Valor: Citi antecipa plano da matriz e incorpora financeira à Credicard

Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo

A partir de 1º de abril a CitiFinancial, unidade de crédito pessoal e operações de financiamento ao consumo do Citibank no Brasil, vai virar Credicard Financiamentos. Mais do que abandonar um nome que todos consideravam inadequado para disputar o mercado brasileiro de financeiras de rua, a mudança revela nova estratégia para a área e tira a operação da alça de mira do plano de reestruturação anunciado pelo Citigroup, sexta-feira, nos EUA.

“Já estávamos alinhados à nova estratégia”, afirmou o presidente da CitiFinancial e Credicard Citi, Leonel Andrade, que antecipou a divulgação do novo nome da CitiFinancial aos funcionários depois do anúncio feito pela matriz.

Com a reformulação antecipada da CitiFinancial, única área que poderia ficar fora da nova estratégia do grupo, o banco no Brasil ficou aliviado. A crise pela qual passa o Citigroup, com sua necessidade de fazer caixa, tornaram o banco alvo de assédio no Brasil. Com uma carteira cobiçada de clientes e cartões, pode fazer diferença na consolidação do mercado.

No fim da tarde de sexta-feira, o Citibank divulgou o seguinte comunicado no Brasil: “De acordo com o anúncio de realinhamento feito hoje [sexta-feira], o Brasil foi confirmado como estratégico para a companhia e para o futuro do Citi dentro da nova estrutura do Citicorp. Não há nenhuma intenção de vender o negócio no País. Além disto, a operação e a estrutura organizacional da franquia no Brasil não sofrerão nenhum impacto e continuarão sob a liderança de Gustavo Marin”.

Em Nova York, o Citi anunciou a divisão do grupo em duas unidades operacionais. Uma delas, chamada Citicorp, vai reunir os negócios varejo – cartões próprios e bancos comerciais e de varejo nos Estados Unidos, Ásia, América Latina e Central, Leste Europeu e Oriente Médio -, de banco de investimento e atacado, private banking e serviços de transações globais. O Citicorp terá aproximadamente US$ 1,1 trilhão em ativos.

A outra unidade, a Citi Holdings, reunirá ativos considerados fora do coração do banco e podem eventualmente ser vendidos. A Citi Holdings engloba a área de corretagem e administração de recursos e as operações de financiamento ao consumo nos Estados Unidos, Leste Europeu, Japão, Índia, México, Brasil, Tailândia e Hong Kong. Uma deles é a administradora de recursos Nikko Securities do Japão, já posta à venda, segundo o site do The Wall Street Journal. A corretora Nikko Cordial deve seguir o mesmo caminho.

Andrade informou que, já em meados de 2008, a Credicard e a CitiFinancial tiveram a gestão unificada e um plano de integração desenhado. Todas estruturas de suporte – recursos humanos, tecnologia e operações – e o comando do marketing já foram unificados. A mudança não pôde ser feita antes, esclareceu Andrade, porque só a partir deste ano é que a marca Credicard passou a ser exclusivamente do Citi. Até o fim de 2008, o uso era compartilhado com o Itaú.

A Credicard foi fundada em 1970 pelos dois bancos mais o Unibanco. Em 2005, eles se separaram. A marca foi comprada pelo Citi por R$ 280 milhões em dezembro de 2006 e compartilhada até 2008.

Pesquisas de mercado já haviam indicado a vantagem da troca de marca. Mas a operação é maior do que isso. A Credicard passará a ter uma estrutura de financeira e vai ganhar também a rede de distribuição da CitiFinancial, de 100 pontos de venda. “Vamos somar a experiência de negociação de cartões à distância e com a oferta também nas lojas”, explicou Andrade.

Além disso, a Credicard Citi vai passar a fazer financiamento não só pelo cartão, o que deve aumentar sua competição. O mercado já tem registrado a agressividade das ofertas da Credicard, que tem carteira de 6,05 milhões de plásticos.

Andrade avisa que a oferta aos clientes vai aumentar mais, agora que foi concluída a migração da base de cartões da processadora Orbitall, que ficou com o Itaú, para sistema próprio.

No agressivo mercado de financeiras de rua, afetado pela expansão do consignado e cartões, o Citi tem se saído bem, segundo Andrade. A CitiFinancial saiu do zero em 2003 e agora tem cerca de 150 mil clientes, número que cresceu 60% nos últimos dois anos.

A carteira de ativos aumentou 154% no mesmo período; e as receitas, 120%. A receita por funcionário cresceu 400%. Segundo Andrade, a financeira já “gera resultado” e a meta é ser líder em 2011.

Além de crédito pessoal, a financeira oferece produtos de seguros, cuja receita cresceu quatro vezes nos últimos dois anos; consignado para beneficiários do INSS e empresas privadas. Desde agosto, passou a fazer financiamento de veículos e já opera em 300 concessionárias. Andrade agora está buscando as parcerias com o varejo, na forma de alianças estratégicas.

Os números do Citibank como um todo, porém, refletiram em 2008 os problemas enfrentados pela matriz. De acordo com relatório feito pela Standard & Poor’s (S&P), divulgado na semana passada, o Citi adotou uma “estratégia conservadora nos negócios, que consistiu em ampliar a carteira de crédito em ritmo mais lento do que o mercado”. Mesmo mantendo as linhas de comércio exterior para o Brasil no terceiro trimestre, a carteira total de crédito cresceu 7% nos nove meses terminados em setembro, em comparação com 22% do sistema bancário.

Segundo dados do Banco Central, no fim de setembro, a carteira de crédito do Citi era de R$ 8,98 bilhões, equivalente a 0,86% do mercado. Incluindo operações de leasing, adiantamentos sobre contratos de câmbio e recebíveis de cartões, atingiu R$ 13,008 bilhões.

A S&P afirma que o crescimento do banco também foi limitado pela decisão de remeter à matriz ganhos extraordinários, o que reduziu a capitalização. No primeiro semestre, o banco remeteu R$ 1,7 bilhão. Os lucros recorrentes acumulados no período foram de R$ 376 milhões, excluindo o resultado não operacional de R$ 1,3 bilhão, obtido principalmente com a venda das ações da Redecard.

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