“Caixa dá uma no cravo, outra na ferradura”

Para dirigente da Contraf-CUT, reestruturação é apenas fachada e o banco continua promovendo assédio contra os empregados

A Caixa Econômica Federal realizou, nesta sexta-feira (22), lives nacionais e regionais para incentivar a venda de seguros, cartões de crédito e outros produtos bancários para clientes que contratarem financiamentos habitacionais e empresas que utilizarem recursos do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). “Na verdade, o evento teve a finalidade de informar que os empregados devem empurrar produtos para os clientes que buscarem recursos no banco”, disse o dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e funcionário da Caixa, Rafael de Castro. “A Caixa diz que está mudando a estrutura e criando mecanismo para inibir o assédio, mas, na prática, cria mecanismos que estimulam e facilitam o assédio. É uma no cravo e outra na ferradura!”, completou.

O banco anunciou, inclusive, prêmios para os empregados que cumprirem as metas. Por exemplo, as unidades que atingirem a meta de 150% do item prestamista no fechamento de julho recebem um kit com copo térmico, caderno e mochila. “Para o Pronampe Vida Empresarial, oferecem 10% de desconto no seguro de vida empresarial global e orientam os empregados a aproveitarem o ‘benefício’ para empurrar o seguro junto com o contrato de financiamento. Perde o cliente, que é forçado a contratar um produto que não precisa, e perde o empregado, que é forçado a empurrar um produto que o cliente não precisa para cumprir a meta estabelecida pelo banco”, explicou o dirigente.

Na live nacional, para explicação das ações voltadas ao Pronampe, a Caixa chegou a apresentar um cronograma com datas definidas para cada medida a ser tomada. Até o dia 25 de julho devem ser efetivados os pré-contratos, com possibilidade de reserva dos recursos, que serão creditados nas contas dos pré-contratados efetivados até o dia 27.

Social X Comercial

O coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, Clotário Cardoso, ressaltou que a prática, na verdade, é similar à venda cruzada, que é proibida no Brasil. “A Caixa é um banco público de caráter eminentemente social, mas a estratégia utilizada pela gestão Pedro Guimarães, que está sendo mantida pela nova presidenta (Daniella Marques), é a mesma utilizada pelos bancos privados, que exercem pressão e assédio moral sobre seus empregados”, observou.

“O mais grave é a determinação que cita percentuais específicos para o cross selling para cada tipo de empresa que contratar financiamento do Pronampe”, completou Rafael de Castro.

Cross selling é a venda cruzada de produtos ou serviços para os clientes que compram um produto ou contratam um serviço. “Para ficar claro, é o que no popular se chama de ‘tuchar’, ou forçar, a compra de um produto que o cliente não quer”, explicou.

Sentimento dos empregados

Segundo o coordenador da CEE, os sindicatos recebem, diariamente, dezenas de lamentações de empregados que dizem se sentir mal por se verem forçados a “empurrar” produtos ou serviços para clientes que não têm qualquer interesse, nem necessidade de adquiri-los. “A orientação é institucional e precisa acabar. Ela estimula o assédio moral de gerentes e superintendentes sobre os empregados”, concluiu Cardoso.

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