É hora de fazer política, no melhor sentido do termo, se quisermos salvar o Banco do Brasil
Banco do Brasil
Confrontar a análise de discurso com o desdobramento das ações no campo real é algo trabalhoso, mas extremamente necessário, sobretudo quando o que se tem a preservar é a própria existência. Neste aspecto, vamos às situações: Paulo Guedes alardeava, ainda na campanha eleitoral e no começo do governo, que era melhor “vender” agora porque depois não valeria mais nada (referindo-se às estatais, em especial ao Banco do Brasil). Pois bem, trazendo aquelas lastimáveis e absurdas falas ao presente contexto, percebemos que a estratégia já tinha forma e conteúdo: destruir por dentro, vendendo aos pedaços, para depois tornar a privatização “inevitável”.
Nesta direção, compreende-se com toda clareza o papel desempenhado pelo atual e deselegante presidente do BB, Rubem Novaes. Interventor privatizante cujo único propósito, impressionantemente explicito, é inviabilizar o banco para justificar uma privatização que praticamente não é aceita por nenhum dos stakeholders do banco.
O plano segue a pleno vapor. Agora, absurdamente, surge a questão da privatização da BBDTVM, algo extremamente crítico, no sentido de que se ocorrer, estará aberto o caminho para a privatização total do BB. Como a gestão de ativos é a principal fonte de receitas, além do que não há qualquer razão estratégica para se ter um sócio nesse negócio, que não demanda capital nem expertise que a BBDTVM já não tenha de sobra, então que raios essa parceira agregaria? Estaríamos abrindo mão de receita, que fortalecem o banco e possibilita ações estratégico nacionais, por exemplo, o financiamento do agronegócio que só é viável face às margens de contribuição dos demais produtos e serviços, como é o caso da BBDTVM, para ter qual retorno?
As implicações para a sociedade brasileira da possível privatização do Banco do Brasil são incalculáveis e arrebatadoras. Sem este ator, que é fundamental ao processo concorrencial no sistema, a atuação cartelizada das instituições privadas nacionais e estrangeiras adquirirá o controle completo do preço e direcionamento da dívida pública brasileira. Daí, avançando um pouco mais e chegando às formulações contidas na PEC 186, que revoga todos os fundos estabelecidos na legislação infraconstitucional e que são importante fonte de receita social, também na 187 e 188, que propõem, adicionalmente, o fim da vinculação dos recursos financeiros para a saúde e educação, compreenderemos a movimentação das peças no tabuleiro.
Por outro lado, o ataque ao funcionalismo do Banco do Brasil, numa clara antecipação da reforma administrativa, a partir do programa intitulado PERFORMA, encerra o círculo das evidências e suspende definitivamente as dúvidas que alguns ainda insistiam carregar. A redução de 10% na folha de pagamentos, a tentativa de implementar um sistema de concorrência predatória entre colegas, com completo abandono da lógica de cooperação, somado às comunicações externas com mensagens subliminares, aparentemente descontextualizadas do enredo, segundo as quais o funcionalismo do BB não goza de estabilidade, escancaram definitivamente o ataque mortal ao Banco do Brasil.
O que fazer? Assegurar a mobilização atenta e consciente de todas e todos funcionários e segmentos do banco. Identificar e articular adesão de intervenientes importantes que prescindam do Banco do Brasil ao alcance dos seus objetivos: Agronegócio, pequenas e médias empresas industriais, de maneira a construir uma frente ampla numa campanha em defesa deste importante instrumento de desenvolvimento e esperança autônoma ao povo brasileiro.
* Kleytton Morais, funcionário do Banco do Brasil e presidente do Sindicato dos bancários de Brasília