Fusão ABN-Santander: mobilização por garantia de emprego

(São Paulo) A definição da venda do ABN Amro para o Consórcio formado por RBS, Fortis e Santander aumenta ainda mais a necessidade de mobilização dos trabalhadores brasileiros dos dois bancos. Atividades pela garantia de emprego serão a tônica dos próximos meses, prazo em que se espera que o espanhol Santander assuma as operações do Real ABN, braço do banco holandês no Brasil.

“As próximas ações serão organizar os trabalhadores em reuniões nos locais de trabalho, juntamente com os sindicatos, visando acumular forças para abrir processo de discussão com a empresa para que ela reconheça a necessidade da garantia de emprego”, esclarece Gutemberg Oliveira, diretor da Fetec-SP e funcionário do Real ABN.

Ele conta que haverá também continuidade das ações em Brasília, iniciadas na Jornada de Lutas, que levaram sindicalistas de todo o país para a capital federal para pressionar parlamentares, membros do governo e toda a sociedade a se posicionarem na defesa dos empregos dos bancários brasileiros. A Contraf-CUT enviará nos próximos dias para os sindicatos jornal Realidades especial sobre essas atividades.

Batalha no Parlamento – Parlamentares de diversos partidos têm manifestado apoio à luta dos trabalhadores de Real ABN e Santander por garantia de emprego. Em São Paulo, o deputado estadual Cido Sério (PT) convidou representantes dos trabalhadores para participarem de reunião da Comissão de Relações Internacionais da Assembléia Legislativa, que aprovou o envio de uma carta aos dois bancos cobrando proteção para os trabalhadores. “Na Câmara federal, parlamentares como Chico Lopes e Daniel Almeida, do PCdoB, deram grande ajuda”, diz Gutemberg.

Outro exemplo é o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), presidente da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, que apresentou à mesma comissão requerimento para que a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça investigue o processo de compra do banco holandês ABN Amro pelo espanhol Santander. Ele acredita que as denúncias podem levar, inclusive, à criação de uma comissão parlamentar mista de inquérito para investigar o caso.

Atendimento

A situação pode ficar complicada também para os clientes do Real ABN. Levantamento realizado pela Folha de S.Paulo revelou que os preços das tarifas do Santander são mais altos que os praticados pelo ABN Real em vários dos quesitos estudados. A diferença pode chegar a quase 100%, como é o caso da taxa de emissão de extrato no atendimento eletrônico. O ABN Real cobra R$ 1,40, enquanto que o Santander debita da conta do cliente o valor de R$ 2,94 pelo serviço. Além disso, desde o início do ano, somente em agosto, último mês relatado, o Santander não esteve em primeiro lugar no ranking de reclamações de clientes que foram encaminhadas ao Banco Central.

Gutemberg chama atenção para o fato de que o Santander, desde que entrou no Brasil, adquiriu cinco bancos (Noroeste, Meridional, Banco Geral do Comercio, Bozano-Simonsen e Banespa), o que lhe daria poder de fogo suficiente para estar hoje brigando em igualdade com o Itaú, por exemplo, o que não ocorreu. “A forma truculenta de tratar clientes e funcionários se refletiu não só nas reclamações do BC como nos números dos balanços, que mostram um banco com muito poder de fogo e baixo desempenho”, avalia. “Falta infra-estrutura, investimento na qualificação dos funcionários e sobra pressão na cobrança de metas, o que deixa os funcionários insatisfeitos e piora a qualidade do atendimento”, defende.

Enquanto isso, o ABN Amro comprou dois bancos (Real e Sudameris) e conseguiu consolidar a terceira posição entre os bancos privados. “Enquanto o Santander andou de lado, o ABN se desenvolveu”, diz Gutemberg. Ele explica que o ABN também tem diversos problemas, mas abriu espaços de diálogo sobre diversos temas com o sindicalismo. Dessa forma, os trabalhadores conquistaram avanços, como política de bolsas estudos e mudanças na área de saúde ocupacional da empresa. “Esperamos que os espanhóis tenham bom senso e desta vez acertem em sua política de RH”, sustenta Gutemberg.

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