Sustentabilidade em empresas ainda está muito longe do mundo real

A empresa que você trabalha leva em conta os aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais? Ela supre as necessidades do presente sem afetar gerações futuras? Se você respondeu que não, mas mesmo assim seu empregador prega a sustentabilidade, então você trabalha em uma organização similar a outras milhares de empresas brasileiras.

O tema sustentabilidade nas empresas e no mercado de trabalho gera discussões longas e polêmicas. Foi o que ocorreu no debate promovido pela Rede de Saúde e Segurança do Trabalhador na Fundacentro, na última quinta-feira 15.

Mediado pela médica e pesquisadora Maria Maeno, a palestra teve a participação de Cláudio Brunoro, que estudou o tema em seu doutorado em engenharia de produção na USP. Para Brunoro, “a sustentabilidade corporativa deve promover relações de confiança e cooperação, melhorar o desempenho da empresa e promover desenvolvimento profissional, possibilitando a construção da saúde do trabalhador em um sentido amplo e positivo.”

Dentro deste conceito, números evidenciam que os bancos vão na contramão da sustentabilidade corporativa. De acordo com o INSS, somente em 2013 foram 18.671 afastados. Mais de 50 por dia, todos os dias. “Isso só do que foi oficialmente registrado pelo INSS. Sabemos que há muita subnotificação, seja pela não emissão da CAT ou pelo fato de muitas pessoas adoecidas não se afastarem por temerem ser demitidas”, afirma Marta Soares, diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

No livro Aspectos Sociais e Sustentabilidade em Organizações, Cláudio Brunoro confirma que “é possível perceber que a abordagem empresarial para a sustentabilidade social pouco tem sido direcionada ao ato de trabalhar e aos sujeitos que trabalham”, e ainda que as iniciativas para o público interno nada mais são que medidas paliativas para os efeitos negativos do trabalho.

Ligando todo o conceito de sustentável ao que não ocorre na maior parte das empresas hoje, Brunoro ressaltou que a ideia de o trabalhador se adaptar às atividades, e não o contrário, faz com que um dia “o corpo mande a conta”, referindo-se às doenças ocupacionais. “O rápido, seguro e com qualidade não existe. Algumas dessas etapas serão puladas”, destacou.

Só para fora

Para ele, enquanto trabalhadores estão sobrecarregados e mal conseguem entender o que é e como funciona o seu trabalho, muitas empresas definem como conceitos de práticas sustentáveis iniciativas voltadas ao público externo, como trabalho voluntário feito pelos funcionários, mas para o mérito da empresa, parcerias com ONGs e programas de envolvimento com a comunidade.

Já para os funcionários, as iniciativas consideradas sustentáveis pelos empregadores são, na verdade, conquistas da classe trabalhadora, como plano de saúde. Ou ainda medidas consideradas pelo movimento sindical pouco efetivas, como, por exemplo, a ginástica laboral, vista como artificio para maquiar a culpa pelo adoecimento ocupacional.

Para Cláudio, outro absurdo é precisar formalizar na NR-17 que é vedada a utilização de adereços, acessórios, fantasias e vestimentas com objetivo de punição, promoção ou propaganda.

No caso dos bancos, em 2013, o Sindicato recebeu denúncias de bancários do Santander que foram obrigados a usar chapéus e reverenciar os clientes que entravam na agência.

Maria Maeno concluiu o debate afirmando que o trabalho, levando-se em conta o lado social, está em extinção. “Só é privilegiado o lado econômico. Não se debate com seriedade a redução de jornada, nem o assédio organizacional, tudo fica só na teoria. Muitas empresas rotuladas como sustentáveis estão respondendo por várias ações civis públicas.”

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