Digitalização do sistema financeiro globaliza precarização do trabalho

“Não podemos aceitar que ampliação tecnológica tenha, como consequência, o fim do emprego de qualidade; saída para os problemas decorrentes da implementação de novas tecnologias está na valorização dos acordos coletivos e redução da jornada”, garante Rita Berlofa

Imagem ilustrativa

O mundo do trabalho vivencia uma mudança sem precedentes, em decorrência dos processos digitais, tornando urgente o fortalecimento dos sindicatos trabalhistas. Essa foi a conclusão do segundo dia (26 de novembro) do Fórum Sindical Internacional sobre a Digitalização Financeira, que acontece na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), na capital de São Paulo, até sábado (28).

Representantes de nove países latino-americanos – Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, México, Paraguai e Peru – trouxeram as experiências locais do impacto da revolução tecnológica sobre o mundo laboral.

“O balanço que temos é que todos nós enfrentamos a mesma realidade. O processo de digitalização do sistema financeiro está reduzindo os empregos de qualidade, ampliando a contração de terceirizados e, com isso, reduzindo salários em todos estes países”, destacou a secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT e ex-presidenta da UNI Finanças Global, Rita Berlofa.

Sergio Garzón Torres, de La Bancária (sindicato argentino que reúne funcionários de bancos e empresas de serviços financeiros), trouxe dados interessantes sobre o impacto da digitalização em seu país: “Na Argentina, há dez anos, um trabalhador bancário administrava, em média, 360 contas. Hoje em dia, cada trabalhador bancário administra cerca de 1.390 contas. Essa mudança ocasionou uma transferência de recursos, não para os trabalhadores, que passaram a cuidar de mais clientes, mas para o setor empresarial”, explicou.

A secretária geral do Suntnafin, sindicato de trabalhadores do ramo financeiro do México, Jocabeth Galindo Diego, observou a necessidade de ampliação do diálogo com os jovens. “O que vemos são os aposentados lutando contra a retirada de direitos, mas não vemos os jovens. E isso acontece porque os jovens já entram no banco com todos os direitos e, por isso, não sabem o quanto foi preciso lutar para conquistá-los”, disse.

Outra questão que ganhou destaque nas apresentações foi a formação sindical, como método para reforçar na sociedade a conscientização sobre a importância dos movimentos trabalhistas na defesa e garantia de direitos. A formação também foi debatida como uma maneira de aumentar o ingresso de sindicalizados nas entidades.

"Nos exemplos dados neste fórum, de sindicatos que desenvolveram programas de conhecimento, de formação de dirigentes, como uma estratégia de afrontar a ruptura do sistema financeiro, primeiro esses mesmos sindicatos se fizeram fortes, primeiro cresceram em representatividade”, orientou o presidente da UNI Américas, Guillermo Maffeo.

Rita Berlofa, além de concordar com Maffeo, completou que a classe trabalhadora "não pode aceitar que a digitalização do sistema financeiro tenha, como consequência, o fim do emprego de qualidade”, como vem acontecendo em todo o mundo.

"Por isso, eventos como este fórum internacional são muito importantes porque, nesta troca, somos capazes de articular nossa luta em âmbito local e mundial. E, entre as medidas que defendemos, estão a redução da jornada de trabalho (para quatro dias por semana), fortalecimento dos sindicatos e valorização dos acordos coletivos. Não teremos um mundo melhor e mais seguro para todos e todas, sem essas mudanças”, concluiu a representante da Contraf-CUT.

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