Mulheres sofrem discriminação nos bancos, aponta II Censo da Diversidade

Dados parciais foram mostrados pela Fenaban em negociação com o Comando

As mulheres bancárias continuam sendo discriminadas nos bancos. A conclusão saltou aos olhos do Comando Nacional dos Bancários, durante a apresentação feita pela Fenaban na negociação ocorrida nesta terça-feira (16), em São Paulo, de alguns dados do II Censo da Diversidade, realizado entre 17 de março e 9 de maio. As mulheres recebem 77,9% do salário médio dos homens, apenas 1,5 ponto percentual a mais em relação ao I Censo, promovido em 2008.

Cálculo efetuado pelas técnicas do Dieese mostra que, nesse ritmo de correção das distorções, demorará 88 anos para que as mulheres passem a receber salários iguais aos homens nos bancos. E na região Sudeste, onde a diferença salarial de gênero é ainda maior, demoraria 234 anos para as mulheres atingirem a mesma remuneração dos homens.

Os dados não foram disponibilizados pela Fenaban, sob a alegação de que, mesmo passados quatro meses da realização do II Censo, são parciais, incompletos e ainda precisam ser concluídos. Do total de 458.922 trabalhadores dos 18 bancos que participaram do II Censo, responderam ao questionário 187.411 bancários, o que significa 41%, dos quais 51,7% de homens e 48,3% de mulheres.

Para Deise Recoaro, secretária de Mulheres da Contraf-CUT, essa pequena amostra já permite detectar que não houve alterações significativas nas discriminações de gênero. “Além disso, fica claro que os bancos continuam a discriminar as mulheres e nada de efetivo tem sido feito para mudar este quadro. O que é mais grave é que a Fenaban se nega a reconhecer essa desigualdade e ainda usa subterfúgios para justificar o que vem acontecendo”, critica.

“Os bancos ainda tem a cara de pau de menosprezar esses dados, tentam amenizar a situação, alegando que as mulheres ganham menos que os homens porque ficam menos tempo no serviço e que estariam começando a ingressar nos bancos e fazer carreira, o que não é verdade. Sabemos que, mesmo as mulheres com mais tempo de banco, não têm oportunidades de ascensão profissional e, quando passam a ganhar mais, são as primeiras a serem demitidas”, aponta Deise.

Invisibilidade das mulheres negras

Outra grande preocupação é a discriminação da mulher negra, “quase invisível nos bancos privados”, segundo a diretora da Contraf-CUT. Os bancos estranhamente não apresentaram esse dado. “Isso leva a crer que, assim como a remuneração, a discriminação por raça continua sendo uma dura realidade no sistema financeiro”, ressalta.

“No censo de 2008, havia somente 8% de mulheres negras em toda a categoria, em nível nacional. Acreditamos que essa situação é praticamente a mesma em 2014. Apesar de todos os dados sobre a população brasileira apontarem para melhor escolaridade das mulheres negras, maior qualificação e capacidade de inserção no mercado de trabalho, os bancos privados continuam a barrá-las na contratação, não dando sequer a oportunidade de trabalharem no sistema financeiro”, destaca.

Entretanto, os representantes da Fenaban disseram que não observam nos resultados do II Censo a confirmação de há discriminação nos bancos. Deise espera que ter conhecimento de todos os dados da pesquisa, feita em parceria com a Contraf-CUT, a fim de fazer os cruzamentos e análises possíveis para diagnosticar a realidade da categoria e, a partir disso, construir um plano de ação para acabar com todas as discriminações existentes.

Igualdade de oportunidades

“Já cobramos na mesa de negociação da Campanha Nacional dos Bancários 2014 que a Fenaban apresente medidas efetivas para transformar logo essa realidade, pois é inadmissível que em pleno século 21 as mulheres sejam tratadas nos bancos como trabalhadoras de segunda categoria”, salienta Deise. “Não abrimos mão de igualdade de oportunidades na contratação, na ascensão e na remuneração”, defende.

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