PCS: Bancários querem definição de carreira

O seminário sobre PCS que a Feeb RJ/ES realizou no último dia 29 reuniu sindicalistas e técnicos que discutiram as dificuldades do encarreiramento dos bancários.

Na parte da manhã, o consultor de RH Sérgio Boa Nova expôs os modelos mais comuns de planos de remuneração adotados pelas empresas públicas e privadas e pelos órgãos da administração pública. Para os sindicalistas bancários presentes, a exposição deixou claro que a maioria dos bancos não adota modelo nenhum e que a progressão profissional e salarial nas instituições financeiras não obedece a nenhum modelo. Os bancos se limitam a ter uma lista de cargos e seus salários correspondentes, mas não há definição clara das atribuições de cada função.

Os sindicalistas bancários sabem que os cargos têm nomes diferentes em cada empresa, mas, segundo Boa Nova, o que define um cargo não é o título da função, mas sua descrição: a relação de tarefas e responsabilidades inerentes que serão atribuídas ao funcionário. Mesmo com nomenclaturas diferentes, os cargos iguais permitem a construção de um modelo de PCS comum a todas as instituições financeiras, com definição clara de remunerações para cada um deles.

O consultor apresentou as formas de se avaliar a remuneração dos cargos numa empresa, que usa um sistema de notas que pontuam diversos fatores. Dos nove fatores apresentados, somente dois – esforço físico e habilidade manual – não podem ser diretamente aplicados a nenhuma tarefa bancária. Todos os outros se aplicam ao trabalho nos bancos, com destaque para três: responsabilidade por erros, responsabilidade por dados confidenciais e responsabilidade por valores. Estes três itens dão pontuação alta no sistema de avaliação da remuneração da função e seriam razões para que o salário dos bancários fosse melhor.

Questões relacionadas

À tarde, a exposição de Marcel Barros, coordenador nacional da Comissão de Empresa do BB da Contraf-CUT, partiu da situação específica do banco público para discutir politicamente o problema em todo o sistema financeiro. Marcel começou questionando o nome PCS – Plano de Cargos e Salários, ressaltando que o correto seria Plano de Carreiras, Cargos e Salários, para abranger não só os nomes e remunerações de cada função, mas também as vias de progressão profissional que um funcionário poderá seguir dentro da empresa. “Um dos principais problemas disso é a questão da jornada de trabalho, já que a evolução baseada no comissionamento leva o bancário para os cargos de oito horas. E a legislação é clara: só pode ter jornada de oito horas o funcionário em cargo de confiança, o que é definido pela existência de subordinados sob seu comando”, destaca Marcel.

Nesta situação, um funcionário com perfil operacional, por exemplo, terá que se esforçar para obter sucesso na área comercial para conquistar uma remuneração melhor, porque não há um caminho para a evolução do empregado na estrutura da instituição. “Nós sempre discutimos o plano de cargos separado do plano de carreiras, e isso é bom para o banco”, avalia o coordenador.

O que era ruim, ficou pior

O novo modelo de plano de cargos do BB foi assunto para muita discussão. O “pacote de maldades” lançado há um ano, desmantelou o PCS. “Para os 7.100 empregados que aderiram ao Plano de Afastamento Antecipado, foi bom. Mas as maldades estão começando a aparecer agora”, relata Marcel Barros. Um dos maiores problemas foi o atrelamento da remuneração à comissão. “Um funcionário em início de carreira, que, somando todas as verbas, ganha pouco menos de R$ 1.200, passa a receber cerca de R$ 2.300 quando é promovido a Assistente de Negócios, a nova função criada pelo pacote. Mas este acréscimo é decorrente da comissão, e ele passa a trabalhar oito horas. Além da jornada maior, ele passa a ter metas a cumprir e a enfrentar o assédio moral para alcançar a produtividade exigida”, informa Barros.

No BB, assim como na CEF, ao invés de ser demitido, o bancário é punido com o descomissionamento. E, de acordo com o novo PCS definido pelo “pacote de maldades”, a diferença de salário entre os doze níveis do PCS é muito pequena. “Se um bancário não assumir nenhum cargo comissionado, ou se perder a comissão, seu salário, que, no início da carreira é de R$ 1.100 chegará, depois de 30 anos na empresa, a apenas R$ 1.800. É por isso que muito pouca gente faz concurso para o BB pretendendo ficar no banco a vida toda. Os novos concursados não vêem futuro no banco, como acontecia antigamente”, relata o sindicalista.

Outra péssima novidade do pacote foi a extinção da substituição formal. Antes, quando um funcionário substituía seu superior – afastado por férias, licença ou para treinamento – recebia, pelo período da substituição, salário igual ao do substituído. Agora, há a substituição na prática, uma vez que as tarefas do empregado que se ausenta não podem deixar de ser cumpridas, mas o substituto não recebe a remuneração correspondente à função que ocupa temporariamente. “Isto caracteriza desvio de função, porque o bancário passa a não ganhar pelo que faz. Vamos denunciar o banco por gestão temerária por institucionalizar esta irregularidade”, anuncia Marcel Barros.

Salário é o X da questão

Nas campanhas salariais recentes, a PLR tem sido um ponto fundamental da negociação com os patrões. Os bancários querem uma fatia dos exorbitantes lucros dos bancos, já que o crescimento não seria possível sem a ação dos trabalhadores. Mas, por outro lado, o movimento sindical combate os altíssimos spreads e as tarifas abusivas, defendendo que as instituições financeiras cobrem preços justos pelos serviços prestados à população. “Estes dois fatores são responsáveis por grande parte do lucro das empresas e, se forem reduzidos, vão gerar lucros menores e a PLR também será menor. Portanto, os bancários devem reavaliar a importância que dão à participação nos lucros”, alerta Marcel Barros.

O sindicalista ressalta, então, que o salário-base – independente das comissões – tem que ser o fator mais importante da composição dos vencimentos do bancário. É o ordenado que deve representar a maior parcela, garantindo ao funcionário a remuneração justa pela tarefa que exerce. Com a aplicação deste princípio, todas as outras verbas passarão, de fato, a ser adicionais.

Na estrada

Marcel Barros se colocou à disposição para visitar os sindicatos filiados e esclarecer aos funcionários do BB em suas bases os principais problemas do banco – Cassi, Previ e PCS. Os interessados podem contactar a Federação para agendar a visita.

Participação

O seminário teve participação expressiva, superando a expectativa dos organizadores. Estiveram presentes representantes dos sindicatos de Angra dos Reis, Baixada Fluminense, Campos, Itaperuna, Nova Friburgo, Petrópolis, Rio de Janeiro, Teresópolis e Três Rios. Também participaram representantes da APCEF e da CIPA/CEF.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram