Para Gilmar Carneiro, mobilização é principal desafio do movimento sindical

“A importância (das eleições presidenciais este ano) é histórica. Podemos andar para frente ou para trás. Em termos de evolução do emprego, da renda, das políticas públicas e da participação dos trabalhadores, é evidente que o governo Lula foi melhor do que o FHC em nível federal e que o Governo Serra em nível estadual”. A frase é do ex-bancário do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj) e presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo entre 1991 e 1994, Gilmar Carneiro.

Gilmar participou de um debate promovido pela FETEC-SP no último dia 27 de abril, em sua sede, para falar sobre política e conjuntura, ao lado do presidente da FETEC-SP, Luiz César de Freitas (Alemão), e o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro. Para Gilmar, a principal dificuldade do movimento sindical atualmente é mobilizar trabalhadores para a luta pelos seus direitos.

Confira a seguir a entrevista que Gilmar Carneiro concedeu para a FETEC-SP.

FETEC-SP: Qual a diferença do movimento sindical dos anos 80 para o de agora? Quais eram os desafios daquela época e quais os atuais?

Gilmar Carneiro: Há muitas diferenças, principalmente que nos anos 80 estávamos sob uma ditadura militar e hoje estamos numa democracia. Os maiores desafios no período era reconquistar a liberdade de manifestação e organização. A partir daí organizar os trabalhadores por melhores salários e condições de trabalho.

Os desafios atuais passam por consolidar a democracia, avançar na liberdade sindical, que ainda é precária, e continuar a luta por salários, condições de trabalho, planos de previdência e saúde. Cuidar das aposentadorias e da saúde dos trabalhadores são bandeiras fundamentais. Combater a terceirização e o trabalho precário também fazem parte da luta pela garantia dos direitos dos trabalhadores.

Outro desafio importante é a defesa das políticas públicas. Precisamos melhorar a educação, o transporte, a qualidade de vida de todos, crianças, adultos e idosos. E as centrais sindicais devem atuar ativamente nesta perspectiva.

FETEC-SP: Está mais fácil ou mais difícil ser sindicalista nos dias de hoje?

Gilmar Carneiro: Do ponto de vista da liberdade social, não resta dúvida que hoje está mais fácil, porém, do ponto de vista das mobilizações, hoje está mais difícil. Com a democracia, os atores sociais, tanto os sindicatos como os empresários, precisam se adequarem às novas dinâmicas.

FETEC-SP: Como você avalia a relação do governo atual com os sindicatos? E com os trabalhadores?
Gilmar Carneiro: Com o governo federal há um bom relacionamento. O mesmo não podemos dizer com o governo estadual de SP e de muitas prefeituras. Porém, poderíamos ter avançado mais em relação à liberdade sindical, por exemplo, propondo o fim do imposto sindical, tanto para os trabalhadores como para os patrões, avançar na organização por local de trabalho, regulamentando as comissões de empresa, e buscando mais transparência nas gestões das empresas e dos governos.

FETEC-SP: Qual a importância das eleições desse ano para os trabalhadores?

Gilmar Carneiro: A importância é histórica. Podemos andar para frente ou para trás. Em termos de evolução do emprego, da renda, das políticas públicas e da participação dos trabalhadores, é evidente que o governo Lula foi melhor do que o FHC em nível federal e que o Governo Serra, em nível estadual.

Já tivemos o período de FHC onde os direitos dos trabalhadores foram violentamente atacados com privatizações, arrocho salarial, não realização de concursos e não participação sindical enquanto ator social importante. Para evitar o retrocesso, os sindicatos precisam trabalhar muito durante a campanha eleitoral, defendendo as conquistas dos trabalhadores e combatendo as propostas neoliberais que Serra/FHC representam.

FETEC-SP: As centrais sindicais ainda têm a mesma importância que antes?

Gilmar Carneiro: Institucionalmente, hoje as centrais têm mais importância. São mais de 10 centrais. Antes praticamente só tínhamos a CUT, enquanto central organizada, as demais eram aglutinações de sindicatos conservadores contra a CUT e o PT. Fazem parte do processo de redemocratização do Brasil. Antes tínhamos dois partidos políticos (Arena e MDB), atualmente há 30 partidos. Era um exagero antes e é um exagero hoje. Tanto para os partidos políticos como para as centrais. Porém, quem pode regulamentar isto é o Congresso Nacional ou uma nova Constituinte.

FETEC-SP: O cooperativismo no Brasil é viável? Por que você acha que funciona?

Gilmar Carneiro: O cooperativismo faz parte da história da classe trabalhadora e da revolução industrial. Quando o capitalismo começou na Inglaterra e Europa, os trabalhadores urbanos e rurais começaram a organizar cooperativas como forma de auto-proteção dos seus direitos e formas solidárias de proteção à qualidade de vida, principalmente porque naquela época o Estado era fraco. Ainda preponderavam as monarquias onde os reis eram proprietários de quase tudo

O cooperativismo é uma das formas de organização da economia e das políticas públicas. Por ser um processo coletivo e solidário, é uma das formas mais difíceis de se generalizar, mas o cooperativismo vem crescendo principalmente nos países menos desenvolvidos.

O mundo moderno é cada vez mais plural, isto é, teremos empresas estatais, empresas privadas, empresas multinacionais, empresas familiares, cooperativas grandes e cooperativas pequenas. Há espaço para todos, porém é importante que junto com a pluralidade tenhamos também a democracia participativa e a sustentabilidade ambiental.

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