FSM 2021: pesquisa mostra realidade do teletrabalho bancário

Em painel realizado nesta quinta-feira (28), o movimento bancário apresentou pesquisa nacional que ouviu 8.560 bancários sobre o teletrabalho durante a pandemia

Imagem ilustrativa

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) apresentaram, na tarde desta quinta-feira (29), durante painel do Fórum Social Mundial, os resultados da pesquisa nacional com 8.560 bancários e bancárias de todos os estados da Federação, que estão trabalhando ou já trabalharam em regime de home office.

O tema do painel foi “O teletrabalho e a aceleração das transformações tecnológicas nos bancos”. Dionísio Reis, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo e da Região Sudeste da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), lembrou que o home office na pandemia foi implantado para salvar vidas, mas deve ser muito bem negociado porque é preciso garantir ao empregado o direito à desconexão fora do seu horário de trabalho e as condições necessárias para que ele realize seu trabalho.

Na opinião de Mário Raia, secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, o homeoffice envolve muitas variantes e deve ser objeto de muito regramento para que não prejudique o trabalhador.

Maior pesquisa sobre teletrabalho no Brasil

Os dados da pesquisa foram apresentados pelas técnicas da subseção do Dieese na Contraf-CUT, Bárbara Valejos e Vivian Machado, que coordenaram o trabalho da Rede Bancários Dieese. A pesquisa teve 11.133 respondentes e foi realizada entre 1º e 12 de julho de 2020. Nota-se que a quase totalidade dos participantes (98,8%) foram para o home office por conta da pandemia, sendo que 75,6% dos respondentes estavam totalmente em home office na época.

A técnica do Dieese, Bárbara Valejos, destacou que foi a maior pesquisa sobre teletrabalho no país, e que os dados colhidos foram fundamentais para orientar a atuação do Comando Nacional dos Bancários no sentido de cobrar melhorias dos bancos.

“A pesquisa identificou aspectos importantes no home office da categoria bancária: a inadequação do ambiente doméstico para o teletrabalho; a falta de controle da jornada; dificuldades na organização das rotinas de trabalho; transferências de custos da empresa para o trabalhador; e o aumento de problemas de saúde. Vários dos pontos levantados foram levados em consideração nas negociações do movimento sindical bancário com alguns banco para fechar acordos de teletrabalho e regulamentar esse regime”, disse.

A pesquisa contatou que o home office, embora apresente aceitação elevada entre os(as) bancários(as) – 42% desejam realizar regime misto entre presencial e home office após a pandemia – traz sinais de adoecimento na categoria bancária, com intensificação de sintomas e criação de novas formas de sofrimento.

Inadequação do ambiente de trabalho

Dos entrevistados, 44,8% trabalhavam na sala, o que aponta para inadequação do ambiente para o trabalho; e 45% responderam que as questões de ergonomia eram ruins ou muito ruins, o que aponta a inadequação do mobiliário. Sendo que 32,5% dos trabalhadores responderam que o banco não se responsabilizou por fornecer nenhum equipamento de trabalho; e para 50,8%, os banco forneceram apenas o computador. Os bancos forneceram cadeiras adequadas apenas para 16,4% dos respondentes.

Os participantes também foram perguntados se havia canal específico para resolver problemas e questões relativas ao home office, e a maioria (51,7%) respondeu que não havia ou que não sabia. Para a pesquisadora do Dieese, isso mostra que mais da metade teve de resolver sozinho os problemas enfrentando no teletrabalho, o que provavelmente gerou sofrimento psíquico.

Jornada maior

A jornada de trabalho aumentou para 35,6% dos respondentes (para 22% deles aumentou “um pouco” e para 13,5% aumentou “muito”), ou seja, um percentual considerável de bancários e bancárias em home office estava trabalhando além de seu horário normal.

Mesmo que 50,7% tenham respondido que estavam trabalhando com registro de pontos eletrônico, para 32,3% deles não havia qualquer controle da jornada.

A pesquisa também mostrou que 25,9% não estavam recebendo horas extras, nem realizando banco de horas; 11% estavam recebendo hora extra; 15,6% estavam fazendo banco de horas; e 46,6% não estavam trabalhando além da jornada.

Impactos na saúde

Um ponto importante na pesquisa foi o que avaliou os impactos na saúde dos trabalhadores que estavam em home office. Para todos os sintomas e problemas de saúde listados na pesquisa, foi apontado intensificação desde que o trabalho passou a ser feito de casa. Entre eles, o medo de ser esquecido pelo banco (2% apenas diziam sentir isso antes do home office, enquanto que com o home office, esse percentual aumentou para 27%).

Desmotivação foi outro problema que se intensificou com o teletrabalho: 8% diziam ter antes do home office, e 14% passaram a ter no home office. Ansiedade foi apontada por 8% antes do home office, enquanto que no home office ela foi apontada por 14%. Dificuldades de dormir eram 6% antes e passou a 15% com o home office.

Para a pesquisadora do Dieese, isso mostra que o teletrabalho estava adoecendo mais a categoria.

O que fazer para melhorar

A pesquisa indagou os participantes sobre o que poderia ser feito para melhorar o teletrabalho, e um percentual alto (68,1%) respondeu que seria o fornecimento, pelo banco, de melhores equipamentos para o trabalho. Questão que foi contemplada em todos os acordos de teletrabalho fechados.

Sem retirada de direitos

Para a maioria dos trabalhadores (77,65%) não houve retirada de direitos. Um percentual menor (18,82%) respondeu que a única retirada foi de vale-transporte ou gasolina. A pesquisadora do Dieese destacou que esse aspecto positivo se deveu à vigilância e fiscalização dos sindicatos de bancários.

Gastos no home office

Outro dado apontado foi o aumento de gastos com supermercado (para 72% dos participantes), energia elétrica (para 78,6% deles), internet e gás.

Por outro lado, os bancos economizaram com o home office da categoria. Segundo levantamento do Dieese, com base em dados de alguns dos maiores bancos (com exceção do Bradesco), foi de pelo menos R$ 534 milhões.

Mais difícil para mulheres e para quem tem filhos em idade escolar

A pesquisa mostrou ainda que as mulheres são as que tiveram mais dificuldade em conciliar o home office com os afazeres domésticos, e para elas o trabalho em casa interferiu mais nas relações pessoais com os outros moradores.

A pesquisa mostrou também que para os trabalhadores com filhos em idade escolar o home office foi mais complicado.

Acordos são melhores que a legislação trabalhista

Dionísio Reis destacou que os acordos de teletrabalho fechados com alguns dos maiores bancos são mais vantajosos que a nova legislação trabalhista, que entrou em vigor em novembro de 2017 e que flexibilizou uma série de direitos. “Os acordos de teletrabalho garantem direitos para a categoria que não estão previstos na lei. São mais uma demonstração da capacidade de mobilização e da força dos bancários, uma categoria que está organizada nacionalmente.”

Avanço dos canais digitais e desemprego

A técnica do Dieese, Vívian Machado, apresentou números que mostram o alto investimento em tecnologia pelos bancos e o crescimento do uso de canais digitais pelos clientes, um comportamento muitas vezes forçado pelos bancos, que vêm fechando agências físicas.

“Os bancos brasileiros investem em média R$ 20 bilhões em tecnologia por ano. É o segundo setor que mais investe no mundo e no Brasil, perdendo apenas para o setor governamental”, informou.

As transações via canais digitais, como celulares, cresceram ainda mais durante a pandemia. “Foram 74% em abril, um crescimento de 10 pontos percentuais na comparação com janeiro”, destacou.

Ela ressalta que isso resulta em menor custo para os bancos, mas não reflete em tarifas menores para os clientes. “Se o bancos tem um custo de 100% numa operação feita em agência, essa custo cai para 3% numa transação via celular.”

Mas o uso da tecnologia não reduziu os valores cobrados aos clientes, obrigando-os a fazer todo o trabalho, e ainda resultou em fechamento de agências e desemprego bancário. “Desde 2013 foram mais de 80 mil postos de trabalho bancário extintos, e de 2014 a 2020, já foram fechadas 4.442 agências físicas em todo o país.”

Assista o painel completo

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