Fundos de pensão planejam mudanças nos investimentos em 2013

Karla Sportorno
Valor Econômico | De São Paulo

Os gestores de fundos de pensão planejam mudanças no portfólio de investimentos em 2013. Maiores aportes em renda variável, em títulos de crédito privado e também em fundos de private equity, que compram participação em empresas, estão entre os planos desses grandes investidores brasileiros. Essas são algumas das conclusões de uma pesquisa inédita por sua abrangência, organizada pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).

Em um trabalho que durou pouco mais de três meses, os gestores de 120 fundos de pensão revelaram como pretendem enfrentar o desafio de cumprir as metas atuariais em um ambiente de rentabilidade menor. Juntas, as fundações ouvidas na pesquisa administram aproximadamente 81% do total dos ativos do setor. Segundo a Abrapp, em junho, os fundos reuniam patrimônio de R$ 620 bilhões.

Na pesquisa, mais da metade dos gestores respondeu que pretende aumentar a alocação em renda variável nos próximos 12 meses. Atualmente, a participação dessa classe de ativo não chega a 40% do total dos recursos geridos pelos fundos de pensão com benefício definido. Quando observados os fundos com contribuição definida ou variável, a renda variável se faz ainda menos presente. Em média, 14,9% dos recursos estão nessa modalidade.

Para Carlos Garcia, sócio da Itajubá Investimentos, gestora voltada para clientes institucionais, a mudança nos planos dos gestores é emblemática. Mostra a preocupação com o cumprimento das metas atuariais e uma rápida correção de rota. “A resposta dos fundos ao novo patamar dos juros no Brasil veio de forma muito rápida, na minha opinião. No mercado americano, a resposta levou mais tempo”, afirma Garcia, um dos coordenadores da pesquisa da Abrapp.

Garcia salienta que o levantamento captou a intenção dos gestores e não propriamente as novas alocações. Mesmo que se confirmem, os planos para aumentar a aplicação em renda variável – seja com aportes em ações ou cotas em fundos imobiliários – não devem mudar o perfil dos portfólios brutalmente.

Como herança das décadas de juros altos e títulos públicos com farta rentabilidade, a renda fixa comporta o maior volume de recursos. Na carteira dos planos com benefício definido, 50,7% dos recursos estão alocados nessa modalidade, segundo a pesquisa. No portfólio dos planos com contribuição definida ou variável, o percentual é ainda maior: 77,7%.

Uma mudança que deve acontecer nessa fatia de renda fixa é a característica dos títulos. Atualmente, 80% dos recursos estão em papéis públicos. Nos próximos meses, 33,3% dos gestores dos planos de contribuição definida ou variável pretendem reduzir a posição que têm no Tesouro Nacional, e 61,3% querem aumentar as aplicações em crédito privado. “A disposição em aportar em FIDCs [fundos de investimento em direitos creditórios] e títulos privados foi o que mais surpreendeu”, diz Garcia.

O levantamento mostrou que a propensão dos gestores dos fundos não mudou, entretanto, quanto a investimentos estrangeiros. Segundo o estudo, 0,004% dos ativos estão alocados em aplicações no exterior. Somente 12,7% dos gestores de planos de contribuição definida ou variável pretendem aumentar a parcela “offshore” do portfólio. Desse total, 77,3% planejam ter entre 0% e 2% dos recursos alocados em outros países.

Para Garcia, essa modalidade de investimentos merece entrar no radar dos investidores. Ele argumenta que os mercados estrangeiros possuem classes de ativos que não existem no Brasil e que, naturalmente, possuem correlação negativa com as oportunidades no país. “No atual cenário, em que ficou mais difícil conseguir a rentabilidade, a busca por ativos com correlação negativa passa a ser importante.”

O sócio da Itajubá afirma que o cenário de juros mais baixos exige mudança de comportamento de todos os investidores, inclusive dos fundos de pensão. “A migração para ativos novos e rentáveis é difícil, porque eles são escassos. Quem for mais ágil vai conseguir as melhores oportunidades”, afirma Garcia. “O bom ativo não espera.”

Alguns gestores terão de repensar o processo de tomada de decisão sobre seus investimentos, segundo Garcia. Ele explica que há fundos que precisam, por norma, aguardar a próxima reunião do comitê para decidir sobre uma nova aplicação.

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