"BB precisa voltar à essência como indutor do desenvolvimento do país"
Banco do Brasil, Gerais
Ao apagar das luzes da gestão Bolsonaro, os que executaram dentro do BB políticas de desmonte, querem agora influenciar na nomeação de novos dirigentes da empresa
A gestão Bolsonaro não mediu esforços para diminuir a atuação do Banco do Brasil e desacreditar a maior e mais antiga instituição de crédito do país nos últimos quatro anos. "Neste período, o BB foi levado a reduzir sua intervenção no combate à pobreza e execução de políticas públicas. Isto, como estratégia para diminuir a importância da empresa para a sociedade e, ao final, justificar uma eventual privatização", avalia o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (CEBB), João Fukunaga.
Ele destaca ainda que, no período dos governos Temer e Bolsonaro, de 2016 até 2021, a participação do BB no crédito rural caiu de 60% para 54% e o crédito no Pronaf (destinado aos pequenos produtores) sofreu queda de 32%, considerando o valor atualizado das carteiras nesses anos. Além disso, 26% das agências e 14% dos postos de trabalho foram encerrados.
“Esses números revelam o caminho de maximizar resultados, deixando de lado o papel de ser um banco moderador de taxas de investimentos. Situação refletida nas taxas de juros de empréstimos da carteira rural superior a 11% ao ano, inviabilizando grande parte dos produtores rurais. A estratégia do BB não pode ser a prática de taxas extorsivas”, ressalta Fukunaga. “Preocupa, mas não é novidade, que a atual direção do principal banco público do país venha à imprensa se jubilar de resultados, mostrando retorno atualizado de 22% sobre patrimônio líquido, ou seja, retorno até setembro de 15,4% acima da inflação. Um absurdo, quando comparado com os 20 maiores bancos do mundo (dos quais sete são estatais) que têm retorno médio anual de 10% sobre o patrimônio líquido", completa.
Na última quarta-feira (9), ano anunciar o resultado trimestral, mostrando que o BB bateu novo recorde de lucro, o atual presidente Fausto Ribeiro afirmou que a instituição trabalha para que 40% do lucro seja pago em dividendos. “O Banco do Brasil é um agente importante no desenvolvimento do país”, reflete Fukunaga. “A sua missão principal precisa voltar a ser executar políticas de fomento, desenvolvimento e de suporte para empresas e produtores rurais. Erram os que declaram que o papel do BB é distribuir dividendos. Dizer isso é excluir a função do banco de agente de desenvolvimento”, arremata.
O coordenador da CEBB, por outro lado, destaca que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, fez inúmeras declarações que apontam para o fortalecimento do papel desenvolvimentista do BB. “Como mostra sua história, o BB é fundamental para atuar como indutor das economias locais. A sua capilaridade permite realizar as ações de governo para geração de emprego e distribuição de renda em lugares onde o setor privado vê como de risco elevado e não atua, apesar de sempre declarar ter responsabilidade social e ambiental", continua.
Fukunaga ainda alerta que, diante da mudança de comando o Planalto, os atuais dirigentes do BB, "que sempre se calaram e executaram as políticas de desmonte" da gestão Bolsonaro, "agora vêm à público para ditar as regras para nomeação dos próximos dirigentes da empresa e, pior, defender a manutenção da estratégia de atuação do banco" e que, portanto, "parecem que ainda não acordaram ou não sabem que haverá mudança de administração do país a partir de janeiro de 2023".
O coordenador da CEBB, conclui que, apesar de todos os esforços para diminuir seu tamanho, desde 2016, o Banco do Brasil segue com sua relevância de “mais de dois séculos” e que, “para liderá-lo, é preciso ter a compreensão” do seu papel de instrumento do Estado. “Isto, mais o compromisso de pensar em sua continuidade como um banco público de fomento e de desenvolvimento, é o mínimo que se espera da próxima gestão", pontua.