ITM do Itaú paralisa atividades contra a terceirização em São Paulo

Setor engloba diversas áreas de call center e é seriamente ameaçado pelo 4330

A ameaça aos direitos trabalhistas e a corrosão salarial representadas pelo Projeto de Lei 4330, que legaliza a terceirização sem limites, uniu e mobilizou a categoria bancária. Na quarta-feira 15, trabalhadores do Itaú lotados no centro administrativo ITM paralisaram suas atividades em protesto contra a tramitação do texto no Congresso Nacional. A manifestação faz parte de dia nacional de luta contra o projeto de lei que reúne em todo o Brasil trabalhadores das mais diversas categorias.

Durante o protesto, a secretária-geral do Sindicato, Ivone Maria, destacou a relevância da mobilização dos trabalhadores contra o PL da Terceirização. “É importante que mandem e-mails aos deputados e senadores se posicionando contra o projeto de lei que vai rasgar a CLT, e não vai criar nenhum emprego, vai criar subemprego, porque os terceirizados que trabalham em bancos ganham 70% menos do que os bancários”.

Os empregos dos funcionários do ITM correm grande perigo, pois aquela concentração engloba muitas áreas de call center, um dos setores mais devastados pela terceirização nos bancos.

“Eu trabalho na área de crédito consignado, que foi quase toda terceirizada”, conta uma trabalhadora. “Os antigos funcionários foram realocados, mas na verdade foi uma estratégia do banco para se desfazer deles, porque foram transferidos para áreas que a maioria não quer ir, como vendas, e acabaram pedindo demissão ou sendo demitidos. Eu me salvei porque fui escolhida para fazer o treinamento dos novos funcionários”, acrescenta.

E como são as condições e o salário desses trabalhadores? “Horríveis. Ganham um salário mínimo, o vale-refeição é de R$ 12 e a jornada de trabalho é maior do que a dos funcionários antigos”, relata.

Prejuízos

Mas não só os trabalhadores de call center correm perigo se o projeto for aprovado. Qualquer empregado com carteira assinada poderá enfrentar esse processo de precarização das relações de trabalho, dos direitos e diluição salarial. Terceirizados ganham em média 25% menos que os empregados diretos. No setor financeiro a discrepância é ainda maior. Contratados para fazer serviços bancários ganham em média 70% menos do que os trabalhadores diretos do banco.

“É péssimo esse projeto, emprego terceirizado é uma porcaria”, afirmou uma gerente que foi ao ITM fazer um curso. Ela não sabia que o PL 4330, se virar lei, poderá afetar todos os trabalhadores com carteira assinada, inclusive os bancários que ocupam cargo igual ao dela. “Pensei que só as áreas de atendimento iam ser terceirizadas. Agora eu fiquei bem preocupada.”

Quem já enfrentou essa experiência sabe bem como é. “Eu já trabalhei como terceirizado no Unibanco em 2007. Era horrível. Meu salário era menor do que o meu vale-refeição hoje. Naquela época meu VR era de R$ 4 por dia. Não dava nem pra comprar uma coxinha e um suco.”

Enfraquecimento

E não é só a questão do salário e dos direitos que o PL 4330 vai prejudicar. A representação sindical e a mobilização dos trabalhadores também será seriamente afetada. Isso porque a aprovação do texto irá dividir os funcionários que hoje pertencem a uma categoria, em várias.

Por exemplo: os funcionários de call center de bancos passarão a integrar a categoria de operadores de telemarketing, e não mais se beneficiarão das conquistas conseguidas com as greves e as negociações entre os sindicatos de bancários e as federações dos bancos. Essa organização do movimento é que garantiu os vales alimentação e refeição, a PLR, dentre tantos outros direitos que não foram concedidos pelos bancos, e sim arrancados deles.

E por isso é fundamental contar com um sindicato combativo e que defenda os interesses dos trabalhadores, como relata um bancário do setor de conta corrente do ITM, que também já foi terceirizado e integrava a categoria de operador de telemarketing.

“Lá, o sindicato, que deveria defender a gente, na verdade estava em conluio com a empresa. Quando era época da campanha salarial, os supervisores conversavam com os funcionários para ver quem era a favor e quem era contra a proposta de reajuste. E só era liberado para participar da assembleia quem era a favor. Por isso era sempre aprovado um reajuste baixo, ridículo”, relata.

“Aquele Congresso dominado por empresários vai tentar tirar os seus direitos, mas o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região vai lutar e não vai deixar isso acontecer. Para isso é muito importante a mobilização dos trabalhadores”, afirmou o ex-presidente da entidade e ex-deputado estadual Luiz Claudio Marcolino. “Os empresários e os banqueiros como o Olavo Setúbal vão pressionar pela aprovação do projeto, mas nós vamos pressionar contra, paralisando o Itaú, o Santander, o HSBC, o Bradesco. Não vamos permitir que esse projeto vire lei.”

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