Bancários de São Paulo abraçam Dia Nacional de Luta e param Paulista

Centrais sindicais paralisaram Avenida Paulista

Os trabalhadores estão nas ruas e motivos não faltam: fim do fator previdenciário, luta contra a terceirização fraudulenta de mão de obra, mais verbas para educação e saúde, transporte de qualidade, entre outros diversos pontos.

Esses eixos de luta não são novos. Pelo contrário, são bem conhecidos pelo governo, pois constam da pauta da classe trabalhadora definida em 2010, reivindicações das centrais sindicais e dos sindicatos que representam funcionários das mais diversas categorias: do campo, da indústria, do comércio e também os bancários.

Esta quinta-feira 11 é Dia Nacional de Luta e a categoria bancária abraçou a data. A Avenida Paulista amanheceu com cerca de 50 agências fechadas, duas concentrações paralisadas, resultado de cerca de 2,5 mil bancários de braços cruzados.

No Centro, os funcionários do Complexo São João do Banco do Brasil aderiram em ato durante a manhã. Às 14h foi realizado um ato político no Masp e, logo a seguir, os manifestantes sairam em passeata rumo a Praça Ramos.

Para Vagner Freitas, presidente da CUT, “a manifestação de hoje é um grande grito de alerta para o Congresso de que nossas bandeiras, as pautas dos trabalhadores não estão sendo atendidas.”

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, reforça que a mobilização é para que a pauta dos trabalhadores seja destravada no Congresso Nacional, ministérios, estados e municípios.

“Por isso é fundamental fazermos essa pressão. Tem uma pauta específica que não é dos trabalhadores, e sim dos empresários, sobre terceirização, do deputado federal Sandro Mabel (do PMDB-GO e autor do PL 4330). Gravem esse nome para não votarem nele, pois ele representa apenas o interesse dos bancos, empresários e industriais”, destacou a dirigente durante o ato na Paulista.

Foi por conta da mobilização que mais uma vitória foi conquistada em relação ao projeto de lei de Mabel. Após pressão, a votação que aconteceria na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados foi novamente adiada, dessa vez de 10 de julho para 13 de agosto.

Brechas na lei

Um bancário do Bradesco, que parou nesta quinta, também fez coro contra o PL de Mabel. “Nas brechas que existem na lei atualmente, o banco já conseguiu terceirizar vários setores. Se aprovarem esse projeto, vai virar uma festa [dos empresários] e vai acumular ainda mais lucro no bolso deles [banqueiros]”, disse.

Para ele, um avanço seria “diminuir o salário dos que comandam”, referindo-se aos altos bônus dos executivos. “Quem entrou para trabalhar hoje é quem ganha muito bem, bônus etc. Esse pessoal está pouco se lixando pra gente”, desabafou.

A funcionária de uma empresa terceirizada que presta serviço para o Banco do Brasil deixa clara sua falta de esperança, caso o projeto de Mabel seja aprovado. “Não tenho nenhum benefício, nem vale-transporte. Se for aprovado, será impossível eu sair dessa situação, não é justo”.

Povo na rua

As manifestações ocorrem em todo o Brasil. A secretária-geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas, destacou a importância da organização nesse movimento. “Os sindicatos não podem exclusivamente se ater à luta das categorias. É importante que a população brasileira, por meio de seus sindicatos, se organize para pressionar o Congresso Nacional, empresários, industriais, a federação dos bancos e outras organizações para que não aprovem pautas que vão contra interesses da classe trabalhadora.”

Fator previdenciário

O deputado estadual e ex-presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, esteve com os bancários da Paulista. O parlamentar lembrou a importância do fim do fator previdenciário.

“Ainda no governo Fernando Henrique Cardoso foi criado o fator previdenciário, e, com isso, muitos trabalhadores que poderiam estar aposentados com 100% do seu salário se aposentaram com 95%, 90%, 85% e por aí vai. É um prejuízo se comparado com quem se aposentou na década de 1990. Por isso a CUT briga pelo fim do fator e para que o trabalhador possa se aposentar com 35 ou 30 anos de contribuição”, explicou.

Mídia

A manifestação segue durante todo o dia. Entre as bandeiras da CUT estão, ainda, a necessidade de democratização dos meios de comunicação e a reforma política por meio de plebiscito em que a população seja ouvida.

Às 17h, em frente à sede da Rede Globo, em São Paulo, será realizado o ato “Quem são os donos da mídia?”, que visa a alertar a sociedade para o quadro de monopólio nas telecomunicações brasileiras e para a relação entre parte da classe política e os grandes empresários midiáticos.

Pedro Eckman, do Coletivo Intervozes, em entrevista na manhã de hoje à Ràdio Brasil Atual ressalta que o protesto chamará atenção “à consolidação do processo democrático iniciado há 25 anos”, com a Constituição de 1988.

Até hoje o capítulo constitucional específico sobre comunicação não foi regulamentado pelo Congresso, que tem em sua composição donos de concessões de rádio e TV, prática vedada pela legislação. “Ainda não conseguimos consolidar democracia na radiodifusão no Brasil e queremos o estrito cumprimento do que prevê a Constituição, nada além disso.”

O ativista lembra também que, apesar de o ato ser realizado em frente à Globo, o que se quer é promover uma distribuição mais igualitária e justa dos meios de comunicação. “A Globo tem a maior concentração de mídia do país e, por isso, se constitui numa voz hegemônica na sociedade. Com a concentração de voz, hegemonizada, você maneja a opinião pública, isso movimenta o cenário politico no Brasil de forma clara. A população percebe isso, mas até hoje se sentia impotente em relação a esse poder e agora talvez consigamos nos levantar contra isso.”

Por fim, Eckman disse que o governo tem de abrir o debate sobre o monopólio de grupos econômicos e políticos sobre as empresas de comunicação. “Na política brasileira, pode-se falar em aborto, drogas, reforma política, mas a comunicação é um assunto proibido.”

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