Presidente do BB avalia que banco pode emprestar mais R$ 80 bi este ano

O Estado de São Paulo
Edna Simão

Para atender determinação do governo de emprestar mais em 2010, o Banco do Brasil precisará recorrer ao seu controlador, o Tesouro Nacional. Em entrevista ao Estado, o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, disse que já começaram os estudos para saber que estratégia adotar para manter o ritmo de expansão da concessão do crédito no próximo ano.

A capitalização é uma das alternativas consideradas. Bendine, mais conhecido no mercado como “Dida”, avaliou que ao longo deste ano o BB não terá problema para ampliar a carteira: o banco ainda pode emprestar mais R$ 80 bilhões.

Bendine assumiu a presidência do BB há pouco mais de dois meses com a missão de alavancar o crédito e liderar, junto com a Caixa Econômica Federal, a queda dos spreads bancários (diferença entre a taxa paga pelo banco para captar recursos e a que cobra de seu cliente). Na ocasião, a mudança no BB foi vista como uma intervenção política do Ministério da Fazenda. “Não vejo aparelhamento nenhum. Não sei de onde possa ter surgido esse tipo de ideia. Acho que temos uma gestão extremamente profissional, técnica como é de costume. O mercado continua apostando fortemente no banco”, afirmou. “Sou uma pessoa totalmente apartidária.”

Com o desafio de recuperar a posição de maior instituição financeira do país, Bendine disse que não desistiu de adquirir bancos como BRB (Banco de Brasília) e o Banestes (Banco do Estado do Espírito Santo).

Frisou ainda que, mesmo com a tarefa de diminuir o custo financeiro, a rentabilidade do investidor não será sacrificada. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O sr. assumiu o cargo há pouco mais de dois meses com o compromisso de reduzir juros e aumentar a concessão de crédito. As mudanças já vão repercutir no resultado do segundo trimestre?

Acho que o banco já atendeu a uma boa parte dessa missão. Foi um grande indutor para o destravamento do crédito. Um cenário mais favorável trouxe maior competitividade. Veremos isso mais claramente no fechamento do balanço. Tenho a sensação de que ganhamos market share no período. A inadimplência caiu no BB e está numa curva melhor. O cenário passa a ser otimista a partir do segundo semestre.

Mas o crédito para as micro e pequenas empresas ainda não destravou. Qual é o problema?

Esse é o setor mais atingido pela escassez de crédito. Acho que as recentes medidas do governo vão contribuir muito para a maior alavancagem, maior oferta de empréstimo. Vamos passar a oferecer condições diferenciadas e isso com certeza terá resultado positivo no curto prazo.

O banco estuda algum tipo de medida para reduzir o spread bancário tão criticado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega?

Estamos trabalhando na redução da inadimplência que hoje acredito ser um dos principais componentes do spread bancário. Estou vendo um sinal positivo nesse sentido. Pelo menos no BB, a tendência é de queda da inadimplência até o final do ano. Por isso, não tenho dúvida que faremos uma evolução maior nesta redução do spread já no início do segundo semestre.

Como compatibilizar as medidas anunciadas recentemente pelo governo no sentido de reduzir spreads e aumentar a concessão de crédito com o aumento da lucratividade do banco? Os acionistas devem se contentar com lucros menores?

Normalmente a ação do banco tem um desconto maior em relação aos outros bancos porque tem uma espécie de garantia maior. É uma aplicação mais segura. O investidor tem certeza que não vai correr o risco de uma quebra da instituição. O que tenho afirmando é que todos os índices de rentabilidade apresentados ao investidor no início do ano serão atingidos. Ninguém está sacrificando a rentabilidade por conta do movimento forte de redução do spread bancário. À medida que é reduzido o spread e os juros é necessário aumentar a carteira.

Não é incoerente querer entrar no Novo Mercado e ter restrições com relação à lucratividade por ser um banco público?

Volto a afirmar que não temos nenhum desejo de reduzir a lucratividade do banco. Todos os índices e valores passados aos investidores no início do ano serão cumpridos. Não estamos perseguindo uma redução de lucratividade. Estamos buscando trabalhar com patamares mais civilizados de taxas de juros.

Qual é a capacidade de crescimento da carteira de crédito cumprindo o limite de capital exigido sobre ativos ponderados pelo risco, ou seja, o Índice de Basileia?

Neste ano estamos com uma margem de conforto muito boa. A capacidade de alavancagem ainda é extremamente suficiente. Mas, para 2010, o banco vai ter que discutir com seu controlador e seus acionistas um novo modelo para assegurar capacidade de ampliação do crédito. Para esse ano, ainda temos capacidade de alavancagem de R$ 80 bilhões.

Por que o limite de alavancagem do crédito em 2010 está comprometido?

Passamos a ter índices apertados de acordo com a regra de Basileia porque fizemos as aquisições da Nossa Caixa e do Votorantim recentemente e, além disso, o patrimônio do BB não vem sendo corrigido numa proporção mais ousada. Para esse ano, temos uma capacidade de alavancagem muito boa. Para o próximo ano, essa capacidade passa a ficar um pouco mais apertada diante do atual quadro de continuar expandindo a carteira de crédito numa velocidade muito boa. Se esse índice Basileia travar não se pode ter expansão do crédito conforme se imagina.

Então veremos uma nova capitalização do Tesouro no BB em 2010?

Essa seria uma das alternativas. Mas existem outros instrumentos. Isso ainda é uma discussão que na verdade nem se iniciou. Estamos começando a fazer os primeiros estudos. Não quero me precipitar. Temos quatro ou cinco alternativas para trabalhar isso, inclusive a da capitalização.

As compras recentes pelo BB foram vistas num primeiro momento no mercado como um socorro. Foram um bom negócio?

A compra da Nossa Caixa e do Votorantim foram excelentes negócios. No caso da Nossa Caixa, havia necessidade de posicionamento no maior mercado do País, que é o de São Paulo. O BB ocupava o quarto ou quinto no mercado em termos de volume e rede de agências. Essa aquisição nos colocou numa situação muito mais cômoda, passando a ser o primeiro banco do Estado. No caso do Votorantim, não foi operação de socorro. O BB tinha uma deficiência crônica que tentava corrigir há dois anos que era crescer no mercado de financiamento de veículos.

Mas o BC não está demorando muito para aprovar essa operação? Isso atrapalha os planos do BB?

Não está fora do cronograma. Mas, enquanto o BC não aprovar, nossa participação na gestão do Votorantim é indireta. Não tem um conselho de administração formado. Acredito que isso deve estar bem próximo da conclusão.

Como está a participação do BB no Minha Casa, Minha Vida?

Hoje participamos complementarmente do programa. A Caixa será o grande agente, mas o BB vai atuar em duas pontas: financiamento às construtoras e liberação de crédito para famílias com renda entre três e dez salários mínimos. Ainda estamos na primeira etapa que é o financiamento dessas construções. Na segunda etapa, quando imóveis tiverem prontos, vamos atuar com financiamento para pessoas com renda entre três e dez salários mínimos. A faixa de renda familiar de até três salários mínimos será exclusiva da Caixa.

A intenção do BB de crescer no mercado imobiliário não bate com os interesses da Caixa?

De forma alguma. A Caixa não teria condição de atender sozinha esse mercado, diante da perspectiva de crescimento. Vamos agir de forma complementar.

O BB ainda tem interesse em comprar o BRB?

Confesso que houve atraso no cronograma em razão da recente troca no comando da instituição. As negociações prosseguem. É verdade que precisamos saber do real apetite do governo federal.

A suspensão das negociações de compra do Banestes é definitiva?

Não. O governo do Espírito Santo entendeu que não era o momento para concretizar o negócio. Acordamos que iríamos suspender o processo e que retomaríamos uma possível conversa, mas sem data marcada.

Sem essas aquisições o BB terá condições de voltar a ocupar o primeiro lugar no ranking?

O BB voltará a ser líder. É difícil fazer um prognóstico de quando isso vai ocorrer. Não dá para fazer futurologia.

Por que foram necessárias tantas mudanças na vice-presidência e diretorias? Analistas falam em aparelhamento da instituição, pois as indicações seriam políticas?
Para mim, isso é uma surpresa. Não tenho nenhuma vinculação partidária. Sou funcionário de 30 anos de casa. Comecei aqui como menor aprendiz. No conselho diretor, cinco são originários desse quadro de menor aprendiz, foram office boy do banco. Não vejo aparelhamento nenhum. Não sei de onde possa ter surgido esse tipo de ideia. Acho que temos uma gestão extremamente profissional, técnica como é de costume.O mercado continua apostando fortemente no banco. Prova disso é que nossos papéis são os que tiveram maior valorização em relação a outros bancos.

Mas por que as mudanças foram necessárias?

Por estilo de gestão. É natural em qualquer instituição. Normalmente, as pessoas buscam trabalhar com profissionais que tenham um perfil parecido com o seu.

O sr. tem alguma ligação com o PT? Com o presidente nacional do partido Ricardo Berzoini?

Sou uma pessoa totalmente apartidária. Não existe esse tipo de vinculação.

E as mudanças feitas no segundo e terceiro escalões? Dizem que foram feitas para acomodar aliados de partido…

Recebi também a mesma informação só que do lado inverso. Me disseram que eu estava tirando gente que tinha vinculação partidária. Quem nomeia o presidente do banco é o presidente a República. É natural que uma empresa que atua no mercado faça trocas na equipe para trabalhar com funcionários que estejam aliados ao seu perfil. Isso vale para os vice-presidentes e diretores. Essas trocas são naturais e sadias.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram