Vazamentos da Lava Jato atingem o STF e escândalo não para de crescer

A Rede Globo, que deve ser uma das afetadas, já começou a atacar o site responsável pelas divulgações

As novas revelações de conversas entre Deltan Dallagnol e procuradores do Ministério Público levaram o maior escândalo do atual governo federal até o Supremo Tribunal Federal (STF). A conversa, revelada na noite desta quarta-feira (12) pelo editor do The Intercept Brasil, Leandro Demori, no programa do jornalista Reinaldo Azevedo, na Bandnews, mostra a proteção do ministro Luiz Fux à Lava Jato.

Em um grupo de procuradores, Dallagnol conta ter conversado “mais uma vez com Fux hoje, reservado, é claro”. “O ministro Fux disse quase espontaneamente que Teori Zavascki fez queda de braço com Moro e se queimou, e que o tom da resposta de Moro foi ótimo”, escreveu. Zavascki morreu em acidente de avião cuja investigação corre em segredo de Justiça.

“Fux disse para contarmos com ele para o que precisarmos, mais uma vez. Só faltou, como bom carioca, chamar-me para ir à casa dele rs”, acrescentou. “Mas os sinais foram ótimos, falei da importância de nos protegermos como instituições, especialmente no novo governo”, completou, se referindo ao governo Temer, então presidente.

As mensagens foram encaminhadas por Dallagnol para o então juiz Sérgio Moro, que respondeu, em tom de intimidade. “Excelente, in Fux we trust”, escreveu Moro, em inglês, o que pode ser traduzido como “no Fux a gente confia”. Fux foi o ministro que barrou, no STF, a entrevista que o ex-presidente Lula concederia antes das eleições de 2018.

O ministro Fux chegou a chamar Moro de “excelente” escolha para o Ministério da Justiça, no ano passado. “Excelente nome. Imprimirá no Ministério da Justiça a sua marca indelével no combate à corrupção e na manutenção da higidez das nossas instituições democráticas, prestigiando a independência da Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário. A sua escolha foi a que a sociedade brasileira o faria se consultada. É um juiz símbolo da probidade e da competência. Escolha por genuína meritocracia”, disse.

Revelações podem anular a condenação de Lula

“O chefe da Lava Jato não era ninguém mais, ninguém menos do que (ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio) Moro. O procurador (Deltan) Dallagnol, está provado, é um bobinho. É um bobinho. Quem operava a Lava-Jato era o Moro”. A afirmação é do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, em entrevista à revista Época, analisando os diálogos entre os dois revelados pelo site The Intercept Brasil. Para Mendes, uma consequência provável é que “eles anularam a condenação” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja sentença proferida por Moro era de 9 anos e 6 meses de prisão.

O ministro também afirmou que há, sim, crimes revelados pelas conversas vazadas entre Moro e Dallagnol. “Um diz que, para levar uma pessoa para depor, eles iriam simular uma denúncia anônima. Aí o Moro diz: ‘Formaliza isso’. Isso é crime”, explicou Mendes, sobre um diálogo divulgado pelo The Intercept em que o procurador diz que vai fazer uma intimação com base em denúncia anônima, porque uma fonte se recusou a prestar depoimento à Lava Jato. Dallagnol dá a entender que não existia denúncia, que ele iria inventar. “Simular uma denúncia não é só uma falta ética, isso é crime”, destacou Mendes.

Rede Globo toma partido. Mas por quê?

Ao que tudo indica, a Globo decidiu declarar guerra ao site The Intercept Brasil, nesta quarta (12). De um lado, a emissora divulgou uma nota levando o embate com Glenn Greenwald para o campo pessoal. De outro, o jornal O Globo produziu uma reportagem, com a ajuda da Polícia Federal, sob Sergio Moro e dos procuradores da Lava Jato, insinuando que todo o “coração” da operação foi vítima de um ataque hacking “muito bem planejado”, ao custo de milhões de dólares, com direito a envolvimento de russos no enredo.

Uma declaração de Glenn Greenwald, co-fundador do site, explica o porquê do posicionamento do maior conglomerado de comunicação do Brasil. “Se eu entendi, Glenn, você está me dizendo que os documentos que vocês ainda estão trabalhando vão apontar uma relação mais próxima da Globo nesse processo com Dallagnol e Moro, é isso?”, pergunta o repórter Thiago Domenici.

“Eu não posso falar muito sobre os documentos que ainda não publicamos porque isso não é responsável. Precisa passar pelo processo editorial mas, sim, posso falar que exatamente como disse hoje, a Globo foi para a Força Tarefa da Lava Jato aliada, amiga, parceira, sócia. Assim como a Força Tarefa da Lava Jato foi o mesmo para a Globo.”

Greenwald, inclusive, rebateu a nota que a rede Globo produziu sobre suas declarações, nas redes sociais.

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