Gestão que adoece e mata: Sindicato se reúne com a Caixa

Representantes do Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e região se reuniram, nesta quinta-feira (01), com representantes da Caixa Econômica Federal para debater as questões relacionadas ao adoecimento dos trabalhadores e também os cinco suicídios de empregados do banco ocorridos nos últimos três anos. Também participaram da reunião o médico do Trabalho Elver Andrade Morante e o engenheiro do Trabalho Fernando Cunha de Andrade, integrantes do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) da Secretaria Municipal de Saúde.

Há muito tempo o Sindicato tem denunciado à direção da Caixa que as atuais condições de trabalho tem levado os bancários ao adoecimento. Em consulta realizada em 2017 pela entidade, 21% dos empregados que responderam ao questionário declararam já terem sido vítimas de assédio moral no banco e mais de 20,7% confirmaram estar fazendo uso de medicação controlada. Um grande número de afastamentos por adoecimento do trabalho também tem sido contabilizado nas visitas realizadas pelos dirigentes sindicais aos locais de trabalho.

Na reunião, os representantes da Caixa expuseram alguns dados e também os programas implementados pela empresa para prevenção e promoção da saúde dos empregados. Frente à explanação, o diretor Genesio Cardoso constatou que todas as medidas têm como foco “resolver problemas do indivíduo bancário” e em nenhum momento a gestão da empresa é focalizada. "O que temos visto é que a forma de gestão atual da Caixa, que reduz o número de funcionários a cada dia e aumenta a demanda de trabalho exponencialmente, é o grande fator de risco. As pessoas adoecem porque estão submetidas à sobrecarga de trabalho, a metas inalcançáveis e a uma pressão desumana. Esse é o problema que precisamos resolver”, apontou o dirigente sindical.

Os representantes do banco também foram questionados sobre as investigações realizadas sobre os casos de suicídio. Conforme acompanhamento do Sindicato, foram cinco casos em Curitiba e região somente nos últimos três anos. No início de fevereiro, a entidade também enviou um ofício ao Ministério Público do Trabalho (MPT) solicitando a investigação aprofundada dos fatos. Um procedimento preparatório de averiguação já foi iniciado. 

Após as informações apresentadas pela Caixa, o médico do Trabalho Elver Andrade Morante pontuou que, além dos riscos ergonômicos, químicos, físicos e biológicos, é preciso que os bancos considerem também os riscos psicossociais que o ambiente de trabalho bancário representa e que podem gerar adoecimento. Ele apresentou a legislação e o referencial teórico que tratam dos adoecimentos relacionados ao trabalho e explicou sobre o caráter organizacional – da organização do trabalho em si – que o assédio moral assume nas instituições bancárias. Para ele, todos os programas de prevenção e promoção à saúde do trabalhador devem considerar tais condições de trabalho.

“Nosso objetivo, do Sindicato e da Secretaria de Saúde, é unir forças com a Caixa para encontrar soluções que promovam a saúde e evitem o adoecimento dos bancários, inclusive os casos fatais”, complementou o engenheiro do Trabalho Fernando Cunha de Andrade. Por fim, ficou acordado que a Secretaria Municipal de Saúde irá solicitar à Caixa, por meio de ofício, os dados detalhados referentes aos afastamentos por doença do trabalho, bem como os documentos relativos às investigações realizadas pela Cipa e pelos responsáveis do banco sobre os casos de suicídio. Uma nova reunião deverá ser agendada em breve. 

Caixa continua diminuindo o quadro
Vale acrescentar que, nos últimos três anos, a Caixa realizou vários Planos de Demissão Voluntária (PDV), reduzindo seu quadro em quase 15 mil funcionários no Brasil. Por outro lado, o número de operações realizadas aumentou consideravelmente, por conta de ações do Governo, como o pagamento do FGTS inativo e, no caso de Curitiba, a aquisição da folha de pessoal da Prefeitura, com aproximadamente 50 mil contas.

Como se já não bastasse, a Caixa anunciou na última semana mais um PDV, chamado de Plano de Desligamento de Empregado (PDE/2018). Em comunicado encaminhado aos gestores das unidades, o banco informou o período e as formas de adesão, as exigências para aderir, os benefícios e também o limite de 2.964 desligamentos. “Após contabilizar quase 15 mil empregados a menos, se comparado a 2014, a Caixa anuncia que pretende desligar mais 3 mil. Considerando as atuais condições de trabalho, mais um PDE neste momento é um absurdo. O banco deveria estar contratando, não desligando!”, avalia Genesio Cardoso.

Para o dirigente sindical, a melhora das condições de trabalho passa pela imediata reposição dos desligamentos. “É urgente a contratação dos aprovados no concurso de 2014, que teve seu prazo prorrogado por tempo indeterminado até que se transite em julgado a Ação Civil Pública (ACP) que tramita em Brasília”, pontua o dirigente. "Enquanto a gestão da Caixa quer reduzir custos e maximizar o lucro, nós queremos reduzir adoecimentos e maximizar a vida. Lutamos por melhores condições de trabalho e isso passa pela imediata contratação de mais empregados. A sensibilização do MPT e da Secretaria de Saúde está sendo muito importante nesse momento. Estamos de luto, estamos na luta!”, conclui.

É fundamental que os empregados da Caixa continuem denunciando ao Sindicato as más condições de trabalho, para assim subsidiar as ações e providências a serem tomadas.

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