Sem proposta dos bancos, greve continua crescendo no Paraná

A greve nacional dos bancários completou três semanas, nesta segunda-feira (26) e já é a maior da história, pelo número de agências e locais de trabalho paralisados. No Paraná, 86% das agências permanecem fechadas na base da Federação dos Trabalhadores de Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-CUT-PR). São 837 agências sem atendimento e onze centros administrativos paralisados, totalizando cerca de 21 mil trabalhadores em greve.

Na capital, a greve avançou em outros quatro bairros, sendo fechadas mais algumas agências, nove a mais que na véspera do final de semana, na sexta-feira (23). Em Curitiba e Região Metropolitana, a estimativa do Sindicato dos Bancários é que 15,6 mil trabalhadores estão paralisados, o que representa 86% da categoria.

Após oito rodadas de negociação, desde o dia 15 desse mês, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) continua se recusando a fazer nova proposta para a categoria.  Os bancos não querem repor sequer a inflação, mesmo diante de espetaculosos lucros de R$ quase 70 bilhões em 2015 e 30 R$ bilhões no primeiro semestre desse ano.

Para bancos a fórmula é de mais clientes, maior tarifa = menos agências, demissões e atendimento precário

Os bancos lucraram R$ 58 bilhões com tarifas e taxas nos seis primeiros meses de 2016, sendo R$ 4,8 bilhões a mais que em 2015, de acordo com levantamento do Dieese. Agregaram mais 1.656 mil clientes. Entre junho de 2015 e junho de 2016, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, juntos, fecharam 422 agências bancárias. No mesmo período, esses bancos, junto com Caixa e Santander, demitiram 13.606 pessoas – uma boa parcela de pais e mães de família, que tinham em comum o fato de faltar poucos anos para se aposentarem.

Para Zelário Bremm, presidente do Sindicato dos Bancários de Toledo e região, ao analisar os números registrados pelos bancos, levar os funcionários a ter que completar 21 dias de greve, é um total desrespeito dos patrões com a categoria.

“Mais uma semana se inicia, sem perspectivas para os trabalhadores bancários e a sociedade, numa ação de total desrespeito com quem gera o lucro e a riqueza dos bancos. Desde o início, prevíamos que seria uma greve longa e de enfrentamento, onde só a disposição e determinação dos bancários e bancárias pode garantir os avanços e conquistas. Resistiremos”, anunciou Bremm.

Na região de Cornélio Procópio, 99% das agências estão fechadas, em 17 dos 18 municípios representados pelo sindicato. Apesar da adesão maciça, o dirigente sindical Ivaí Lopes Barroso, aponta que alguns gerentes médios de bancos públicos, que são comissionados por metas, ainda não aderiram totalmente à greve, trabalhando em sistema de rodízio.

“A luta agora é pela manutenção dos direitos. A greve também busca condições de saúde e garantia de emprego. Sabemos que é grande a pressão e o assédio moral pelo cumprimento das metas, o que leva ao alto índice de adoecimento dos bancários. Mas não reagir contra isso, só levará a mais abusos.  É hora de deixar o individualismo, pensar no coletivo e na unidade. A greve é a nossa luta e a única solução por mais direitos. A greve não é dos sindicatos, é dos bancários. Hoje, todos somos sindicatos”, cobrou Barroso.

Por que esta é a maior greve

Os bancários conquistaram em 1992, com grandes mobilizações e greves, a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que garante os mesmos salários e os mesmos direitos para todos os trabalhadores do sistema financeiro nacional, de bancos públicos e privados, em todas as regiões do país.

As conquistas que vinham sendo acumuladas desde a redemocratização do Brasil, em meados da década de 1980, passaram a correr sérios riscos durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, quando foram implementadas políticas econômicas neoliberais, coincidindo com uma reestruturação produtiva do sistema financeiro, que reduziu a categoria bancária a menos da metade (de aproximadamente 900 mil em 1990 a 400 mil em 2002) e ampliou as terceirizações.

Durante todo esse período, os bancários e suas entidades sindicais travaram uma verdadeira guerra de resistência para não perder direitos. Os reajustes salariais nos bancos privados contemplavam no máximo a inflação, ficando muitas vezes abaixo. E nos bancos públicos federais, além de uma grande redução do número de bancários, foram oito anos de reajuste salarial praticamente zero – e sem PLR. Nesse cenário desfavorável, não houve greve da categoria no período.

Os bancários voltaram a fazer grandes mobilizações a partir de 2003, com a posse do primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Desde 2004, com greves cada vez maiores, todos os anos a categoria conquistou aumentos reais de salários e outros avanços sociais e políticos. Nesses últimos 11 anos, os bancários tiveram 20,7% de ganho real no salário e 42,1% no piso salarial, além de conquistas no campo da saúde e das condições de trabalho (inclusive no combate ao assédio moral), da segurança e da igualdade de oportunidades.

O maior índice de adesão dos bancários a uma greve, nesse período, havia sido até agora em 2015, quando a categoria fez uma paralisação de 27 dias, fechando 12.496 agências no último dia e conquistando aumento real sobre os salários, demais verbas e o piso salarial. Desde segunda-feira 19, os bancários já ultrapassaram esse recorde de paralisação do ano passado.

 

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