‘Ser exigente é ir para a rua cobrar, não é falar palavrão’, diz Lula

“Congresso quer jogar nas costas de meninos de 16 anos a irresponsabilidade dos governos”

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a presidenta Dilma Rousseff em duas frentes: dos ataques pessoais e do momento econômico. “Estamos vivendo tempos difíceis? Estamos. Mas nós vamos consertar. E a Dilma está fazendo isso”, afirmou hoje (3), durante plenária da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que está sendo realizada em Guararema, interior paulista.

Usando uma jaqueta da Petrobras, Lula acredita que Dilma ainda será “motivo de orgulho”, mas disse que ela deve “encostar a cabeça no ombro do povo e conversar”. Ele também criticou a proposta de redução da maioridade penal, em discussão no Congresso, e as tentativas de mudar o regime do pré-sal.

Para Lula, as pessoas têm de ir as ruas exigir dos seus governantes, mas isso não pode ser confundido com agressão. “O povo tem mais informação por segundo do que tinha por mês, e está mais exigente. E a gente não deve se preocupar com isso. Ser exigente é ir para a rua cobrar, não é falar palavrão e xingar a Dilma ou qualquer outra pessoa. Cadê a democracia? Cadê o respeito?”, questionou. O espaço público é o local para se manifestar, segundo ele: “Se quiserem me derrubar, vão ter que me derrubar na rua”.

De acordo com o ex-presidente, há candidatos que até hoje não aceitam o resultado da eleição do ano passado. “Estamos vivendo uma situação um pouco estranha. Ganhamos as eleições, numa disputa aguerrida e agressiva. Os nossos adversários me parece que não querem aceitar o resultado até hoje. Ninguém perdeu mais eleição do que eu. Sempre que perdi, eu acatei o resultado”, disse Lula.

“Nunca vi tanta agressividade como a companheira Dilma tem sofrido. Inclusive com alguns irresponsáveis escondidos na internet.” Ao mesmo tempo, ele avalia que a presidenta deve “conversar com o povo que está torcendo e querendo que ela governe da melhor forma possível”.

Obsessão

Ele mostrou confiança nos resultados do combate à inflação, vendo “certo pânico” atualmente com taxas a 8,5%, 9% anuais, e disse ter confiança de que a presidenta vê essa questão como prioridade. “Tenho certeza de que a presidenta Dilma tem obsessão de trazer a inflação para o centro da meta. E está tomando as medidas para isso. As pessoas esquecem quanto era a inflação quando cheguei ao governo: 12,5%.” E acrescentou que as comparações atuais são sempre feitas com a própria gestão Lula/Dilma. “Mas se comparar com o país que nós herdamos…”, emendou.

Lula lembrou que ele mesmo, em seu primeiro ano de governo, em 2003, fez ajustes na economia. “Não sei quantos de vocês me xingaram”, disse, dirigindo-se aos petroleiros. “Não há espaço neste país para a gente ser negativo. A gente só tem de olhar o que era e o que é hoje. Quem gosta de ajuste?” E ressaltou fatos que, segundo ele, não ganham a publicidade devida, como o acordo com a China, o Programa de Investimento em Logística (PIL), o Plano Safra e o Plano Nacional de Educação.

O ex-presidente também criticou as iniciativas para se alterar o modelo de partilha e reduzir a participação da Petrobras no pré-sal. “De repente, essa gente resolve dizer que não, que está tudo errado. A troco de quê? De trazer multinacionais para fazer aquilo que a gente tem competência de fazer? Essa gente está deixando prevalecer o complexo de vira-lata que uma parte da elite brasileira teve historicamente. Ser dono do meu nariz é muito mais importante do que ficar dependendo dos outros.”

Ao lembrar que a lei do pré-sal garante a destinação de 75% dos royalties para a educação, Lula disse que o país está “atrasado” nesse aspecto. “Quem sabe a gente venha a ser o país que mais investiu em educação?” E informou que o ex-ministro Luiz Dulci, hoje diretor do Instituto Lula, está preparando uma agenda para ele percorrer o país. “Vou viajar pelo Brasil para discutir educação.”

Violência

E também lamentou outro embate no Congresso, com a proposta de redução da maioridade penal. “O Congresso Nacional quer jogar nas costas de meninos de 16 anos a irresponsabilidade de coisas que os governos não fazem. Será que o Estado cumpriu com suas obrigações com jovens de 16, 17 anos? Acho que essa meninada está precisando de oportunidades, e não de cadeia. Tem violência? Tem. Todo mundo sabe que tem violência. Mas de quem é a culpa?”

Lula criticou ainda os “vazamentos seletivos” durante as investigações de corrupção. E defendeu os funcionários da estatal.

“Se alguém fez sacanagem com a Petrobras, que pague, mas que os trabalhadores não sejam punidos. Que não sejam punidos aqueles que trabalham, que são responsáveis pela construção dessa extraordinária empresa chamada Petrobras”, afirmando que em sua gestão e de Dilma o lucro médio/ano da companhia passou de R$ 4,2 bilhões para R$ 25,6 bilhões.

Para o ex-presidente, a dificuldade que a Petrobras enfrenta é temporária. “Uma empresa desse tamanho é que nem o Flamengo: está ruim agora, mas tem recuperação”, brincou. Diante de reações de parte do público, emendou: “Ou o meu Vasco”. Lula é corintiano, mas vascaíno no Rio de Janeiro.

O ex-presidente reafirmou que o movimento sindical não pode se ater à questão econômica e apresentar propostas para melhorar a gestão da empresa. Isso também deve acontecer na campanha salarial dos petroleiros neste ano. “Vocês não podem abdicar de fazer uma bela pauta e de fazer uma bela discussão política sobre o que está acontecendo na Petrobras.”

Ele recordou de uma greve dos metalúrgicos do ABC em solidariedade aos petroleiros, em 1983. “O Jair Meneguelli (que era presidente do então sindicato de São Bernardo do Campo e Diadema) gostou tanto que estendeu a greve e foi cassado”, brincou. O encontro também discute a greve dos petroleiros em 1995, com homenagens a alguns de seus líderes e participantes. Com aproximadamente 150 participantes, a plenária nacional da FUP começou ontem e vai até domingo (5).

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