Valor Econômico mente e já entra para o anedotário da imprensa golpista

(São Paulo) Quando o jornal Valor Econômico circulou nesta quinta-feira, dia 28, sua manchete causou arrepios não só na esquerda brasileira, mas em todos aqueles que elegeram Lula e derrotaram o projeto privatista do PSDB. Em letras garrafais, o principal jornal de economia do país anunciou: “governo muda plano e vai privatizar Infraero”.

Poucas horas depois de chegar às bancas, entretanto, a matéria do jornalista Cristiano Romero foi veementemente desmentida pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho. “Venho a público esclarecer que não se cogita a privatização da empresa (…) As especulações sobre a privatização da companhia carecem, portanto, de qualquer fundamento”, disse o presidente do BNDES em nota oficial.

Quem leu a notícia do Valor Econômico com mais atenção não precisou esperar o desmentido do BNDES. A matéria, recheada de ilações em um texto editorializado, não segue as mínimas regras do jornalismo. Todas as informações que subsidiaram o texto são creditadas a três fontes: “um assessor graduado do governo”, “uma fonte do governo” e “um assessor direto do presidente Lula”.

Para William Mendes, secretário de Imprensa da Contraf-CUT, a expressão jornalística ‘em off’ parece ter perdido o significado. “Hoje em dia, os meios de comunicação têm utilizado este recurso de não identificar suas fontes para defender suas teses e direcionar seu noticiário. Como diz Charles Seib, ombudsman aposentado do jornal norte-americano Washington Post, ‘basear as matérias em fontes não nomeadas sempre envolve manipulação da informação'”, declara William.

Segundo a manchete do Valor, “encarregado pelo governo de elaborar um plano para a Infraero, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda a privatização da estatal, que administra 67 aeroportos no país. O plano inicial era abrir o capital da empresa e vender 49% das ações ordinárias, mantendo-se o controle nas mãos da União. A estratégia mudou porque o banco e o governo foram informados de que a manutenção do controle estatal desestimularia a atração de investidores privados, inviabilizando a reestruturação da empresa”.

Sem citar fontes, o jornal especula que “empresários interessados em investir na Infraero explicaram que, dado o histórico de corrupção da companhia e a interferência política em sua administração, apenas a venda do controle despertaria o interesse do setor privado”.

O jornal aproveita para cutucar o governo: “No plano político, o desafio será superar a resistência do PT, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e dos representantes das centrais sindicais que hoje têm cargos no governo. Há ainda a oposição de setores das Forças Armadas, contrários à privatização, e de partidos da coalizão governista, interessados em deter cargos na estatal”.

Em recente artigo escrito para a agência Carta Maior, o professor Gilson Caroni Filho comenta que “a imprensa brasileira, tal como o diabo, pode ser melhor apreciada nos detalhes. Em pequenas trucagens, direcionamento de coberturas e editorialização de textos que não disfarçam seus propósitos, a marcha batida continua. O ano de 2008 ainda não conta dois meses e já vemos o aparato informativo redobrar seus esforços para intensificar uma ofensiva que tem dois alvos claros: a sua própria credibilidade e o governo Lula. Se há paradoxo, ele é secundário para uma mídia que opera na lógica dos fins que justificam os meios”.

O professor continua: “Trata-se de um jogo de espelho que, confundindo o leitor/telespectador, busca colonizar o seu imaginário através de representações simplificadoras. É o que chamamos de persuasão pelo reducionismo. Um procedimento que tem marcado a prática narrativa do campo informativo de tal forma que, aos profissionais mais jovens, já afeitos à ideologia do jornalismo de mercado, soa como ‘operação técnica’ admissível”.

Fonte: Contraf-CUT

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