“Democracia é a vontade do povo”, garantem trabalhadores do ramo financeiro

25ª Conferência Nacional d@s Trabalhador@s do Ramo Financeiro começa com pedido de distribuição de renda, direitos, emprego decente e proteção ao meio ambiente

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“Por um Brasil democrático, SEMPRE!” Com esse grito de guerra, repetido por centenas de trabalhadores do ramo financeiro, que lotaram a Quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, a presidenta da Contraf-CUT e coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira, declarou aberta a Conferência Nacional d@s Trabalhador@s do Ramo Financeiro, na noite desta sexta-feira (4).

Até domingo (6), 636 delegados de todo o Brasil estarão reunidos em São Paulo para debater meios de reverberar o mote do evento. “Brasil democrático sempre: com distribuição de renda, direitos, emprego decente e proteção ao meio ambiente”.

“Foi com muita luta, muita organização e união que construímos nossa organização e nossa luta, que é referência não apenas os bancários e bancárias. E é por isso que nossa conferência não vai debater apenas nossas questões”, disse Juvandia. “Sabemos que nossos debates contribuem para mudar a vida das pessoas, de toda a classe trabalhadora. E isso acontece quando combatemos a violência contra as mulheres, a violência de raça, a violência contra pessoas LGBT+, quando lutamos para todo o povo. Isso é democracia. E não teremos democracia com riqueza para apenas 1% da população brasileira. Não podemos dizer que vivemos em uma democracia quando os mais ricos não pagam impostos e os mais pobres pagam”, disse ela, ao ressaltar a importância da mobilização por uma reforma tributária que promova justiça fiscal e a redução da desigualdade.

A presidenta da Contraf-CUT encerrou sua fala ressaltando que para haver democracia sempre é preciso que todos se organizem e lutem para conquistá-la, se apropriando dessa luta. “A democracia vai acontecer quando a gente entender que somos 99%, e que a sociedade não é do mercado financeiro, não é da minoria. Esse país é da classe trabalhadora”, disse. “Teremos dois dias de grandes debates e contamos com todos e todas para transformar esse país em um Brasil democrático sempre!”

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, enviou uma mensagem em vídeo, desculpando-se por não conseguir estar presente no evento. De Belém do Pará, onde participou de atividade da Cúpula da Amazônia, Padilha elogiou as lutas da categoria bancária, que historicamente atua de modo coletivo e destacou ações do governo Lula, como o início das reformas, a melhora do cenário econômico, o fortalecimento dos bancos públicos e a retomada do programa “Minha Casa, Minha Vida”, entre outras.

Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas do Ramo Financeiro de São Paulo, Osasco e Região e coordenadora do Comando Nacional dos Bancários falou pela primeira vez como membro do comando, ressaltando os desafios da Conferência. “A democracia sempre será o tema que nós defenderemos. Foi assim mesmo no tempo em que estávamos resistindo aos ataques brutais do fascismo e do lawfare”, destacou.

Para Neiva, hoje as possibilidades são bem maiores para debater diversas pautas, mas ainda assim será preciso muita luta para discutir pontos como reforma tributária, jornada de quatro dias, digitalização do trabalho, a ética no trabalho, a inteligência artificial, a alta taxa de juros, dentre tantos outros. “Todos esses temas estão na defesa da democracia e é isso que precisamos pautar para construirmos um país socialmente justo e igualitário”, finalizou.

Ivone Silva, ex-presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas do Ramo Financeiro de São Paulo, Osasco e Região, ex-coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e atual presidenta do Instituto Lula, agradeceu a todos pela unidade no tempo em que esteve na coordenação do Comando Nacional dos Bancários, pois, como disse, “a composição da pauta de uma categoria tão grande é um trabalho que exige um procedimento democrático estrutural”. Para Ivone, “o conceito de democracia é muito importante, pois ela é necessária em todas as políticas do estado”. Ela lembrou que quando isso não se dá, as consequências são muito graves para a população, “como na recente ação da Polícia Militar de São Paulo no Guarujá, que cometeu uma chacina durante uma operação nos últimos dias”.

Parceiros destacam importância da categoria

Sérgio Hiroshi Takemoto, presidente da Fenae, destacou o simbolismo existente em realizar a Conferência, após a retomada, na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, pois este é um local de grandes lutas e resistências em defesa da classe trabalhadora. “Aqui, fizemos grandes lutas em defesa dos bancários, dos bancos e das empresas públicas, e só estamos aqui hoje porque resistimos ao golpe, ao Temer após o golpe e ao governo desastroso de Bolsonaro, que de todas as formas atacou e ameaçou nossos direitos”.

Para Takemoto, a base dessa resistência é a organização e a unidade da categoria bancária, sendo fundamental que essa unidade continue e se fortaleça, pela defesa da democracia, pela liberdade e pela luta de defesa social. “Não há democracia sem a defesa dos bancos públicos. A Fenae está aqui para reafirmar o compromisso com a unidade na luta da categoria e de todos os trabalhadores(as)”, destacou.

Para Sérgio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), é hora de debater sobre o que queremos para o nosso futuro, o que queremos para as trabalhadoras e os trabalhadores do ramo financeiro, o que queremos para o nosso país. “O modelo de negociação do ramo financeiro é um exemplo para todo o movimento sindical brasileiro. Suas conquistas são referência para todas as categorias em nosso país. Hoje, vocês dão mais um passo para seguir sendo essa referência inspiradora. Ao lado da minha companheira de luta, Juvandia Moreira, que é presidenta da Contraf e é vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores, desejo uma excelente Conferência a todos e todas. Viva a Contraf! Viva a CUT! Viva a classe trabalhadora!”

Gilmar Mauro, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), agradeceu toda a solidariedade que a categoria sempre prestou ao MST e se colocou à disposição “seja nas lutas da categoria, seja nas lutas políticas, estaremos juntos por um Brasil mais justo, mais democrático e mais fraterno”.

Douglas Martins Izzo, presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP), destacou a importância da categoria bancária e a parceria desenvolvida nos enfrentamentos e na construção da luta no estado de São Paulo. “Os bancários têm uma negociação nacional que é referência para o conjunto do movimento sindical do Brasil”, disse.

O presidente da CUT-SP falou da conjuntura nacional e estadual. “Se, no nível nacional, nós derrotamos o fascismo, elegendo Lula e agora reconstruindo o Brasil, aqui em São Paulo nós continuamos enfrentando as forças conservadoras e reacionárias, com um governo que aponta para a privatização das empresas públicas, da saúde e da educação. Por isso, vai ser fundamental no próximo período combatermos essas forças, lutando contra o bolsonarismo e o Governo Tarcísio”, afirmou.

Ubiraci Oliveira, o Bira, vice-presidente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), lembrou que “no ano passado, na 24ª Conferência, estávamos sobre o tacão do fascismo. Foi necessário fazer uma grande frente ampla liderada pelo presidente Lula para que pudéssemos derrotar o capiroto que nos impôs o inferno nos últimos quatro anos. Agora, temos de nos manter firme na luta por outros pontos importantes”, afirmou. “Para mim, a questão central do momento é a redução das altíssimas taxas de juros. Ano passado foram mais de R$ 400 bilhões para o setor especulativo, gente que não produz um prego e só lucra com o trabalho dos outros. Esse pessoal tem obsessão de sabotar o governo Lula e eles sabotam mantendo os juros altos. Por isso, é necessário nos unirmos para tirar Campos Neto do Banco Central, para que o Brasil possa voltar a crescer e se desenvolver e que a gente consiga enterrar de vez o fascismo”.

“Sou do Sindicato dos Químicos e sempre tive como referência a organização dos bancários, que é exemplo para outras categorias e tem uma responsabilidade, juntamente com os petroleiros, de puxar a luta dos trabalhadores”, disse a secretária-geral da Intersindical, Nilza Pereira. “E vocês têm uma responsabilidade enorme de fortalecer os comitês populares para dialogar com trabalhadoras e trabalhadores que não estão mais nos bancos, que não têm mais emprego formal, que são terceirizados e não estão mais representados pelos nossos sindicatos. Mas, temos que dialogar com eles para fortalecer nossa organização e impedir que a direita influencie e prejudique nossa luta, assim como também temos que colocar na nossa pauta, a defesa dos movimentos sociais, como o MST. Assim, fortaleceremos a democracia”, completou.

Márcio Monzane, secretário Regional da UNI Américas, enalteceu o tema da 25ª Conferência Nacional, pois, para ele, “fazer o debate democrático constrói o direito para o conjunto da sociedade, e para ser democrático sempre é necessário pensar em justiça social, combater o desemprego e a fome, pois não é possível haver democracia enquanto houver pobreza”.

Monzane afirmou que “ser democrático é também mudar a lógica do mercado, que quer decidir o que é certo ou errado dizer”. Nesse aspecto, ele lembrou que a “imprensa global ficou quinze dias falando de um submarino que se acidentou numa missão que não fazia nada, mas não fala dos milhares de mortos em naufrágios de refugiado pelo mundo, e ser democrático é trazer esse debate para a mesa”.

Correntes políticas lembram luta histórica

Eduardo Araújo, presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília e representante da corrente política ArtBan, falou dos atuais desafios da categoria, que são diferentes dos períodos anteriores. “Recapitulemos aqui o ano de 2003, há 20 anos, quando nós tínhamos o primeiro Governo Lula e foi um momento de muitas expectativas”, começou. “Naquele ano, BB e Caixa ainda não assinavam a nossa CCT e a nossa estratégia foi unificar a categoria”, completou.

“Em 2016, nós passamos pela reforma trabalhista e precisávamos manter os direitos da nossa CCT. Naquele ano, nossa estratégia era assinar um acordo por dois anos!”, relembrou Araújo. “Agora, novamente, nós temos muitas expectativas! Mas é preciso saber que a realização das nossas expectativas depende de muitos fatores. E nossa estratégia é construir a unidade do Ramo Financeiro – pois, se temos uma quantidade de bancários, temos o dobro de outros trabalhadores do ramo. É necessário trazermos esses trabalhadores para termos mais força nas nossas reivindicações, na luta por direitos e nas conquistas”, destacou.

Por fim, Araújo afirmou que os trabalhadores não devem recuar. “Podemos até ter algumas expectativas frustradas, mas nós não vamos recuar, tenho certeza de que vamos avançar. É possível mobilizar, pois temos muito a fazer. Evidentemente, em 1º de setembro, nós teremos o reajuste salarial que está garantido na CCT, mas teremos que continuar enfrentando a organização do trabalho. E nós temos grandes desafios e teremos que enfrentá-los com luta. Por isso, vamos sair daqui com unidade!”, finalizou.

Para Hermelino Souza Meira Neto, presidente da FEEB Bahia e Sergipe, são muitos os problemas ainda enfrentados pela categoria bancária. “Entretanto, nossa força, nossa energia e nossa disposição de luta são fundamentais para que a gente continue a conquistar vitórias. Nós não podemos abrir mão do papel do sindicalismo, que é a luta pelos direitos. Como disse o presidente Lula, é necessário que o movimento sindical leve as pautas para ele trabalhar por nós, para isso, nós não podemos abandonar as ruas”.

“Sabemos do imenso desafio do governo Lula para recuperar o país e a democracia. Mas, como o próprio Lula diz: ‘milhões de brasileiras e brasileiros passam fome e têm pressa’. Assim como também há pressa para a recuperação da economia e da democracia. E, para nós, mais do que pressa, é urgente a implementação de uma política eficiente de proteção dos trabalhadores adoecidos. Nós, bancários, sabemos que os bancos escondem os números de adoecimento na categoria”, o coordenador geral da Fetrafi de Santa Catarina e representante da corrente política CUT Socialista e Democrática (CSD), Marco Aurélio Silveira Silvano, ao lembrar que, recentemente, em Florianópolis, três bancárias se suicidaram. “Uma, depois de perder a função, ficou oito meses afastadas e desistiu da vida. Assim ocorre com outras duas companheiras. Por isso, precisamos urgentemente de uma política para recuperar a saúde e as condições de trabalho da categoria”, completou.

Segundo Carlos Pereira de Araújo, do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo e representante da Intersindical, a Conferência acontece em um momento especial não só para categoria bancária, como para toda classe trabalhadora, pois com muita mobilização e esforço coletivo, foi possível respirar e avançar em uma perspectiva democrática após a derrubada de um governo fascista. “É necessário, agora, pensar nos eixos fundamentais da categoria como o adoecimento do bancário oriundo do assédio, pressões e ameaças, sendo este um desafio permanente do Comando Nacional e da categoria. Somente a categoria e a classe trabalhadora em movimento, poderemos mudar essa realidade”.

Nilton Damião Esperança, o Niltinho, presidente da Fetraf-RJ/ES e representante da corrente política Fórum, ressaltou o momento vitorioso que os trabalhadores vivem atualmente. “Com a vitória de Lula, a inelegibilidade de Bolsonaro e o começo da reforma tributária, a diminuição dos juros, temos o que comemorar, mas não podemos esquecer que a luta tem que continuar, em especial no que diz respeito à reforma trabalhista”, advertiu.

Para Niltinho, “este é um momento em que os bancários devem ter posição mais firme em relação aos banqueiros, que estão agindo com o fechamento de agências, a redução de postos e a retirada de equipamentos de segurança das agências, sem discutir com o movimento”. Ele também chamou a atenção para “a reforma sindical, que pode questionar a existência dos sindicatos menores, mas isso deve ser considerado, pois esses sindicatos também ajudaram a eleger Lula e atuam em toda a luta dos trabalhadores”.

David Zaia, presidente da Feeb-SP/MS e representante da corrente política Unidade, destacou a importância da Conferência Nacional, em que bancários do Brasil todo estão representados. “Este ano, nosso lema é ‘Brasil democrático sempre’ e, com ele, precisamos lembrar que a Democracia é uma conquista, mas que temos que defender todos os dias, assim como defendemos todos os nossos direitos. Até porque, sem democracia, todos os nossos direitos vão embora junto”, pontuou.

Zaia também falou sobre a importância de colocar em pauta todas as questões que são importantes para os trabalhadores, sobretudo agora que o País está novamente sob um governo democrático. “Em 1992, quando eu era presidente do Dieese, nós lançamos a campanha SOS salário-mínimo. Unimos três centrais sindicais em uma grande campanha pela valorização do salário-mínimo. Uma campanha que o movimento sindical abraçou e que hoje é uma realidade, uma conquista importante. Naquela época, falávamos também da redução da jornada de trabalho, que hoje é um tema importantíssimo para os trabalhadores. Com toda a tecnologia disponível atualmente, a gente continua com a mesma jornada de 120 anos atrás, de 8 horas de trabalho”, lembrou. “Por isso, colocar todas essas bandeiras em pauta neste momento é fundamental, pois quando a gente se une em torno delas, a gente conquista, assim como foi com o salário mínimo”, concluiu.

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