Trabalhadores de Pernambuco lembram ditadura e celebram resistência

O Sindicato dos Bancários de Pernambuco sediou na última sexta, dia 22, no Recife, o ato unificado do movimento sindical para discutir sobre os 50 anos do golpe militar no Brasil. Estiveram presentes lutadores de várias categorias que enriqueceram o debate com depoimentos e relatos sobre o período de intervenções e perseguições e sobre o processo de reconquista dos sindicatos pelos trabalhadores.

Rosa Cardoso integra o Grupo de Trabalho “Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical”, da Comissão Nacional da Verdade. Ela tem viajado pelas várias regiões do país para recolher testemunhos, depoimentos e relatos, que farão parte do relatório, a ser entregue no dia 10 de dezembro.

“A ideia é reconstituir a história das violências e a herança amarga deixada para os trabalhadores. Compreender esta história para que ela não se repita é uma tarefa muito importante”, afirma.

Quem iniciou os pronunciamentos do ato foi Délio Mendes, que atualmente é candidato a vice-governador pelo PCB. Ele lembrou os tempos de militância e os companheiros presos, mortos ou desaparecidos.

“Discutimos com representantes de várias categorias sobre o processo de reconquista dos sindicatos. Algumas entidades, mesmo depois da ditadura, permaneceram nas mãos dos interventores, como foi o caso do Sindicato dos Bancários de Pernambuco”, conta o diretor do Sindicato e da CUT Nacional, Expedito Solaney.

Luci Machado e José Semente, por exemplo, relataram o processo de fundação da Apenope (Associação de Professores do Ensino Oficial de Pernambuco), que mais tarde se tornaria o Sintepe (Sindicato dos Trabalhadores em Educação). Lembraram ainda o processo de mobilização do final da década de 70, com greves que duraram 36 dias.

Os bancários, funcionários dos Correios e trabalhadores rurais trouxeram outras contribuições para enriquecer a história. Zezinho, que participou da criação de vários sindicatos rurais do estado, lembrou o processo de organização nas Ligas Camponesas.

Mauro Lapa, dos Correios, lembrou que a sede da empresa, em Pernambuco, abrigava, em tempos de ditadura, um núcleo do SNI, o Serviço Nacional de Informações criado pelos militares para supervisionar e coordenar as atividades de informações e contrainformações no Brasil.

“Havia, ainda, todo um processo de censura às correspondências. Convivíamos diretamente com pessoas ligadas à repressão”, diz. Segundo ele, até hoje os Correios é a empresa estatal que mais tem militares em seus quadros. “Isso dificulta o processo de organização, tanto que os Correios é a estatal que mais demite trabalhadores por conta de greves”.

Para o secretário de Formação do Sindicato, João Rufino, este espaço de compartilhamento de histórias e depoimentos é fundamental. “Os relatos mostram que os trabalhadores – mesmo com a perseguição, censura e assassinatos – nunca desistiram da luta”, diz.

Durante a atividade, foram exibidos vídeos com depoimentos de dirigentes históricos, muitos deles mortos ou desaparecidos, a exemplo de Hiram Pereira, jornalista, ator e poeta, desaparecido político.

O depoimento de Reginaldo Veloso foi outro momento importante da atividade, ao recuperar as relações da Igreja Católica com os movimentos de resistência à ditadura, a exemplo da Ação Católica Operária.

Para o presidente da Comissão Estadual da Verdade Dom Hélder Câmara, Fernando Coelho, a atividade ajuda a subsidiar os trabalhos das comissões estadual e nacional. “É um momento para rever, reviver e relembrar muita coisa que ocorreu e que precisa ser documentada para que a sociedade inteira conheça e não esqueça jamais”, diz.

O ato foi encerrado, com muita emoção, ao som da música “Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré. Tocada por Ednalda Lourenço, a canção foi entoada a várias vozes, por todos os que estavam presentes no auditório do Sindicato.

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