratamento; não haver perda salarial; não haver prejuízo na carreira.


Os trabalhadores também cobraram a integração da NR-1 com a NR-17, que estabelece parâmetros para adaptar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, promovendo saúde e bem-estar no ambiente laboral. “Em relação à NR-17, no entanto, o setor bancário impõe o contrário: os trabalhadores devem se adaptar às exigências impostas pela organização do trabalho, mesmo que isso comprometa sua saúde. Os programas de metas são exemplos cabais disso. Neles, os trabalhadores tem que se adaptar às metas impostas, caso contrário, podem ser punidos", observa Mauro Sales.


Saúde mental: principal causa dos afastamentos na categoria bancária

O movimento sindical reforçou a cobrança para que os bancos assumam o compromisso com a saúde mental dos trabalhadores. "Nós sabemos que o fluxo de trabalho e a exigência de metas cada vez mais altas impactam na saúde física e mental das bancárias e bancários. Mas estamos tendo dificuldades, pois os bancos não reconhecem isso", destaca Neiva Ribeiro, coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e também presidenta do Sindicato de São Paulo Osasco e Região (Seeb-SP).

Em 2024, a saúde mental foi a principal causa dos afastamentos na categoria bancária. Segundo levantamento do Dieese, com base em informações da plataforma Smartlab, produzida com registros do INSS, naquele ano, as doenças mentais e comportamentais foram responsáveis por 55,9% dos afastamentos acidentários e por 51,8% dos afastamentos previdenciários de bancárias e bancários do país. Em segundo lugar ficaram as doenças conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), responsáveis por 20,3% dos afastamentos acidentários e 15,2% dos afastamentos previdenciários na categoria, em 2024.

Durante a reunião desta segunda-feira, os porta-vozes da Fenaban insistiram que os problemas de saúde mental têm raízes "multifatoriais", chegando ao absurdo de relacionar o aumento do vício em jogos de azar (bets) com o crescimento de doenças na categoria. “Essa foi uma clara tentativa de esconder a verdadeira causa dos altos níveis de adoecimento mental entre os bancários: os programas de metas, assédio moral, pressão por resultados, falta de funcionários etc. Ou seja, a forma como o banco organiza o trabalho”, arremata Mauro Sales.

O secretário-geral da Contraf-CUT, Gustavo Tabatinga, completa: “Os dados falam por si. Ainda segundo o levantamentos do Dieese, 25% dos afastamentos acidentários no Brasil (aqueles com relação direta com o trabalho), em 2024, foram de trabalhadores da categoria bancária”.


Denúncia  

A Secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes, pediu explicações à Fenaban sobre demissão de bancária ameaçada de morte por ex-companheiro, após buscar auxílio nos canais de apoio do banco.

A Fenaban falou que irá averiguar o caso e, depois, retomar o assunto com o Comando Nacional dos Bancários.


Próxima reunião e Censo

A Fenaban apresentou propostas de mídia de divulgação para o 4º Censo da Diversidade, previsto para começar em setembro.

Para a próxima Negociação Nacional sobre Saúde Bancária, ainda sem data prevista, a Fenaban ficou de apresentar a cartilha com as diretrizes de combate ao assédio no ambiente de trabalho.

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