A regulamentação digital é fundamental para a evolução humana

A falta de leis e regras pode gerar problemas gravíssimos para toda a sociedade

Os trabalhos da 25ª Conferência Nacional d@s Trabalhador@s do Ramo Financeiro continuaram na manhã deste sábado (5) com o debate sobre a regulamentação das plataformas digitais e inteligência artificial. Os convidados para abordar o tema foram o deputado federal do PCdoB Orlando Silva, relator do projeto de lei de combate às fake news, e o biólogo Atila Iamarino, doutor em microbiologia e pesquisador brasileiro, que ficou notório por seu trabalho de divulgação científica no canal do YouTube denominado Nerdologia, que possui mais de 3 milhões de inscritos.

Para o deputado, não é tão simples falar sobre temas relativos ao direito digital e a regulamentação de plataforma digital, pois são temas muito específicos e até muito técnicos. “Porém, é um tema em debate no mundo, não só no Brasil. O presidente Lula já falou diversas vezes sobre a necessidade de cooperação internacional do campo da regulação das plataformas digitais, pois hoje, com o modo como é feita a coleta e tratamento de dados, e na escala que é feita, não só não protege nenhum usuário como coloca em risco a soberania do país”.

Isso se dá por pouquíssimas e poderosas empresas deterem os dados de boa parte da sociedade, podendo utilizar esses dados para mover e encaminhar temas de acordo com seus interesses. “As pessoas, ao baixarem um aplicativo e aceitarem os termos de uso – muitas das vezes sem ler –, autorizam a coleta dos dados, o tratamento dos dados e, o mais grave, o compartilhamento dos dados. Esse é um dos pontos dentro da regulamentação das plataformas digitais.”

O deputado afirma que, apesar da imensidão de temas que estão no guarda-chuva do direito digital, o texto debatido no Congresso Nacional com o PL 2630/2020 está focado em discutir um aspecto fundamental da comunicação: “O texto fala sobre redes sociais, como Facebook e Instagram; serviços de mensagens, como Whatsapp e Telegram; e buscadores, como o Google. Evidentemente, esses temas têm ligação direta com os processos que temos vivido nos últimos anos, pois todos lembram da pandemia e de como as redes sociais foram utilizadas para descredibilizar as vacinas. Isso para não falar na tentativa do golpe em 8 de janeiro e para não falar na eleição do inominável em 2018, em um processo eleitoral totalmente baseado em fake news”, explicou.

Orlando explica que a urgência em debater o projeto se dá, também, por, cada vez mais, estar diminuindo a distância entre o mundo real e o mundo digital, e isso ser utilizado pela extrema-direita para disseminar ódio e desinformação com liberdade e sem responsabilidade. “A extrema-direita montou uma estratégia que funciona bem. É a lógica deles, eles fazem e falam coisas que o campo da esquerda não é capaz de falar e fazer por um problema ético e de responsabilidade. O que engaja na rede é discurso de ódio, ataque e desinformação. Nosso campo vai pela informação mais precisa possível, pelo que está provado pela ciência, e isso tem menos apelo.”

Ao final, o deputado pede ajuda no sentido de promover o debate e torná-lo o mais amplo possível, sendo esta uma tarefa democrática e geracional. “Esse problema não estava posto há 20 anos, mas está posto hoje, e a diferença entre o mundo real e o virtual vai ser cada vez menor. É por isso que pedimos que as pessoas conheçam, acessem o PL, divulguem e conversem. Estamos disponíveis para enviar pessoas capacitadas e especializadas para instruir sobre os principais pontos e o quanto a regulamentação é urgente para a democracia e soberania do país. Este é um desafio da nossa geração, é pelo futuro, pelo presente e pela democracia a regulação das plataformas digitais.”

Iamarino, cujo trabalho como divulgador científico teve grande impacto no esclarecimento da população e no combate à desinformação durante a pandemia de covid-19 no Brasil, atende o chamado de Orlando Silva. “Ter uma lei que regula as tecnologias é construir uma barragem, porque a água está subindo e o que vem pela frente é um dilúvio”.

Ele que se autonomeia “explicador de tecnologias, que é que eu faço no meu dia a dia”, deixou claro que nada do que foi falado sobre este tema é definitivo, pois a tecnologia está em constante evolução.

Inteligência artificial

O pesquisador traçou um histórico para apontar o que mudou na inteligência artificial, desde o seu início, com robôs que jogavam xadrez até o atual ChatGPT, que não para de evoluir. “Se antes a inteligência artificial tinha 50 áreas diferentes que avançavam por conta própria, hoje tem um único sistema que avança mais de 50 vezes mais rápido, por todos os pesquisadores estarem trabalhando no mesmo sistema, unificando todas as áreas.”

Com tantos dados assim, a inteligência artificial começa a relacionar as coisas, melhor do que o ser humano. “Não necessariamente melhor em qualidade, mas muito melhor em quantidade e em velocidade. A disputa do futuro é exatamente essa, o quanto a gente vai aceitar o medíocre rápido, ao invés do mais demorado com qualidade”, afirmou Iamarino.

Para ele, o que não mudou na inteligência artificial desde o começo é a continuidade de fruto de mão de obra barata, conteúdo autoral sendo plagiado, privacidade sendo violada, dados enviesados que geram sistemas enviesados, opacidade do sistema e propriedade emergentes.

O que a gente tem hoje e o que a nossa vida deve mudar

“É muito fácil criar conteúdo, de texto e até imagens. Entramos na fase de criar voz parecida das pessoas e vamos entrar na fase de criação dos vídeos”, apontou. Entretanto, “com a imitação cada vez mais fiéis e práticas, começam a aparecer os problemas, como na indústria de Hollywood, onde os roteiristas e os atores começaram a protestar contra a possibilidade de serem substituídos futuramente”.

Para ele, a nossa realidade vai mudar completamente nos próximos anos, mas ela não vai ser tão real. “Com isso, a solidão vira uma vulnerabilidade. Nossa atenção já foi capturada, daqui a pouco serão as emoções”.

Atila Iamarino elegeu o alinhamento como o grande problema desta tecnologia. “Por isso temos de ter menos foco na inteligência e mais foco nos humanos que estão decidindo isso”, finalizou.

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